O que é Budismo

 Uma transcrição da palestra de Ajahn Mudito proferida no dia 16/6/2017. 

O Budismo é uma coisa, um fenômeno que não se encaixa muito em qualquer conceito da sociedade, quer seja da sociedade atual ou mesmo da sociedade antiga. Ele sempre foi uma coisa que as pessoas não sabiam onde encaixar, mas na verdade é uma coisa bastante simples, o Buda foi uma pessoa que trabalhou para conquistar essa realização, a Iluminação, essa realização de quebrar o ciclo de nascimento e morte e alcançar a Iluminação, Nirvana, e ele então ensinou não só técnicas de como exatamente fazer isso mas também de como melhorar a si. Para realizar essa tarefa precisa de certas qualidades, de certas capacidades que uma pessoa normal não possui, então ele ensinou um monte de recursos, um monte de exercícios, um monte de suportes para que as pessoas pudessem então melhorar a si mesmo, desenvolver a si mesmo, e então também alcançar essa mesma Iluminação que ele realizou.

Então, afinal de contas, o Budismo é apenas uma técnica para alcançar a Iluminação. Não é uma religião, não é uma filosofia de vida, não é uma técnica de meditação. O fundamento dele, o núcleo dele é que as pessoas pratiquem e alcancem a Iluminação, é esse o propósito.

O propósito do Budismo não é salvar o mundo, o propósito do Budismo não é consertar o mundo, o propósito do Budismo não é deixar o mundo perfeito, não é fazer os problemas do mundo desaparecerem, mas se as pessoas de fato praticassem e agissem como ele recomendou que agissem e desenvolvessem as qualidades que o Buda recomendo desenvolver, que as pessoas abandonassem as qualidades que o Buda recomendou abandonar, é de se esperar que o mundo fosse um local muito pacífico, muito tranquilo, haveria muito bem-estar e ia ser um local realmente muito agradável de se viver. Ainda assim não ia ser perfeito, mas ia ser bem melhor do que é hoje, e a razão pelo qual isso é assim é porque o caminho que o Buda ensinava passava pela bondade. 

Bondade não é o ponto final, não é o ponto final desse veículo, mas ele passa por lá, a Iluminação está logo após a bondade, mas para conseguir chegar ali você tem que passar por ela antes. 

O Buda elogiava muito as pessoas a desenvolverem bondade, coisas que em geral identificadas, associadas pelas pessoas com esse esse conceito chamado bondade. 

Nisso o Budismo é semelhante a muitas religiões, ensinar as pessoas a ter bondade. Só que essa bondade não é um fim em si mesma, é apenas uma etapa, um estágio do processo, um estágio obrigatório. Ele não ensinou outro caminho que não passasse por isso.

E outra coisa diferente do Budismo em relação a religiões normais é que o próprio Buda não se põe como deus ou como salvador. Ele apenas diz: “Olha, eu fiz isso aqui, se vocês quiserem fazer igual o caminho é esse. Só isso. O resto é com vocês.” Quem quiser pratica, pratica, ninguém tem a obrigação de praticar, ninguém tem a obrigação de alcançar a Iluminação, ninguém tem o dever de ser budista, então cada um, quem quiser vá.

Porque também da forma que o Buda ensinou não tem como alguém salvar você, o trabalho é seu, então não adianta também querer arrastar as pessoas, porque se as pessoas não se decidirem a realizar este trabalho também é um negócio que não dá certo, não chega a lugar algum.

Obrigando, as pessoas chegam a um nível bem básico de bondade, mas não chega nem sequer a um nível alto de bondade. Você não alcança obrigando as pessoas. No máximo o que você consegue fazer é manter um nível relativamente baixo de bondade, mas ainda assim é bondade. Mas se as pessoas conseguirem um nível médio ou alto de bondade, e conseguirem atravessar isso e alcançarem a Iluminação, aí não tem como você tentar arrastar as pessoas. Ou elas decidem ou elas enxergam o propósito e tem real insight a respeito, ou então é difícil mesmo acontecer.

Então o Buda mesmo não tentava, ele deixava como dever para os monges, para as pessoas que já conheciam um pouco, transmitir o Darma, mas ao mesmo tempo ele colocava certos poréns, então por exemplo: você não deve ensinar o Darma a quem não está agindo de forma respeitosa, então se a pessoa está agindo de forma desrespeitosa você não pode ensinar o Darma. De acordo com o Buda. Pelo menos ele proibiu os monges de fazerem isso. Você não pode ensinar o Darma para pessoas que não estão agindo de forma respeitosa, você não deve ensinar o Darma para pessoas que estão agindo de forma arrogante, então a pessoa precisa estar disposta a ouvir aquilo antes que você ensine.

Por que não dá resultado, né? Se a pessoa não dá o primeiro passo, isso não dá resultado. E também acho que o Buda enxergava um valor muito grande desse ensinamento, e isso é também uma forma de resguardar, de proteger esse ensinamento para que ele continue efetivo, para resguardar a qualidade dele, resguardar o valor que ele possui, resguardar as qualidades dele, basicamente não tentar cortar pedra com a faca, né? Você resguarda a faca, né? Você corta as coisas que são possíveis de serem cortadas. Você não corta uma pedra porque você vai estragar a faca, e uma vez que essa faca não nos pertence, é uma faca que a gente está usando emprestada do Buda e essa faca também vai ser utilizada por pessoas no futuro, então a gente tem o dever se usar ele de forma sábia, de forma respeitosa, para que ela continue afiada e possa servir para nós e também para as pessoas que vierem no futuro.

Então o Buda não elogiava muito você usar recursos muito baixos para ensinar o Darma ou tentar alcançar o máximo possível de pessoas. Comprometendo assim a qualidade do ensinamento ou mesmo expondo o ensinamento a pessoas que não vão ouvir ou vão ouvir com a intenção de denegrir ou de ridicularizar. Porque isso também pode ser danoso para as pessoas, então quando você ensina uma pessoa que não está pronta a receber aquilo, que ainda não está na hora dela de entender aquilo, ainda precisa passar por experiências, você ensina aquilo pra ela, ela não aceita, não vê propósito, e ela marca, né? Fica uma memória ali  “o ensinamento do Buda é ruim, não presta.” Fica essa memória na cabeça dela e numa ocasião futura, depois de ter ganhando mais experiência, mais maturidade, mais sabedoria, a pessoa às vezes tem mais dificuldade a ouvir o Dharma e a entender o significado do que uma pessoa que nunca ouviu. Porque ela já vai ter uma pré-disposição de que aquilo é ruim, vai ter uma memória dizendo que esse ensinamento é ruim. Então não há necessidade, não há dever de ninguém de tentar convencer ninguém a ser budista ou de aceitar os ensinamentos. A gente ensinar quem quer aprender, quem não quer aprender a gente não ensina, e se ninguém quer aprender então não há porque convencer as pessoas a aprender, isso vem naturalmente.

O Buda também tinha um respeito muito grande pelo Dharma, ele achava que o Dharma era algo que devia ser respeitado, devia ser tido como algo valioso. Na Ásia até hoje em dia ainda tem essa tradição, essa cultura de prestar reverência. Na Tailândia, por exemplo, as crianças prestam reverência aos pais. No dia dos pais ou em ocasiões especiais eles vão lá e prestam reverência como a gente fez agora com relação à imagem do Buda. Então lá eles também prestam reverência aos pais, aos professores, às pessoas dignas de reverência.

Então quando o Buda alcançou a Iluminação, uma das primeiras coisas que vieram à mente dele logo após ele alcançar a Iluminação, ele refletiu sobre alguns assuntos, mas um dos primeiros assuntos que surgiu na mente dele foi “Agora que alcancei a Iluminação e tornei-me um Buda, para quem que eu presto reverência? Porque não é digno de mim viver sem prestar reverência.” Esse é um valor muito forte pra ele. “Não é digno da minha pessoa viver sem prestar reverência. Agora que eu alcancei a Iluminação para quem eu presto reverência?”

E aí ele não conseguia enxergar uma pessoa para quem ele pudesse prestar reverência, porque ele havia alcançar o estado máximo.

Mas ele falou: “Bom, como não é digno de mim viver sem prestar reverência, então vou prestar reverência a essa Dharma para o qual eu despertei, para esse caminho que leva a Iluminação para o qual despertei.” Então mesmo o Buda prestava reverência ao Dharma. Era algo que ele enxergava como muito valioso, muito valioso. Então ele não autorizava, principalmente os monges ensinar o Dharma para as pessoas que não estão tendo a receptividade ou não estão sendo respeitosas, ou não estão sendo humildes, etc.

Não é dever de um budista converter ninguém, Não é dever de um budista espalhar o Dharma. O dever de um budista é praticar e entender claramente os ensinamentos, realizar esses ensinamentos. O dever de um budista é dar vida ao Dharma. Também não é dever de um budista memorizar suttas, memorizar textos. Memorizar textos pode ser uma ferramenta para então praticar esses ensinamentos e dar vida a eles, mas o dever mesmo é dar vida, é você colocar esse ensinamento em prática até você obter resultado.

Então tem dois deveres, na verdade, acho que básicos de um budista. Praticar esses ensinamentos para que eles se tornem reais, não fiquem apenas na teoria. Número dois: não destruir o mecanismo a ferramenta de ensino que o Buda criou, não destruir a doutrina do Buda, não destruir o Dharma.

Porque primeiro, ele não te pertence e segundo, vai ser utilizado por pessoas no futuro, então não destrua, não invente seus próprios ensinamentos.

Quando você for ensinar, tome cuidado para não ir muito longe, não precisa ensinar exatamente o que tá nos textos, ficar preso só naquilo. Você pode botar um pouco da sua própria experiência, pode mostrar sob outros ângulos que não estão expostos no texto oficial, mas deve tomar cuidado para não se distanciar muito do que está ali. Não começar a inventar um Dharma novo que não tá ali, né?

Tem muitas ocasiões em que o Buda fala como ensinar o Dharma e também ele menciona como não ensinar o Dharma. “Não ensine desta forma, assim está errado. Não ensine assim.”

Uma coisa curiosa que ele falava, que a gente ouve muito isso, eu me lembro de um texto em que o Buda falava “Não ensine da seguinte maneira: só existe sofrimento, não há mais nada além de sofrimento, tudo é sofrimento.” A gente ouve muito isso entre budistas, mas se formos olhar nos suttas, não sei, talvez no Saṃyutta Nikāya, se quiserem pesquisar e achar isso aí, mas uma dessas coleções menores do Saṃyutta Nikāya ou Aṅguttara Nikāya, eu lembro claramente ele falando isso “Não ensine dessa forma, não está correto. Não diga não há prazer, só há sofrimento. Existe prazer, é por isso que, graças a existências do prazer que as pessoas ficam presas no saṃsāra. O que acontece é que nesse prazer existe um perigo, e existe o prazer no mundo, só que esse prazer traz um perigo, ele traz uma desvantagem, ele traz um problema.”

Então nesse sentido você pode dizer de uma forma mais ampla, de uma forma teórica, de uma forma filosófica, você pode dizer que, no final das contas, só existe sofrimento, porque mesmo esse tipo de prazer que o mundo oferece leva a mais sofrimento em última instância. Isso funciona em um âmbito mais filosófico, mas na prática não é isso, na prática existe prazer.

Então é importante ter atenção com isso. De fato existe prazer nesse mundo, só que esses prazeres que o mundo oferece levam ao sofrimento e é justamente por serem prazerosos que nos prendem, nos deixam escravizados. Alguns deles levam diretamente ao sofrimento, como o prazer da vaidade, os prazeres sensuais grosseiros como drogas e intoxicantes. Então os prazeres sensuais grosseiros levam rapidamente, diretamente ao sofrimento. Vaidade é algo que rapidamente leva ao sofrimento, vaidade leva rapidamente a ansiedade, ao medo, a preocupação. A vaidade é muito exigente, ela não é uma coisa pacífica, você tem que ficar sustendo aquilo o tempo todo, nunca é o suficiente, igual às drogas.

Agora existe os prazeres sensuais sutis, que não levam imediatamente a sofrimento, levam a bem-estar, levam a boas qualidades. Só que mesmo esses prazeres sensuais mais sutis ainda assim eles não por si só não levam a libertação, por si só eles não levam a transcender o saṃsāra, a liberta-se do ciclo de nascimento e morte.

Eles levam a uma existência mais pacífica e mais tranquila e mais prazerosa dentro desse sistema, mas eles não levam a sair do sistema, então na verdade a gente ensina as pessoas a desenvolverem essas boas qualidades para que elas ganhem energia, para que elas ganhem força espiritual, para que elas ganhem sutileza mental, destreza. Mas as pessoas têm que pegar isso e aplicar de forma correta para quebrar o ciclo de nascimento e morte. Um dos obstáculos é você alcançar um nível muito grande de bem-estar e felicidade e se satisfazer com isso.

Um problema não muito comum, mas comum o suficiente. Se as pessoas realmente estudarem a mente delas, estudarem como é que o mundo funciona, então aprenderem a se por perante o mundo de forma sábia, de forma inteligente, aprender a guiar a mente dela de forma correta, então elas ficam mais inteligentes, mais sábias, mais de bem com a vida, de bem consigo mesmo, de bem com as demais pessoas, ficam felizes e param, e param por aí. Isso ocorre bastante. E qual é o problema disso? O problema disso é que você continua exposto ao que se chama de existência condicionada.

Mesmo uma existência feliz e tranquila no mundo é condicionada por uma quantidade innumerável de fatores. Por exemplo, a saúde física é um fenômeno impermanente, a sociedade é impermanente, o clima é impermanente. Pode haver secas, enchentes, mudanças que façam a comida faltar, entre outros eventos imprevisíveis. A sociedade também é impermanente e pode enfrentar guerras, guerras civis ou simplesmente o sofrimento normal que observamos na sociedade – mesmo sem ser uma guerra declarada, há sempre violência, temor e ansiedade. Mesmo nas existências mais sutis, como entre os anjos ou brahmas, ainda existe uma forma sutil de sofrimento, mas o mais importante é que todas essas existências estão sujeitas à impermanência. Mesmo as formas de existência mais sutis e prazerosas são impermanentes. Eventualmente, as condições que as sustentam se desfazem, e as pessoas retornam a um estado inferior de existência, experienciando sofrimento, limitações e dificuldades.

O Buda não ensinava que o objetivo final era fazer as pazes com o mundo, o mundo é um estágio para poder quebrar esse ciclo, sair desse saṃsāra.

Mas de novo, como eu disse anteriormente, ninguém tem a obrigação de alcançar a Iluminação. O Buda não ensinava dessa forma.

O Buda dizia “eu sou um professor de mão aberta, eu ensino de forma aberta as pessoas.” Então ele simplesmente ensinava as pessoas e aí você pega o ensinamento e faz o que quiser com ele. A única coisa que ele pedia é “Respeite o ensinamento. Não distorça meu ensinamento. Por bondade às demais pessoas, por compaixão às demais pessoas, não destrua isso aqui, porque isso aqui vai ser útil para as pessoas no futuro.” Então procure não distorcer e não destruir o ensinamento dele.

Mas ele não obrigava ninguém a praticar, a não ser os monges. Os monges ele obrigava a praticar de uma maneira específica. Ele obrigava a praticar e a se comportar de uma maneira bem específica. Mas esse era o treinamento que ele oferecia aos monges. Fazia parte do treinamento dele.

Mas as demais pessoas não, ele ensinava de forma aberta e quem quisesse praticar, pratique, quem não quiser praticar não pratique, quem quiser praticar pra ganhar mais dinheiro como empresário, pra ganhar mais inteligência emocional e ficar mais rico, pratique, quem quiser praticar pra ter uma vida familiar mais feliz, pratique, quem quiser praticar para ter sucesso no esporte, na sua arte, pratique, quem quiser praticar para estimular a criatividade, pratique, quem quiser praticar para resolver problemas psicológicos, dificuldades emocionais, fique à vontade, mas ainda assim é importante resguardar o objetivo final disso. O objetivo final não é apenas fazer as pazes com o mundo. Fazer as pazes com o mundo, viver no mundo é apenas um estágio, é uma das etapas, mas o objetivo mesmo é  quebrar esse ciclo, porque por mais que você faça as pazes com o mundo, o mundo continua virando, continua girando, as condições vão se transformando e cedo ou tarde você vai voltar a estaca zero simplesmente.

A sua própria mente é um fenômeno impermanente, ela não é um fenômeno que se sustenta. Bondade não é um fenômeno permanente, é um fenômeno condicionado, então na medida que as condições estejam presentes para que você seja uma boa pessoa, você vai ser. Quando essas condições se quebrarem, você vai se degenerar novamente. Simplesmente é assim. O lado bom disso é que a maldade também é um fenômeno impermanente, maldade também não se sustenta. A pessoa é mal enquanto as condições para que isso seja presente se manifestem.  Quando essas condições se transformarem, também a pessoa consegue suster aquilo, a pessoa consegue ficar melhor, é algo inevitável. Então esse é um ciclo, um ciclo se sobe e desce mesmo. Preto e branco, dia e noite, bom e mal, vida e morte, sabedoria e ignorância, que é onde roda o saṃsāra.

Então o Buda não ensinava a só a buscar a sabedoria e bem-estar, ele ensinava a buscar a sabedoria e bem-estar e então usar a sabedoria e bem-estar para quebrar esse ciclo, encerrar essa roda.

Por isso eu digo que o que o Budismo realmente é uma ferramenta para alcançar a Iluminação, é isso que é o Budismo. Eu falei antes que é uma técnica, mas não é só uma técnica, na verdade é um conjunto de ferramentas.

É um conjunto de ferramentas. Existem técnicas de meditação, existem práticas devocionais, existem valores que são transmitidos como isso não é bom, ou isso é ruim, isso é feio, isso é  bonito, então existe valores que são ensinados, existem pontos de vista que são ensinados. Enxergue dessa forma, tenha essa opinião, enxergue sobre esse ângulo, também é uma ferramenta que o Buda ensinava. Existem disciplinas, exercícios disciplinares para você desenvolver disciplina. Existia também disciplina como ferramenta para desenvolver qualidades mentais.

Tem disciplina, tem prática devocional, tem linhas de pensamento, tem textos, tem ideias, tem frases, tem exposição de ideias para você pensar a respeito, tem pontos de vista, tem qualidades boas que o Buda elogiava, tem qualidades que o Buda não elogiava, tem técnicas de meditação variadas, um monte de coisa. Tem até estilo de vida. Para algumas pessoas existe o estilo de vida monástico. O Buda criou esse estilo de vida com regras e limitações para que isso sirva também como apoio, como uma ferramenta para quem quer ajudar as pessoas a desenvolver as qualidades necessárias para alcançar a Iluminação. A vida monástica é também mais um recurso, não é algo sagrado, divino, a vida monástica é apenas um negócio normal, é apenas um recurso, um treinamento, uma técnica para desenvolver estas qualidades.

Então o Budismo é esse conjunto de recursos que ajudam as pessoas a alcançar a Iluminação. É isso que é o Budismo. Não é uma filosofia, mas tem filosofia, não é uma técnica, mas tem técnica, não é uma religião, mas tem o aspecto religioso, tem um aspecto devocional também. Não é apenas um conjunto de ética, mas também existe ética ali, não é apenas uma... Sei lá, é um conjunto, né? Em páli chama-se Buddha sasana. A minha tradução livre desse termo é... Não tenho tradução livre, seria um mecanismo, é uma máquina, é um mecanismo que o Buda oferece às pessoas. É um conjunto de ferramentas, diria que é uma caixa de ferramentas, é uma caixa de ferramentas que o Buda deixou para as pessoas. “Olha, quem quiser alcançar a Iluminação tem essas ferramentas aqui. Boa sorte.” E ficou por isso mesmo, o Buda não fica pra trás e leva as pessoas no colo. Ele dá as ferramentas e aponta o caminho. Ele mesmo dizia isso, os Budas só apontam o caminho, só isso, quem caminha são vocês. Os Budas só apontam o caminho.  Então o Buda apontou o caminho e fez mais do que isso, ele criou um monte de ferramentas, criou um monte de mecanismos para nos auxiliar a desenvolver esse caminho. Então agora é conosco, quem quiser praticar, pratique, quem não quiser praticar, fique à vontade. Não há obrigação nenhuma. Só peço quem quiser praticar, dedique-se, porque não é uma tarefa fácil, não é uma coisa corriqueira que se faz, é algo que requer dedicação, esforço, requer seriedade, e também peço que não denigram o invento do Buda. Se você não conseguiu praticar, não saia por aí dizendo “Ah, o ensinamento do Buda não funciona.”, diga por aí “É, eu não consegui.”, é diferente. Entre o ensinamento do Buda não funcionar e eu não conseguir são coisas diferentes. Procure não denegrir o ensinamento do Buda porque é algo importante, é algo raro, é algo precioso pra muita gente mesmo, não só para nós como também para muita gente no passado, é para nós aqui no presente e vai ser para muita gente no futuro também, então é importante proteger esse ensinamento, proteger ele, tentar não distorce-lo, mantendo-o mais fiel possível para que mais pessoas possam fazer uso dele. 


O link para quem desejar assistir ao vídeo da palestra:  O que é o Budismo.













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