Como mudar o mundo?
Em um artigo publicado no portal UOL, Ajahn Mudito ensina como mudar o mundo de acordo com a visão budista.
O que eu posso fazer para mudar o mundo? Melhore a si mesmo.
Ao contrário do que muita gente pensa, não acho que faltem pessoas querendo fazer o bem, o que falta são pessoas capacitadas a fazê-lo.
Entenda: todo mundo quer proteger o meio ambiente, mas ninguém quer abrir mão de conforto, praticidade ou prazer dos bens materiais. Todo mundo quer a paz entre os povos, mas ninguém quer abrir mão do prazer da vaidade em estar certo e ter razão. Todo mundo quer que as pessoas sejam melhores, mas ninguém quer se comportar corretamente.
A chave de tudo isso não é boa intenção. Dentro da visão do Buddha, só ser bem-intencionado não é suficiente, é preciso desenvolver a capacidade de trazer essa boa intenção à vida.
E quais seriam essas? Na verdade, são inúmeras, isto porque existem infinitas formas de ser uma boa pessoa, mas algumas muito comuns e básicas são:
Bem-querer: essa qualidade todo mundo conhece, não precisa explicar muito. Bem-querer não é só bem-querer pelas pessoas, mas também por todo o mundo a seu redor, inclusive os objetos inanimados. Não desejar a destruição, não desejar a dor, não achar divertido ou engraçado o sofrimento alheio. Estar disposto a ver as coisas sob o ângulo de quem lhe ofende. Não desejar o mal de ninguém, desejar que todos alcancem bem-estar e tornem-se pessoas felizes e possuidoras de boas qualidades do coração.
Sabedoria: entender claramente o que de fato ajuda as pessoas e o que não ajuda. Saber quando atuar e saber quando não fazer nada (sim, existem momentos em que a melhor forma de ajudar é não fazer nada). Essa qualidade possui três fontes importantes de sabedoria. Não negligencie as palavras de pessoas sábias e aprenda a instruir a si mesmo através de um pensamento hábil. Busque a companhia de pessoas sábias e boas e, ao mesmo tempo, evite ao máximo possível a companhia de pessoas ruins e baixas --não ouça a conversa delas, não participe do mundo mental delas, não adote os valores delas!
Disposição: se já é capaz de sentir amizade pelo mundo e já sabe como ajudar, agora vença a preguiça e mãos à obra! Aprenda a administrar seus pensamentos, não tome partido das linhas de raciocínio que justificam a lassidão, não a não ache que é “esperto” evitar trabalho e seja hábil na arte da renúncia.
Renúncia: um dos maiores obstáculos à disposição é a incapacidade de renunciar. As pessoas até querem ajudar, mas não querem abrir mão desse ou daquele prazer, não querem sentir desconforto, não querem assumir compromissos etc. A verdade é que renúncia é uma capacidade vital para qualquer pessoa que queira mudar ou fazer algo novo, principalmente hoje em dia em que a vida de todos está tão repleta de confortos e distrações. Afinal, ninguém mais tem tempo livre, cada minuto é ocupado ouvindo música, assistindo ao YouTube, mandando mensagens etc.
Se olharmos um pouco para o passado, logo veremos quantos exemplos temos de pessoas que achavam que estavam fazendo o bem, mas, na verdade, fizeram o mal. Várias pessoas foram torturadas e queimadas em fogueiras porque outros queriam preservar a palavra de Deus; muitos milhares sufocaram em câmaras de gás porque um grupo de pessoas queria o bem da nação; milhões morreram de fome para que um novo sistema político fosse estabelecido para o bem da sociedade.
Tudo isso foi feito sob a bandeira do bem, mas por pessoas ruins. Portanto, o primeiro passo é melhorarmos a nós mesmos e, se por acaso acharmos que nós já somos bons o suficiente, então este mesmo pensamento quase certamente indica quão grande é nossa cegueira espiritual e quanto trabalho ainda temos pela frente.
Link da publicação original: https://www.uol/noticias/especiais/como-mudamos-o-mundo---budistas.htm#melhore-a-si-mesmo
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