O Eu é apenas ilusão da mente

Por Ajahn Suchart Abhijāto

"Você deve contemplar a característica da impermanência (anicca) o tempo inteiro. Diga a si mesmo que tudo o que você tiver não durará. Uma vez sabendo disso, estará preparado para encarar a eventual mudança das coisas de um estado bom para um estado ruim. Você não será emocionalmente afetado. Sentirá como se nada tivesse acontecido porque sabia desde o princípio que isso poderia ocorrer. Tudo ao seu redor, incluindo seu corpo, não é estável, está em constante transformação. 
Você não sabe quando ficará doente. Mas se estiver preparado para ficar doente, não se sentirá fragilizado. Você tomará um remédio ou se consultará com um médico e só. Ficando bom ou não, não lhe importará. Você dirá a si próprio: é assim mesmo. Sua mente nao se afetará pela doença de corpo.
A segunda característica é Dukkha é o sofrimento. Qualquer coisa que você tenha, um dia poderá lhe machucar. Por exemplo, suponha que você é solteiro(a) e acha que tendo uma namorada ou namorado lhe fará feliz. Mas não é o caso. Pois após o casamento, vocês inevitavelmente irão brigar e se entristecer. Tudo é desse jeito. Um(a) parceiro(a) lhe fará ficar triste mais cedo ou mais tarde. Não lhe deixam feliz o tempo todo. Há dois lado da moeda - não apenas o lado bom, mas também o lado ruim. 
O Buda nos ensinou a olhar também para o outro lado da história. Quando você se adianta para o que vai acontecer, sua mente muda. Você opta por permanecer solteiro(a) quando percebe que a tristeza supera a alegria.
A terceira característica é anattā, ou não-Eu. Não há um Eu em nada. Tudo é desprovido de um Eu, como este buquê de flores, esta cabana ou mesmo seu corpo. O Buda dizia que isso é apenas a aglomeração dos quatro elementos: sólido, líquido, gás e calor. Em outras palavras: terra, água, ar e fogo. Seu corpo vem da comida que você come, que por sua vez vem dos quatro elementos. Todos são elementos: dióxido de carbono, oxigênio, hidrogênio e etc. Não há um Eu no corpo. Se você o dissecar, não achará nenhum Eu neste corpo. É a delusão da mente que cria a percepção de um Eu neste corpo. Este corpo é "Eu". "Eu" sou este corpo. Este corpo é "meu Eu." O Buda dizia que isso não é verdadeiro, que isso é delusão. A verdade é que não há um "Eu." 
Para ver esta verdade, você tem que meditar até a mente alcançar a paz, em plena concentração. Quando isso ocorrer, a mente e o corpo se separarão temporariamente. A sensação da existência de um corpo desaparecerá da mente. Nesse tempo, há apenas a mente em sí - o conhecedor está lá, mas não há nada para ser conhecido. Agora mesmo você tem seu corpo na sua atenção. Mas quando medita até que a mente entre em plena concentração, ela será cortada das portas dos sentidos, como olhos, ouvidos, nariz, língua e corpo, e de seus objetos, visão, olfato, paladar e tato.  
Você verá então que sua existência é composta de duas partes: a parte física que é o corpo, e a parte mental que é a mente. A parte física é impermanente, enquanto a parte mental é permanente. 
Um dia o corpo irá se dissolver, retornando para onde veio. O elemento água retornará para o elemento água. O elemento vento retornará para o elemento vento. O elemento fogo retornará para o elemento fogo. O elemento terra retornará para o elemento terra. A mente irá para uma nova existência impulsdionada pelos três objetos de desejo, chamado de desejo por prazeres sensuais, desejo por ser/existir e desejo por não ser/não-existir.
Mas se a mente percebe que renascer novamente é dolorido e infeliz, ela irá se esforçar para acabar com os três desejos e assim impedir que renasça novamente. Ao fazer isso, ela não aniquila a sí própria porque a mente é indestrutível. Ela é um dos seis elementos básicos do universo, também chamada de o elemento conhecedor. Os outros cinco elementos são terra, água, ar, fogo e espaço. Todos os seres sencientes são feitos dessses seis elementos, enquanto todos os objetos inanimados são feitos de até cinco elementos apenas, excetuando o elemento conhecedor.
A culpada aqui é a nossa delusão que impede a mente de ver as três características: impermanência, dukkha ou sofrimento, e anattā ou não-Eu, fazendo com que ela se agarre e se apegue a tudo com o que venha a fazer contato.
O que quer que tenhamos, nós nos agarramos a isso e desejamos que dura para sempre. Mas nada dura para sempre. Quando nos abandona ou se modifica, ficamos tristes. Enquanto ainda está conosco, nos preocupamos, pensando em quando irá nos deixar. O Buda, portanto, nos ensinou a olhar para estas três características. Uma vez que estejamos prontos para vê-las, iremos abandonar o apego. Então o que quer que acontece, não nso causará nenhuma dor. Estaremos sempre calmos, em paz com tudo, independente do que aconteça. 
Este é o objetivo do Budismo, que é ensinar a mente a abrir mão de tudo, não se agarrar a nada, saber que nada dura para sempre, que tudo não é exatamente bom para nós e realmente não nos pode alegrar. As coisas não nos pertencem. Elas não são nós. Elas não têm um Eu. O Eu é apenas uma delusão da mente. Quando percebemos isso, abandonamos tudo. Viveremos em paz. Nós podemos viver sem isso. Mas precisamos cumprir estes três estágios da prática, chamados: caridade, moralidade e desenvolvimento mental. 
Seja caridoso. Não guarde o que não precisa. Tenha apenas o que você precisa para sua existência, como os quatro requisitos da vida: comida, abrigo, roupa e remédios. Qualquer coisa além disso é considerado supérfluo. Quanto mais coisas você tiver, mais problemas, preocupações e estresse mental você terá.  Viva com simplicidade; tenha o menos possível. Não busque a felicidade que surge ao ganhar dinheiro e coisas materiais. Em vez disso, busque a felicidade que vem do abandono ao dinheiro e posses, porque esta é a verdadeira felicidade, sem nenhuma ansiedade ou estresse. 
Viva uma vida com moralidade. Evite fazer algo que machuque outras pessoas e assim em retorno, fazer com que elas lhe firam e o façam ficar preocupado e com medo. Pratique meditação. Controle sua mente para que ela sempre permaneça calma e sem se preocupar com nada dizendo para sí que não há nada com o que se preocupar porque o que tiver que acontecer, acontecerá. Você não pode se agarrar a nada. Você não pode ter tudo sempre do seu jeito. Se puder sempre fazer isso, terá controle da sua mente e das suas emoções. Este é basicamente o núcleo do ensino do Buda..."
  

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