A forma de eliminar o desejo, a kilesa associada a comida

Por Ajahn Suchart 


O Buda nos ensinou a praticar o tempo todo, exceto quando vamos dormir. Ele estabeleceu um horário para os monges: das 18h às 22h praticamos samādhi e sabedoria, em meditação sentada ou andando; das 22h às 2h, vamos descansar, dormir; nos levantamos às 2 da manhã e até às 6 fazemos novamente meditação sentada ou andando até a hora de ir em piṇḍapāta, para coletar comida.
Enquanto seguimos em nosso piṇḍapāta, ainda podemos praticar, podemos manter a atenção plena ou podemos contemplar a natureza impermanente de tudo que nos cerca. Tudo é impermanente. Podemos também contemplar a natureza do corpo enquanto fazemos o piṇḍapāta. Quando voltamos ao monastério, vamos à sālā para comer nossa comida. Continuamos com nossa atenção plena ou contemplação.
Antes de comer, devemos contemplar o aspecto repulsivo da comida porque não queremos comer com o desejo de comer. Queremos comer como se toma um remédio. Para comer como tomar remédio, devemos colocar todos os alimentos juntos em uma tigela e misturá-los, porque eventualmente a comida será misturada no estômago de qualquer maneira. Isso é para se livrar do nosso desejo por comida.
Já que toda a comida que comemos será misturada no estômago, devemos misturá-la antes de entrar no estômago. Nós misturamos na tigela, colocamos na tigela tudo o que vamos colocar em nosso estômago, misturamos tudo e comemos. Se comermos dessa maneira, então não comeremos com o desejo de desfrutar, ter prazer de comer, mas comemos como se estivéssemos tomando remédio. Nós comemos apenas para cuidar do corpo. Isso é algo que você precisa fazer se tiver problemas com a alimentação.
Se você escolher esse ou aquele tipo de comida, significa que você ainda está iludido. Você ainda não vê o propósito de comer. O propósito de comer é apenas para manter seu corpo, como tomar um remédio. Você não se importa com o tamanho ou o formato do medicamento que vai ingerir, apenas toma quando o médico lhe receitar o medicamento. É da mesma maneira com comida. Devemos encará-lo como remédio, não algo para desfrutar, mas algo para manter o corpo, para cuidar do corpo. Se pudermos comer assim, você não terá problemas com a alimentação. Você pode comer qualquer tipo de comida.
Enquanto estiver comendo, você também tem que ter atenção plena, a cada mordida, com toda comida que você engole. Você deve ter atenção plena. Não pense sobre isso ou aquilo. Nós não devemos apreciar a comida.
Se você estiver gostando da comida, imagine se você cuspir, para ver a natureza da comida que você está apreciando e engolindo. Você pode até mesmo de fato cuspir a comida e colocá-la em sua tigela e ver se pode colocá-la novamente em sua boca. Isso é para dissipar sua ilusão de apreciar comida. Quando você realmente olha para a comida que gosta tanto, não irá querer mais comê-la.
É assim que devemos praticar como um monge. Nós não devemos comer por diversão. Devemos comer apenas com o propósito de manter o corpo. Essa é a prática. Este é o caminho para eliminar o desejo, as kilesas que estão associadas com comida ou com comer. Depois que terminamos de comer, limpamos o lugar onde comemos, limpamos nossa tigela, depois voltamos para nossas moradias para continuar com nossa prática até a tarde, quando temos que varrer o chão do templo e tomar um refresco.
Depois disso tomamos banho e, quando terminamos, é hora de praticar novamente até a hora de ir dormir. Esta é a programação de um monge praticante. Ele não faz nenhum outro trabalho, se ele puder evitar. Ocasionalmente, podemos ter que fazer algum outro trabalho, mas esse outro trabalho não deve ser considerado como o principal trabalho.
Nosso trabalho principal é meditar, desenvolver atenção plena, desenvolver samādhi e desenvolver sabedoria. Precisamos deste Dhamma para eliminar todos os nossos desejos. Nós não queremos ter dukkha ou tristeza ou sofrimento, na mente. A causa de nosso sofrimento são as kilesas ou nossos desejos e eles só podem ser eliminados usando sati, samādhi e paññā [atenção plena, concentração e sabedoria].
Então, esta é a vida de um monge que eu ilustrei para você o máximo que pude”.

"Cingapura via skype - palestras dadas aos monges, 9 de agosto de 2015."

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