O Machete Perfeito

Ajahn Chandako
 
Lembro quando comecei a minha carreira como monge, um método de meditação comum na Tailândia era repetir na mente o mantra “Buddho.” Eu tentei isso durante algum tempo mas por alguma razão, isso não colou com tanta facilidade quanto uma outra palavra que eu encontrei, que era “paz.” Assim, eu simplesmente comecei a usar “paz” como mantra. Quando estava sentado eu simplesmente dizia “paz,” repetindo em silêncio para mim mesmo, sentindo a sua reverberação – “paz, paz, paz.” Depois quando fazia meditação andando, caminhando para cá e para lá, com cada passo eu dizia “paz, paz, paz.” Quer eu estivesse trabalhando ou esmolando alimentos, comendo ou mesmo conversando, percebi que cada vez que conseguia trazer a minha mente de volta para o centro de “paz, paz,” então tudo começava a se reequilibrar novamente. Compreendi que essa era uma qualidade que eu necessitava.
Algum tempo antes de ir para o Wat Pah Nanachat participei de um longo retiro de meditação na Tailândia, que era mais no estilo vipassana. Lá me foi dito, “Bem, você pode ficar à vontade para praticar a meditação samadhi se quiser, mas basicamente é uma perda de tempo – ela fará com que você se sinta com um pouco em paz, você obterá um pouco de felicidade, mas ficará apegado a isso e aí acabará tão estúpido quanto antes. Mas vipassana – é que é a essência da sabedoria, isso é o que irá libertá-lo.” Então eu disse “excelente!” e coloquei toda a minha energia naquilo.
Quando cheguei em Wat Pah Nanachat, me dei conta que “na verdade o que eu precisava era de um pouco de paz.” E Luang Por Chah que não fazia essa enorme distinção entre samadhi e vipassana, disse, “Bem, nós podemos saber como a água flui. Você pode ir até um riacho e estudar como a água corre e como flui ao redor das pedras e esse também pode ser um verdadeiro estudo e aprendizado sobre as nossas mentes, só observar como a água corre. Se nós tivermos a experiência de ver um lago absolutamente imóvel em algum lugar,” Ajahn Chah dizia, “saberemos como é quando há quietude, absoluta quietude.” Eu havia sido um guarda florestal na região das montanhas em Sierra Nevada, bem acima da linha das árvores e havia visto esses lagos feitos pela neve e pelas geleiras derretidas – absolutamente calmos e cristalinos. Sem vento, podia olhar diretamente através da água e não importava quão profundos, podia ver todos os detalhes das pedras e todo o restante no fundo. Esse é um símile tão belo para a mente quieta. “Mas,” dizia Ajahn Chah, “mesmo se soubermos como é a água quando está imóvel, o que não conhecemos é a água imóvel fluindo.” Esse é um dos meus favoritos símiles de Ajahn Chah – água imóvel fluindo – este paradoxo: quando a água flui, podemos compreender o que é isso e quando a água não flui, então está imóvel, mas como pode estar fluindo e imóvel ao mesmo tempo? Isso é o que precisamos entender, isso é o que precisamos experimentar por nós mesmos.

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