Suttas inéditos do Samyutta Nikaya em português - Parte dois

Finalizando a postagem dos suttas traduzidos pelo Luciano Tadeu.
 
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SN I.21 Satti Sutta – A lança: Deveríamos ter sati (atenção plena) como se estivéssemos atravessados por uma lança.

O Abençoado estava em Savatthi... Estando em um lugar adequado, um deva (devata) falou em verso desta maneira na presença do Abençoado:
Assim como alguém transpassado por uma lança,
ou como alguém cuja cabeça está ardendo (ardendo em chamas, pegando fogo),
assim mesmo um monge leva uma vida com sati (atenção plena)  
para abandonar os apegos sensoriais (Kāmarāga).
[ Abençoado:]
Assim como alguém transpassado por uma lança,
ou como alguém cuja cabeça está ardendo,
assim mesmo um monge leva uma vida com sati
para abandonar a ilusão de si mesmo (Sakkāyadiṭṭhi).

Obs: Peço desculpas por possíveis erros ou deficiências na tradução, se tiverem qualquer correção ou sugestão para melhorar a tradução, por favor, entrem em contato pelo email: lukianotadeu@yahoo.com.br.

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SN I.22 Phusati Sutta – Ser tocado: Fazer o mal a um inocente (“tocar”) é como atirar pó contra o vento (“ser tocado”).
O que não adquire, não colhe,
O que adquire, colhe,
Portanto, o que faz mal a um homem inocente,
Colhe, o que adquire [1].
Se alguém faz mal a um homem inocente,
A uma pessoa pura e irrepreensível,
A maldade seguirá a esse tolo,
Como um fino pó atirado contra o vento.



NOTA:
[1] Estes versos, que no original pali (Nāphusanta phusati ca, phusantañca tato phuse; Tasmā phusanta phusati, appaduṭṭhapadosina’’nti.) parecem uma charada, segundo Bhikkhu Bodhi (357-358) jogam com duas conotações da palavra phusati (tocar, adquirir, alcançar): (1) adquirir um kamma particular, neste caso, um mal kamma grave consistindo em fazer o mal a uma pessoa inocente, e (2) colher o resultado deste kamma quando o mesmo chegar a amadurecer. Por esta razão, traduzimos phusati, como “adquirir” e “colher”, respectivamente.
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SN I.24 Manonivarana Sutta – Restringindo a mente:  Do que temos que restringir a mente?

[Deva (devata)]
Deve-se restringir a mente de qualquer atividade
Nenhum sofrimento alcançaria esta pessoa de nenhuma atividade.
Aquele que restringe sua mente de todas as atividades
Está livre de sofrimento.
[Bem-Aventurado]
A mente não deverá ser restringida de nenhuma atividade.
Uma mente bem dirigida não deve ser restringida.
No entanto, a mente deve ser restringida de toda ação
Que faça surgir o prejudicial.
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SN I.26 Pajjota Sutta – luz

Quantas coisas iluminam o mundo, tornando- o claro e evidente?
Para fazer esta pergunta: Senhor, nós viemos. Para aprender a tua palavra estamos aqui de bom grado.
[Abençoado]
Quatro coisas dão luz para o mundo, uma quinta não vamos encontrar.
De dia o sol brilha ocasionalmente; a noite a lua faz brilhar o céu.
E o fogo dá luz durante o dia e a noite, brilhando ora aqui, ora ali.
Mas de todas as coisas que iluminam o Buddha é o melhor: Ele é a insuperável luz (1)
Nota:
1 - Luz, ou seja, do insight, entusiasmo (piti), confiança (passada) e de seus ensinamentos.
Fonte: O Samyutta Nikaya que baixei aqui: http://obo.genaud.net/backmatter/indexes/idx_downloads.htm#pts_pdfs, o texto em inglês que está embaixo é a tradução do Bhikkhu Bodhi que generosamente um amigo me enviou. Aproveito para dizer um muito obrigado para ele pois o termino dá tradução só foi possível por causa da sua ajuda.

How many things light up the world, making it clear and plain?
To ask this question, Sir, we’ve come. Thy word to learn we’re fain.
[The Exalted One:-]
Four things give light unto the world; a fifth ye’ll not descry.
By day the sun doth shine; by night the moon makes bright the sky.
And fire gives light by day and night, shining now here, now there.
But, of all things that shine, as best, light of a Buddha stands confessed (1),
Glory without compare.
1 - The light, namely, of insight, of enthusiasm (piti), of trust (pasada), and of his teaching.

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Sn I.27 Sara Sutta – Correnteza

(Devata)
“Onde a correnteza volta?
Onde a roda não gira mais?
Onde mentalidade e materialidade (nama-rupa) cessam.
Param sem deixar vestígios?”
(Buddha)
“Onde agua, terra, fogo, e ar,
Não ganham suporte (ou apoio):
Ali a correnteza volta,
Ali a roda não gira mais;
Ali a mentalidade e materialidade cessam,
Param sem deixar vestígios.” 

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SN I.28 Mahaddhanā Sutta - Aqueles com grande riqueza

(Devata)
"Aqueles com grande riqueza e propriedades,
Mesmo Khattiyas que governam o país,
Olham para os outro com olhos gananciosos,
Insaciáveis em prazeres sensuais.
Estes que se tornaram tão ávidos,
Fluem ao longo da correnteza da existência,
Quem aqui abandonou o desejo (tanha)?
Quem no mundonão é mais ávido? "

(Buddha)
"Deixaram seus lares e saíram,
Deixaram seus filhos queridos e os seus rebanhos,
Deixaram para trás luxúria (inglês: lust, pali
rāgañca) e aversão (inglês: hatred, pali: dosañca),
Expurgaram a ignorância (pali:
avijjañca) -
Os arahants com as impurezas (
āsavā) destruídas
São aqueles no mundo que não são mais ávidos. "

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SN I.29 Catucakka Sutta - Quatro Rodas

(Devata)

Tendo quatro rodas e nove portas (1),
Preenchido e limitado pela cobiça (lobha),
Nascido de um pântano, Oh! Grande herói!
Como escapar disso? "

(Buddha)

"Tendo cortado a correia e a presilha,
Tendo cortado o desejo maligno (
icchā) e a cobiça (lobha),
Tendo retirado o desejo (tanha) com a sua raiz:
Assim alguém escapa disso. "
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1-      Acredito que está se referindo ao corpo humano, nove portas: Acho que é uma referência as aberturas do corpo humano, elas permitem que coisas entrem no corpo ou saiam do corpo, seriam: as aberturas dos dois olhos, dos dois ouvidos, da boca, das narinas, anus, da vagina ou do pênis. Quatro rodas talvez seriam os dois braços e duas pernas.
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SN I. 30 Eṇijaṅgha Sutta - Bezerros de Antílope 

(Devata)
"Tendo se aproximado de você, fazemos uma pergunta
Do herói esbelto com bezerros de antílope,
Com poucos desejos, subsistindo com pouca comida,
Vagando sozinho como um leão ou naga,
Sem preocupação com os prazeres sensuais:
Como alguém é libertado do sofrimento? "

(Buddha)
"Cinco elementos do prazer sensual no mundo,
Com a mente declarada ser o sexto:
Tendo expurgado o desejo (chanda) por isso,
Assim alguém é libertado do sofrimento. "
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SN I.31 Sabbhi Sutta – O virtuoso: A importância de asociar-se exclusivamente com amigos virtuosos.

Assim eu ouvi. Em certa ocasião o Bem-aventurado residia no monastério Jetavana de Anathapindika em Savatthi. E no meio da noite, muitos devas (devatas) de beleza sublime, que se tornaram devas compartilhando a doutrina do virtuoso, se aproximaram do Bem-aventurado, iluminando completamente o monastério Jetavana. Prestaram homenagem ao Bem-aventurado e se sentaram em um lugar adequado. Permanecendo assim, um deles falou desta maneira em verso na presença do Bem-aventurado:

Deve-se unir-se somente com os virtuosos;
Deve-se fazer amizade com os virtuosos,
conhecendo os princípios morais dos virtuosos,
torna-se mais nobre, e tem uma base.

Então, outro deva falou em verso na presença do Bem-aventurado:

Deve-se unir-se somente com os virtuosos;
Deve-se fazer amizade com os virtuosos,
conhecendo os princípios morais dos virtuosos,
ganha-se conhecimento deles e não de outros.

Então, outro deva falou em verso na presença do Bem-aventurado:

Deve-se unir-se somente com os virtuosos;
Deve-se fazer amizade com os virtuosos,
conhecendo os princípios morais dos virtuosos,
a pessoa não se aflige em meio as pessoas que se afligem.

Então, outro deva falou em verso na presença do Bem-aventurado:

Deve-se unir-se somente com os virtuosos;
Deve-se fazer amizade com os virtuosos,
conhecendo os princípios morais dos virtuosos,
a pessoa resplandece no meio de seus familiares.

Então, outro deva falou em verso na presença do Bem-aventurado:

Deve-se unir-se somente com os virtuosos;
Deve-se fazer amizade com os virtuosos,
conhecendo os princípios morais dos virtuosos,
os seres obtém renascimentos em lugares afortunados de existência.

Então, outro deva falou em verso na presença do Bem-aventurado:

Deve-se unir-se somente com os virtuosos;
Deve-se fazer amizade com os virtuosos,
conhecendo os princípios morais dos virtuosos,
os seres permanecem em um estado de paz durante muito tempo.
Então outro deva disse ao Bem-aventurado: “Bem-aventurado, que palavras estão bem expressadas?”
“Cada uma destas declarações estão bem expressadas da sua própia maneira. Não obstante, escutem a minha também:
Deve-se unir-se somente com os virtuosos;
Deve-se buscar a orientação dos virtuosos;
conhecendo os princípios morais dos virtuosos,
a pessoa liberta-se de todo sofrimento.
Assim falou o Bem-aventurado. Os devas ficaram encantados. Depois de prestar homenagem e mostrar respeito ao Bem-aventurado, eles desapareceram.
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SN I.33 Sādhu Sutta – Excelente
Em Savatthi. Então, quando a noite tinha avançado, umas devatas da comitiva Satullapa, de deslumbrante beleza, iluminando todo o Bosque de Jeta, se aproximaram do Bem - Aventurado. Tendo se aproximado, elas homenagearam o Bem-Aventurado e ficaram a um lado.

Então, uma devata, de pé a um lado, proferiu esta expressão vocal inspirada na presença do Bem-Aventurado:

"Excelente é doar, Prezado Senhor!

    
"Devido à avareza e negligência
     uma oferenda não é dada.
     Quem sabe, desejando méritos,
     com certeza deve dar oferendas."

Em seguida, outra devata proferiu esta expressão vocal inspirado na presença do Bem-Aventurado:

"Excelente é doar, Prezado Senhor!

    E mais adiante:
    Mesmo quando há pouco, dar é bom.

“Alguns dão do pouco que têm,
outros que são ricos não gostam de dar.
Uma oferenda dada do pouco que se tenha
vale mil vezes o seu valor."

Em seguida, outra devata proferiu esta expressão vocal inspirado na presença do Bem-venturado:

"Excelente é doar, Prezado Senhor!
    Mesmo quando há pouco, dar é bom.
    E mais adiante:
    Quando feito com fé, também, dar é bom.

    " Dar e guerrear são semelhantes, eles dizem:
    Alguns bons conquistam muitos.
    Se alguém com fé dá mesmo um pouco,
    Ele, assim, torna-se feliz no outro mundo. "

Em seguida, outra devata proferiu esta expressão vocal inspirado na presença Bem-Aventurado:

"Excelente é doar, Prezado Senhor !
   Mesmo quando há pouco, dar é bom.
    Quando feito com fé, também, dar é bom.
    E mais adiante:
    A doação que veio de um ganho justo também é boa.

    "Quando ele dá um presente obtido honestamente
    Obtido através do seu esforço e energia,
    Passam além de Vetaraṇi o rio de Yama,
    Esse mortal chega aos estados celestes ".

Em seguida, outra devata proferiu esta expressão vocal inspirado na presença do Bem-Aventurado:

"Excelente é doar, Prezado Senhor!
  Mesmo quando há pouco, dar é bom.
  Quando feito com fé, também, dar é bom.
  A doação que veio de um ganho justo também é boa.
  E mais adiante:
  Dar discriminadamente também é bom.

    "Dar discriminadamente é elogiado pelo Bem-Aventurado -
    Para aqueles dignos de ofertas
    Aqui, no mundo dos vivos.
    O que é dado a eles produz grandes frutos
    Como sementes plantadas em um campo fértil " .

Em seguida, outra devata proferiu esta expressão vocal inspirado na presença do Bem-Aventurado:

"Excelente é doar, Prezado Senhor!
  Mesmo quando há pouco, dar é bom.
  Quando feito com fé, também, dar é bom.
  A doação que veio de um ganho justo também é boa.
  Dar discriminadamente também é bom.
  E mais adiante:
  Contenção em relação aos elaçe:
       Restriçãoal
seres vivos também é bom.

    " Aquele que não prejudica os seres vivos
    Por medo de ser censurado pelos outros.
    ele elogia o tímido, e não o corajoso,
    pelo bom medo não fazem o mal " .

Em seguida, outra devata disse ao Bem-Aventurado: "Quem Bem-Aventurado, falou bem? "

"Vocês todos falaram bem de certa forma. Mas escuta-me também :

    " Dar certamente é elogiado em muitos aspectos,
    Mas o caminho do Dhamma supera doação.
    Pois no passado e desde muito tempo atrás,
    Os excelentes e sábios atingem Nibbana . "
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SN I.34 Nasanti Sutta. Não há
Em certa ocasião, o
Bem-Aventurado estava habitando em Savatthi no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika . Então, quando a noite estava avançada, uma série de devatas pertencentes ao grupo Satullapa, de deslumbrante beleza, iluminando todo o Bosque de Jeta, se aproximaram do Bem-Aventurado. Depois de se aproximarem, elas homenagearam o Bem-Aventurado e ficaram a um lado.

Então, um devatā, de pé ao lado, recitou este verso na presença do
Bem-Aventurado:

    "Entre os seres humanos
    Não há prazeres sensuais permanentes;
    Aqui há somente coisas desejáveis.
    Quando uma pessoa está ligada a estas coisas,
    Negligente em seu meio,
    Do reino da morte , ele não alcança
    O estado que  não retorna mais" .

Outra devatā : "Angústia  nasce do desejo; sofrimento nasce do desejo. Pela remoção do desejo, a angústia é removida; através da remoção da angústia, o sofrimento é removido . "

O
Bem-Aventurado:

    "Elas não são os prazeres sensuais, as coisas atraentes do mundo:
    A sensualidade do homem é a intenção com cobiça.
    As coisas atraentes permanecem como são no mundo
    Mas o sábio remove o desejo por elas.

    "Deve-se descartar a raiva (
Kodhaṃ), abandonar a presunção (mānaṃ),
    Transcender todos os grilhões.
    Nenhum sofrimento atormenta quem não tem nada,
    Quem não aderi a mentalidade e materialidade (
Taṃ nāmarūpasmimasajjamānaṃ).

    " Ele abandonou os cálculos, não assume presunção (
māna);
    Ele cortou aqui o desejo pela mentalidade e materialidade (
Acchecchi taṇhaṃ idha nāmarūpe).
    Embora devas e humanos o procurem
    Aqui e além, nos paraísos ou em todas as moradas,
    Eles não encontram aquele cujo os nós foram cortados,
    Imperturbável , livre de desejo. "

    " Se devas e seres humanos não o veem
    ele, então, está livre aqui ou além",
    disse o Venerável Mogharaja,
     (Perguntou para) O melhor dos homens, que veio para o bem dos seres humanos. Eles devem ser louvados, venerados?"

   
"Esses bhikkhus também tornam-se digno de louvor,
    Mogharaja " , disse o Abençoado,
    " Quem os venera , aqueles assim libertados.
    Conhecendo o Dhamma e abandonando a dúvida,
    Esses bhikkhus se tornar até mesmo livres de nós "

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SN I.36 Saddhā sutta – Fé

Em certa ocasião, o Bem-Aventurado estava habitando em Savatthi no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika. Então, quando a noite tinha avançado, uma série de devatas pertencentes ao grupo Satullapa, de deslumbrante beleza, iluminando todo o Bosque de Jeta, se aproximaram do Bem-Aventurado. Tendo se aproximado, eles homenagearam o Bem-Aventurado e ficaram a um lado.
Então, uma devatā, de pé a um lado, recitou este verso na presença do
Bem-Aventurado:

"A fé é parceira de uma pessoa;
Se a falta de fé não persiste,
Fama e renome, então vem a ela,
E ela vai para o paraíso ao deixar o corpo."

Em seguida, outra devatā recitou estes versos na presença do Bem-Aventurado:
"Deve-se descartar a raiva (Kodhaṃ), abandonar a presunção (mānaṃ),
    Transcender todos os grilhões.
    Nenhum sofrimento atormenta quem não tem nada,
    Quem não aderi a mentalidade e materialidade (
Taṃ nāmarūpasmimasajjamānaṃ).”

Outra devatā:

“Os tolos e ignorantes
se entregam à negligência,
mas os sábios preservam a diligência
como o seu maior tesouro.”

"Não se entregue à negligência!
Não se entregue aos prazeres sensuais!
Porque uma pessoa diligente e absorta nos jhanas
alcança êxtase abundante."

SN I.37 Samaya Sutta - Reunião

Assim ouvi. Em certa ocasião, o Bem-Aventurado estava habitando entre os Sakyas de Kapilavastu na Grande Floresta, juntamente com uma grande Sangha de bhikkhus, com quinhentos bhikkhus que eram todos arahants. E os devatas de dez sistemas mundiais estavam a maioria juntos a fim de ver o Bem-Aventurado e a Sangha dos Bhikkhus. Então o pensamento ocorreu a quatro devatas do grupo dos devatas das Moradas Puras: "Este Abençoado está habitando entre os Sakyas de Kapilavastu na Grande Floresta, juntamente com uma grande Sangha de bhikkhus, com quinhentos bhikkhus todos eles arahants. E os devatas de dez sistemas mundiais estão em sua maioria juntos a fim de ver o Bem-Aventurado e a Sangha dos Bhikkhus. Vamos também abordar o Bem-Aventurado e, em sua presença, cada um fala o seu próprio verso".
Em seguida, com a mesma rapidez que um homem forte pode estender o seu braço flexionado ou flexionar o seu braço estendido, esses devatas desapareceram dentre os devas das Moradas Puras e reapareceram diante do
Bem-Aventurado. Então esses devatas homenagearam o Bem-Aventurado e levantaram para um dos lados. De pé a um lado, um devata recitou este verso na presença do Bem-Aventurado:
"A grande reunião acontece na floresta,
Os grupos estão reunidos.
Viemos para está reunião Dhamma
Para ver a Sangha invencível."
Em seguida, outro devata recitou este verso na presença do
Bem-Aventurado:
"Os bhikkhus lá estão concentrados;
Eles endireitaram suas próprias mentes.
Como um cocheiro que detém as rédeas,
Os sábios guardam suas faculdades."
Em seguida, outro devata recitou este verso na presença do
Bem-Aventurado:
"Tendo cortado a esterilidade, cortado a barra transversal,
Tendo desenraizado o pilar de Indra, impassíveis,
Eles vagam puros e imaculados,
Jovens Nagas bem domesticados por Aquele com Visão".
Em seguida, outro devata recitou este verso na presença do
Bem-Aventurado:
"Aqueles que tomaram o Buddha como refúgio
Não irão para um reino existencial miserável.
Ao deixarem o corpo humano,
Eles irão preencher as hostes dos devas".

SN I.38 Sakalika Suta - A lasca de pedra: Depois de um atentado contra sua vida, o Buda dá um exemplo de como lidar com a dor.

Nota do Ajahn Thanissaro: Cullavagga VII conta como Devadatta, primo do Buda, tentou de várias maneiras e sem sucesso, tirar a liderança da Sangha do Buda. Em Cv VII.3.9, ele tenta matar o Buda lançando uma rocha abaixo de uma montanha. A rocha é esmagada, e assim erra o Buda, mas envia uma farpa que perfura o pé do Buda, tirando sangue. De acordo com o Comentário, esse discurso juntamente com SN IV.13 descrevem a reação do Buda a este atentado contra sua vida.

Assim ouvi que em certa ocasião o Bem-Aventurado estava próximo a Rajagaha no Parque dos veados Maddakucchi. Agora, naquela ocasião o seu pé tinha sido perfurado por uma lasca de pedra. Excruciantes foram as sensações corporais que se desenvolveram dentro de si - dolorosas, violentas, penetrantes, destrutivas, repulsivas, desagradáveis - mas ele aguentou-as com sati (atenção plena) e clara compreensão (sampajañña) e de modo imperturbável. Após dobrar o seu manto exterior em quatro e retirar para fora, deitou-se sobre o lado direito na postura do leão, com um pé colocado em cima do outro, com sati (atenção plena) e clara compreensão (sampajañña).
Em seguida, 700 devatas da comitiva Satullapa, tarde da noite com seu extremo brilho iluminaram todo (parque) Maddakucchi, foram até o Bem-Aventurado. Ao chegarem, depois de cumprimentá-lo, puseram-se a um lado.
Enquanto elas (devatas) estavam ali, uma das devatas exclamou na presença do Bem-Aventurad: "Que naga é Gotama o contemplativo! E como uma naga, tendo surgido sensações corporais  - dolorosas, violentas, penetrantes, destrutivas, repulsivas, desagradáveis - ele aguenta com sati (atenção plena) e clara compreensão (sampajañña) e de modo imperturbável.
Então outra devata exclamou na presença do Bem-Aventurado: "Que leão é Gotama o contemplativo! E como um leão, tendo surgido sensações corporais  - dolorosas, violentas, penetrantes, destrutivas, repulsivas, desagradáveis - ele aguenta com sati (atenção plena) e clara compreensão (sampajañña) e de modo imperturbável.
Então outra devata exclamou na presença do Bem-Aventurado: "Que puro-sangue é Gotama o contemplativo! E como um puro-sangue, tendo surgido sensações corporais  - dolorosas, violentas, penetrantes, destrutivas, repulsivas, desagradáveis - ele aguenta com sati (atenção plena) e clara compreensão (sampajañña) e de modo imperturbável. 
Então outra devata exclamou na presença do Bem-Aventurado: "Que inigualável touro é Gotama o contemplativo! E como um inigualável touro, tendo surgido sensações corporais  - dolorosas, violentas, penetrantes, destrutivas, repulsivas, desagradáveis - ele aguenta com sati (atenção plena) e clara compreensão (sampajañña) e de modo imperturbável.
Então outra devata exclamou na presença do Bem-Aventurado: "Que robusto animal de carga (1) é Gotama o contemplativo! E como um robusto animal de carga, tendo surgido sensações corporais  - dolorosas, violentas, penetrantes, destrutivas, repulsivas, desagradáveis - ele aguenta com sati (atenção plena) e clara compreensão (sampajañña) e de modo imperturbável.
Então outra devata exclamou na presença do Bem-Aventurado: "Que domesticado é Gotama o contemplativo! E como um domesticado, tendo surgido sensações corporais  - dolorosas, violentas, penetrantes, destrutivas, repulsivas, desagradáveis - ele aguenta com sati (atenção plena) e clara compreensão (sampajañña) e de modo imperturbável.
Então outra devata exclamou na presença do Bem-Aventurado: Vejam a concentração bem desenvolvida (2), uma mente bem liberta (3) - nem muito pressionada ou forçada (4), nem a fabricação mental bloqueada ou suprimida (5). Quem poderia pensar que tal naga humana, leão humano, puro-sangue humano, inigualável touro humano, robusto animal de carga humano, um homem tão domesticado deveria ser agredido: o que mais é isso se não cegueira? "

           
            Brâmanes dos Cinco-Védas (6),
            vivendo austeridades
            por 100 anos:
                        Suas mentes
                        não estão corretamente libertas (7)
                        de natureza inferior (8)
                        não foram além.

            Subjugados pelo desejo (taṇhādhipannā),
            apegados a preceitos e rituais (vatasīlabaddhā)
            realizando austeridades miseráveis
            por 100 anos:
                        Suas mentes
                        não estão corretamente libertas
                        de natureza inferior
                        não foram além.

            Para alguém afeiçoado a presunção (māna),
                        não há domesticação;
            para alguém sem concentração (asamāhitassa),
                        não há sagacidade.
            Ainda que sozinho na floresta (em inglês heedlessly),
            ele vive negligentemente,
            ele não vai cruzar, além da influência de Mara.

            Mas tendo abandonado a presunção,
            bem centrado interiormente,
            com a consciência correta (right awareness)
                        em toda parte
                                    totalmente liberada,
            sozinho na floresta,
            vivendo diligentemente,
            ele vai atravessar, além da influência de Mara.
           
____________________________________________

Veja também : SN IV.13; SN XXXVI.6; AN V.129.

Nota:

1 - Eu não sabia como traduzir o termo inglês "burden-carrier", acabei traduzindo como animal de carga.
2- Em páli: passa samādhiṃ subhāvitaṃ
3 - Em páli: cittañca suvimuttaṃ
4 - Em inglês: neither pressed down nor forced back
5 - Em inglês: nor with mental fabrication kept blocked or suppressed 
6 - Em inglês: Five-Veda Brahmans.
7 - Em páli: Cittañca nesaṃ na sammā vimuttaṃ
8 - Em páli: hīnattharūpā, em inglês: Lowly by nature.

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SN I.69 Icchā Suta - Desejo

[A devata:]

Com o que o mundo é maniatado?
            Vencendo
o que ele se torna livre?
            Abandonando
o que todas as amarras
                        serão cortadas completamente?
[O Buddha:]

Com o desejo (icchā) o mundo é maniatado.
            Vencendo
o desejo ele se torna livre.
            Abandonando
o desejo todas as amarras
            serão cortadas completamente.
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SN I.71 Chetvā Sutta - Tendo Matado

Estando em pé a um lado, uma devata recitou esse verso para o Bem-Aventurado:

Tendo matado o que
            você dorme tranquilamente?
Tendo matado o que
            você não causa dano?
O assassinato
do que
            o Gotama aprova?
[ Buddha:]
Tendo matado a irritação (Kodhaṃ)
            você dorme tranquilamente.
Tendo matado a irritação
            você não causa dano.
Os nobres elogiam
o assassinato da irritação
            — com sua ponta doce
            e raiz venenosa —
tendo matado ela
            você não causa dano.
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