Criar méritos


Nas várias escolas budistas, muito se fala de criar méritos, cultivar méritos, acumular méritos... Enfim, engajar-se em ações meritórias. Mas o que isso quer dizer? O Buda explicava:

"Esta é outra maneira de se falar sobre o que é venturoso, bem-quisto, deleitoso, admirável e belo: ações meritórias" (Iti 22).

O que é e para quê serve? 


A expressão "Ação Meritória", puṇya em sânscrito e puñña em pali, pode ser traduzida como "aquilo que é bom, justo, agradável, auspicioso, benéfico, puro, apropriado". Em chinês, Gōng dé (功德), pode ser lido também como "ação virtuosa e poder auspicioso". Assim, quando falamos de "mérito" nos referimos a uma energia positiva e saudável, que é gerada mesmo nas mais pequenas ações e intenções benfazejas. Essa boa energia ampara a prática espiritual, nutre nossas virtudes e qualidades, e impulsiona na realização de todas nossas aspirações.
O Buda compara os méritos com parentes que nos amparam e protegem, com uma reserva de tesouros que sempre nos acompanha, ou com nossa própria sombra que não nos abandona. Segundo a lei de causa e efeito, essa força positiva sempre atrai algo da mesma qualidade. Cultivando méritos, todas as realizações - mundanas e espirituais - têm por onde surgir, têm um alicerce seguro.

Diferente de outras tradições 


Aqui, o uso do termo difere de outras tradições religiosas e seculares. No budismo, não usamos "mérito" para dizer que alguém seja tão excelente, esforçado e destacado que conquiste tudo sozinho e por conta própria. O Buda também falava da interdependência e da gratidão: já que tudo advém do encontro de múltiplas causas e condições, tudo o que possuímos só é possível na dependência de outros fatores (a ajuda dos pais, professores e amigos; o incentivo de inimigos e adversidades; o suporte da sociedade, da natureza, etc.)
Assim, não se usa o termo "mérito" para promover o individualismo, ou para qualificar pessoas como louváveis ou não, merecedoras definitivas de algo ou não. Antes, falamos de "mérito" para lembrar que algumas ações são dignas, benfazejas, e MERECEM ser praticadas. Quando praticadas, ações meritórias dão suporte a tudo o que há de positivo.

Praticando

No Itivuttaka, o Buda descreve três maneiras gerais de se cultivar méritos:

1. Agir com Generosidade (dāna): 
Doar recursos, amparo e instrução; ajudar pessoas e animais; oferecer respeitoso suporte aos pais, professores, mestres espirituais, e assim por diante.

2. Viver com Virtude (śīla):
Seguir os preceitos básicos, abandonando feitos nocivos; adotar cada vez mais uma conduta compassiva e harmoniosa, ética e reverente que beneficia a todos.

3. Cultivar a Mente (bhāvanā): 
Cultivar uma mente gentil e amistosa, repleta de intenções positivas e bondade amorosa para com todos os seres.








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