Histórias do Dhammapada. Capítulo 5 - Tolos


5. Balavagga
Tolos

Verso 60 – A história de uma pessoa
Enquanto residia no monastério de Jetavana, o Buda pronunciou o verso 60 deste livro, com referência a um certo jovem e ao rei Pasenadi de Kosala.
Um dia, o rei Pasenadi, ao sair na cidade, viu uma moça bonita de pé na janela de sua casa e instantaneamente se apaixonou por ela. Então o rei tentou encontrar maneiras e meios de consegui-la. Ao descobrir que ela era uma mulher casada, ele mandou chamar o marido e o fez servir no palácio. Mais tarde, o marido foi enviado a uma missão impossível pelo rei. O jovem deveria ir a um lugar, distante um yojana (19 quilômetros) de Savatthi, trazer de volta algumas flores de lótus Kumuda e um pouco de terra vermelha chamada 'arunavati' da terra dos dragões (nagas) e voltar a Savatthi na mesma noite, a tempo para o banho do rei. A intenção do rei era matar o marido se ele não conseguisse voltar no tempo e tomar a esposa para si.
Apressadamente, levando um pacote de comida de sua esposa, o jovem partiu em sua missão. No caminho, ele compartilhou sua comida com um viajante. Ele também jogou um pouco de arroz na água e disse em voz alta: "Ó espíritos guardiões e dragões habitando este rio! O rei Pasenadi ordenou que eu levasse algumas flores de lótus Kumuda e terra vermelha para ele. Hoje compartilhei minha comida com um viajante; eu também tenho alimentado os peixes no rio, agora eu compartilho com vocês os benefícios das boas ações que eu fiz hoje. Por favor, peguem o lótus Kumuda e a terra vermelha para mim. " O rei dos dragões, ouvindo-o, assumiu a aparência de um homem idoso e trouxe o lótus e a terra vermelha.
Naquela noite, o rei Pasenadi, temendo que o jovem marido pudesse voltar no tempo, fechou cedo as portas da cidade. O jovem, encontrando as portas da cidade fechadas, colocou a terra vermelha na muralha da cidade e enfiou as flores na terra. Então ele declarou em voz alta: "Ó cidadãos! Sê minhas testemunhas! Hoje cumpri minhas tarefas a tempo, conforme as instruções do rei. O rei Pasenadi, sem qualquer justificativa, planeja me matar". Depois disso, o jovem partiu para o monastério de Jetavana para se abrigar e encontrar consolo na atmosfera pacífica do monastério.
Enquanto isso, o rei Pasenadi, obcecado pelo desejo sexual, não conseguia dormir e ficava pensando em como se livraria do marido pela manhã e tomaria a esposa. Por volta da meia-noite, ele ouviu alguns sons misteriosos; na verdade, essas eram as vozes tristes de quatro pessoas que sofriam no inferno. Ouvindo aquelas vozes esquisitas, o rei ficou aterrorizado. De manhã cedo, ele foi ao Buda, como aconselhado pela rainha Mallika. Quando o Buda foi informado das quatro vozes ouvidas pelo rei durante a noite, ele explicou ao rei que aquelas eram as vozes de quatro seres, que eram filhos de homens ricos durante o tempo do Buda Kassapa, e que agora eles estavam sofrendo porque cometeram má conduta sexual com as esposas de outras pessoas. Então, o rei percebeu a depravação do ato e a severidade da punição. Então, ele decidiu então que não iria mais cobiçar a esposa de outro homem. "Afinal, foi por causa do meu intenso desejo pela esposa de outro homem que fiquei atormentado e não consegui dormir a noite inteira", refletiu. Então o rei Pasenadi disse ao Buda: "Venerável senhor, agora sei quanto tempo dura a noite para quem não consegue dormir". O jovem que estava por perto também disse: "Venerável senhor, porque eu havia viajado a distância completa de uma yojana ontem, também sei quanto tempo a jornada de uma yojana é para alguém que está cansado".

Longa é a noite para o insone,
longa é a légua para o cansado,
longo é o samsara para os tolos,
que não conhecem o verdadeiro Dhamma.

Ao final do discurso, o jovem homem alcançou o estágio de Sotapanna.

Verso 61 – A história de um aluno do Thera Mahakassapa

Enquanto residia no monastério de Jetavana, o Buda proferiu o verso 61 deste livro, com referência a um aluno do Thera Mahakassapa.

Quando Thera Mahakassapa estava residindo perto de Rajagaha, ele teve dois jovens bhikkhus morando com ele. Um deles era respeitoso, obediente e obediente ao thera, mas o outro não era. Quando o velho thera repreendeu o último por sua negligência em seus deveres, ele ficou muito ofendido. Em uma ocasião, ele foi até a casa de um discípulo leigo do trio e mentiu para eles que o trio estava doente. Assim, ele conseguiu alguma comida deles para o thera; mas ele comeu a comida no caminho. Quando admoestado pelo thera por causa disso, ele ficou extremamente irritado. No dia seguinte, quando o thera estava em sua esmola, o jovem bhikkhu tolo ficou para trás, quebrou as tigelas e ateou fogo ao mosteiro.
Quando um bhikkhu de Rajagaha contou a Buda sobre isso, o Buda disse que teria sido muito melhor para Thera Mahakassapa viver sozinho do que viver com uma companhia tola.

Então o Buda falou em versos:

Se alguém não conseguir encontrar
uma companhia melhor ou igual,
então ele deveria, com determinação, seguir sozinho.
Não há companheirismo com os tolos.

Ao fim do discurso, o bhikkhu de Rajagaha tornou-se um Sotapanna.


Verso 62 – A história de Ananda, um homem rico

Enquanto residia no mosteiro de Jetavana, o Buda proferiu o verso 62 deste livro, com referência a um homem rico e avarento, chamado Ananda.
Havia uma vez um homem muito rico chamado Ananda em Savatthi. Embora ele possuísse oitenta crores, estava muito relutante em dar qualquer coisa para a caridade. Para seu filho, Mulasiri, ele costumava dizer: "Não pense que a riqueza que temos agora é muito grande. Não dê nada do que você tem, pois você deve fazê-la crescer. Caso contrário, sua riqueza diminuirá." Este homem rico tinha cinco potes de ouro enterrados em sua casa e ele morreu sem revelar sua localização para o filho.
Ananda, o homem rico, renasceu em uma aldeia de mendigos, não longe de Savatthi. Desde o momento em que sua mãe ficou grávida a renda dos mendigos dimínuia; os aldeões achavam que devia haver um azarado entre eles. Ao se dividirem em grupos e pelo processo de eliminação, chegaram à conclusão de que a mendiga grávida devia ser a infeliz. Assim, ela foi expulsa da aldeia. Quando o filho nasceu, mostrou-se extremamente feio e repulsivo. Se ela saísse mendigando sozinha, tudo seria como antes, mas se ela saísse com seu filho não conseguiria nada. Então, quando o menino podia sair sozinho, sua mãe colocou um prato na mão e o deixou. Enquanto vagava em Savatthi, ele se lembrava de sua antiga casa e sua existência passada. Então ele entrou na casa. Quando os filhos de seu filho Mulasiri o viram, ficaram assustados com seu olhar feio e começaram a chorar. Os servos então o espancaram e o expulsaram da casa.
O Buda que estava em sua esmola viu o incidente e pediu ao venerável Ananda que trouxesse Mulasiri. Quando Mulasiri veio, o Buda lhe disse que o jovem mendigo era seu próprio pai em sua existência anterior. Mas Mulasiri não podia acreditar. Então, o Buda orientou o mendigo a mostrar onde havia enterrado seus cinco potes de ouro. Só então, Mulasiri aceitou a verdade e, a partir daquele momento, tornou-se um devoto discípulo leigo do Buda.

Então o Buda falou em versos:

“Eu tenho filhos, eu tenho riquezas”,
pensando assim, o tolo se preocupa.
Se nem ele é dele mesmo,
como seriam dele filhos e riquezas?

Verso 63 – A história de dois batedores de carteira

Em uma ocasião, dois batedores de carteira se juntaram a um grupo de discípulos leigos indo ao mosteiro de Jetavana, onde o Buda estava discursando. Um deles ouviu atentamente o discurso e logo alcançou a Frutificação de Sotapatti. No entanto, o segundo ladrão não assistiu ao discurso, pois estava empenhado em roubar apenas; e ele conseguiu arrancar uma pequena quantia de dinheiro de um dos discípulos leigos. Depois do discurso, voltaram e cozinharam a refeição na casa do segundo ladrão, aquele que conseguiu algum dinheiro. A esposa do segundo ladrão insultou o primeiro ladrão: "Você é tão sábio que nem tem nada para cozinhar em sua casa". Ouvindo essa observação, o primeiro ladrão pensou consigo mesmo: "Essa é tão tola que ela acha que está sendo muito esperta". Então, junto com alguns parentes, ele foi ao Buda e relatou o assunto para ele.
Então, para o homem, o Buda falou em versos:

Consciente da sua própria tolice,
o tolo por isso é sábio.
Enquanto que o tolo, de fato tolo,
é o sábio presumido.

Ao fim do discurso, todos os parentes daquele homem tornaram-se sotapannas.

Verso 64 – A história de Thera Udayi

Enquanto residia no monastério de Jetavana, o Buda proferiu o verso 64 deste livro, com referência a Thera Udayi, um bhikkhu pretensioso.
Thera Udayi costumava sentar-se na plataforma da qual sábios theras discursavam. Em uma ocasião, alguns bhikkhus visitantes, considerando-o um thera muito instruído, fizeram para ele algumas perguntas sobre os cinco agregados (khandhas). Thera Udayi não pôde responder, porque ele não sabia nada sobre o Dhamma. Os bhikkhus visitantes ficaram muito surpresos ao descobrir que aquele que ficava no mesmo monastério com o Buda sabia muito pouco sobre os khandhas e as ayatanas (bases dos sentidos e objetos dos sentidos).
Para eles, o Buda falou em versos:

Mesmo que por toda uma vida, o tolo
conviva com um sábio,
ele nunca compreenderá o Dhamma
tal como a colher não sente o sabor da sopa.

Ao fim do discurso, todos os bhikkhus visitantes tornaram-se arahants.

Verso 65 – A história de trinta bhikkhus de Paveyyaka

Enquanto residia no mosteiro de Jetavana, o Buda pronunciou o verso 65 deste livro, com referência a trinta bhikkhus de Paveyyaka.
Trinta jovens de Paveyyaka estavam, em uma ocasião, se divertindo com uma prostituta em uma floresta, quando a prostituta roubou alguns de seus ornamentos valiosos e fugiu. Enquanto procuravam por ela na floresta, eles encontraram o Buda no caminho. Quando o Buda lhes transmitiu um discurso, os jovens alcançaram a Frutificação de Sotapatti, e todos se uniram à Ordem do Buda e o seguiram até o monastério de Jetavana. Enquanto permaneciam no mosteiro, observavam estritamente a prática de austeridade ou purificação (dhutanga). Mais tarde, quando o Buda deu o Anamatagga Sutta (Discurso sobre Incontáveis Existências), todos aqueles bhikkhus alcançaram o estado de arahant.
Quando outros bhikkhus comentaram que Paveyyaka bhikkhus foram muito rápidos em alcançar o estado de arahant, o Buda respondeu a eles em versos:

Mesmo que por um breve momento, o perspicaz
conviva com um sábio,
ele rapidamente compreenderá o Dhamma
tal como a língua sente o sabor da sopa.

Verso 66 – A história de Suppabuddha, um leproso

Enquanto residia no mosteiro de Jetavana, o Buda proferiu o verso 66 deste livro, com referência a Suppabuddha, um leproso.

Suppabuddha, o leproso, sentado na parte de trás da multidão e ouvindo atentamente o discurso dado pelo Buda, alcançou a Frutificação de Sotapatti. Quando a multidão se dispersou, ele seguiu o Buda até o monastério, pois desejava dizer ao Buda sobre a obtenção da Frutificação de Sotapatti. Sakka, rei dos devas, desejando testar a fé do leproso no Buda, no Dhamma e na Sangha, apareceu para ele e disse: "Você é apenas um homem pobre, vivendo daquilo que você consegue implorando, sem ninguém para confiar. Eu posso dar-lhe imensa riqueza se você negar o Buda, o Dhamma e a Sangha e disser que você não tem utilidade para eles." Para isso, Suppabuddha respondeu. "Eu certamente não sou um homem pobre, sem ninguém para confiar. Eu sou um homem rico; possuo os sete atributos que os ariyas possuem; eu tenho fé (saddha), moralidade (sila), senso de vergonha de fazer o mal (hiri), sensação de medo de fazer o mal (ottappa), aprendizagem (sula), generosidade (caga) e conhecimento (panna).
Então, Sakka foi até o Buddha antes de Suppabuddha e relatou a conversa entre ele e Suppabuddha. Para ele, o Buda respondeu que não seria fácil, mesmo para cem ou mil Sakkas, tirar Suppabuddha do Buda, do Dhamma e da Sangha. Logo depois disso, Suppabuddha chegou ao monastério e relatou ao Buda sobre a realização da Frutificação de Sotapatti. Em seu caminho de volta do monastério de Jetavana, Suppabuddha foi ferido até a morte por uma vaca enfurecida, que, na verdade, era um ogro que assumiu a forma de uma vaca. Este ogro não era outro senão a prostituta que foi morta por Suppabuddha em uma de suas existências anteriores e que prometera se vingar dele.
Quando a notícia da morte de Suppadudha alcançou o monastério de Jetavana, os bhikkhus perguntaram ao Buda onde Suppabuddha havia renascido e o Buda respondeu a eles que Suppabuddha renasceu no reino de Tavatimsa. O Buda também explicou a eles que Suppabuddha nasceu leproso porque, em uma de suas existências anteriores, ele cuspiu em um paccekabuddha.
Então, o Buda falou em versos:

Tolos de pouca sabedoria
são inimigos de si próprios,
já que vivem praticando ações prejudiciais,
que trarão frutos amargos.

Verso 67 – A história de um fazendeiro

Enquanto residia no mosteiro de Jetavana, o Buda proferiu o verso 67 deste livro, com referência a um fazendeiro que lidava com veneno.
Um dia, alguns ladrões que roubaram alguns objetos de valor e dinheiro da casa de um homem rico chegaram a um campo. Lá dividiram a propriedade roubada entre si e se dispersaram; mas um pacote contendo mil em dinheiro, tendo caído de um dos ladrões, foi deixado despercebido.
No início da manhã daquele dia, o Buda, ao examinar o mundo com seu poder sobrenatural, percebeu que um fazendeiro, cultivando perto daquele campo, alcançaria a Frutificação de Sotapatti naquele mesmo dia. Então, o Buda foi para lá, acompanhado pelo Venerável Ananda. O fazendeiro ao ver o Buda prestou reverência a ele e continuou a arar o campo. O Buda vendo o pacote de dinheiro disse ao Venerável Ananda, "Ananda, olhe para aquela cobra muito venenosa", e Ananda respondeu: "Venerável Senhor, sim, é, de fato, uma cobra muito venenosa!" Então, tanto o Buda como o Venerável Ananda continuaram seu caminho.
O fazendeiro, ouvindo-os, foi descobrir se realmente havia uma cobra e encontrou o pacote de dinheiro. Ele pegou o piquete e o escondeu em um lugar. Os donos da propriedade que vieram depois que os ladrões chegaram ao campo, e rastreando as pegadas do fazendeiro, encontraram o pacote de dinheiro. Eles espancaram o fazendeiro e o levaram para o rei, que ordenou que seus homens matassem o fazendeiro. Ao ser levado ao cemitério, onde seria morto, o fazendeiro continuava repetindo: "Ananda, olhe para aquela cobra muito venenosa. Venerável senhor, vejo a cobra; é, de fato, uma cobra muito venenosa!" Quando os homens do rei ouviram o diálogo acima entre o Buda e o Venerável Ananda serem repetidos durante todo o tempo, ficaram intrigados e o levaram para o rei. O rei supôs que o fazendeiro estava chamando o Buda como testemunha; ele foi levado para a presença do Buda. Depois de ouvir do Buda tudo o que havia acontecido de manhã, o rei observou: "Se ele não tivesse sido capaz de invocar o Buda como testemunha de sua inocência, este homem teria sido morto". Para ele, o Buda respondeu: "Um homem sábio não deve fazer nada para se arrepender depois de fazê-lo".

Então, o Buda falou em versos:

Não é bem feita a ação
da qual há remorso,
cujos resultados são sentidos
com o choro e o rosto marcado pelas lágrimas.

 Ao fim do discurso, o fazendeiro alcançou o estágio de sotapanna.

Verso 68 – A história de Sumana, um florista

Um florista, chamado Sumana, tinha que suprir o Rei Bimbisara de Rajagaha com flores de jasmin todas as manhãs. Um dia, quando ia ao palácio do rei, viu o Buda, com uma auréola de raios de luz irradiando dele, chegando à cidade em busca de comida, acompanhado de muitos bhikkhus. Vendo o Buda em sua glória resplandecente, o florista Sumana sentiu um forte desejo de oferecer suas flores ao Buda. Então, decidiu que, mesmo que o rei o expulsasse do país ou o matasse, ele não ofereceria as flores ao rei naquele dia. Assim, ele jogou as flores para os lados, para as costas e sobre e acima da cabeça do Buda. As flores permaneciam suspensas no ar; aqueles sobre a cabeça formavam um dossel de flores e aqueles nas costas e os lados formavam paredes de flores. Essas flores seguiram o Buda nessa posição enquanto ele seguia em frente e pararam quando o Buda parava. Enquanto o Buda prosseguia, cercado por muros de flores e uma copa de flores, com os raios de seis cores irradiando de seu corpo, seguidos por uma grande comitiva, milhares de pessoas dentro e fora de Rajagaha saíram de suas casas para prestar reverência para o Buda. Quanto a Sumana, todo o seu corpo estava impregnado de prazerosa satisfação (Piti).
A esposa do florista Sumana foi então ao rei e disse que não tinha nada a ver com o fato de o marido não fornecer flores ao rei naquele dia. O rei, sendo um próprio Sotapanna, sentiu-se bastante feliz com as flores. Ele saiu para ver a visão maravilhosa e prestou reverência ao Buda. O rei também aproveitou a oportunidade para oferecer comida para o Buda e seus discípulos. Depois da refeição, o Buda retornou no monastério de Jetavana e o rei o seguiu por alguma distância. Ao chegar ao palácio, o rei Bimbisara mandou buscar Sumana e ofereceu-lhe uma recompensa de oito elefantes, oito cavalos, oito escravos, oito escravas, oito donzelas e oito mil em dinheiro.
No mosteiro de Jetavana, o Venerável Ananda perguntou ao Buda que benefícios Sumana ganharia por sua boa ação feita naquele dia. O Buda respondeu que Sumana, tendo dado ao Buda sem qualquer consideração por sua vida, não nasceria em nenhum dos quatro mundos inferiores (Apaya) pelos os próximos cem mil mundos e que eventualmente ele se tornaria um paccekabuddha. Depois disso, quando o Buda entrou no Salão Perfumado (Gandhakuti), as flores caíram espontaneamente.

Naquela noite, ao fim do rotineiro discurso, o Buda falou em versos:

Mas é bem feita a ação
da qual não há remorso,
cujos resultados são sentidos
com alegria e felicidade.

Verso 69 – A história de Theri Uppalavanna

Enquanto residia no mosteiro de Jetavana, o Buda proferiu o verso 69 deste livro, com referência a Theri Uppalavanna.

Era uma vez uma filha jovem de um homem rico em Savatthi. Por ser tão bonita, com uma aparência tão terna e doce, como uma flor de lótus azul, ela era chamada de "Uppalavanna", a lótus azul. A fama de sua beleza se espalhou por toda parte e havia muitos pretendentes: príncipes, homens ricos e muitos outros. Mas ela decidiu que seria melhor para ela se tornar uma bhikkhuni, um membro feminino da Ordem Budista. Um dia, depois de acender uma lâmpada, ela manteve sua mente fixa na chama e, meditando no fogo kasina (objeto de concentração), ela logo alcançou o Magga Insight e finalmente alcançou o estado de arahant.
Algum tempo depois, ela se mudou para a “Floresta Negra” (Andhavana) e viveu em solidão. Enquanto Theri Uppalavanna estava em sua esmola, Nanda, o filho de seu tio, foi até seu mosteiro e se escondeu embaixo de seu sofá. Nanda havia se apaixonado por Uppalavanna antes de se tornar uma bhikkhuni; sua intenção obviamente era levá-la à força. Quando Uppalavanna retornou, ela viu Nanda e disse: "Seu tolo! Não me faça mal, não me moleste". Mas ele não seria parado. Depois de se satisfazer, ele a deixou. Assim que ele pisou no chão, a terra se abriu e ele foi engolido.

A ouvir sobre isso, o Buda falou em versos:

Quando a ação prejudicial ainda não frutificou
o tolo pensa que ela é doce como o mel,
mas quando ela frutificar,
o tolo irá sofrer.

Ao fim do discurso, muitos tornaram-se arahants.
Em seguida, o Buda dirigiu-se para o rei Pasenadi de Kosala e contou-lhe sobre os perigos que as bhikkhunis que vivem nas florestas tinham que enfrentar de pessoas irresponsáveis obcecadas por sexo. O rei então prometeu construir mosteiros para bhikkhunis apenas nas cidades ou perto das cidades.

Verso 70 – A história de Jambuka

Enquanto residia no monastério de Jetavana, o Buda proferiu o verso 70 deste livro, com referência ao Thera Jambuka.

Jambuka era filho de um homem rico em Savatthi. Devido aos seus maus feitos do passado, ele nasceu com hábitos muito peculiares. Quando criança, ele queria dormir no chão sem a cama adequada, e tomar seus próprios excrementos para comer em vez de arroz. Quando ele cresceu, seus pais o enviaram para os Ajivakas, os ascetas nus. Quando esses ascetas descobriram seus hábitos alimentares peculiares, eles o mandaram embora. À noite ele comia excrementos humanos e durante o dia ficava parado com uma perna e mantinha a boca aberta. Ele costumava dizer que ele mantinha a boca aberta porque ele só se alimentava de ar e que ficava em pé apenas com uma perna, porque de outra forma seria pesado demais para a terra suportá-lo. "Eu nunca me sento, nunca vou dormir", ele se gabava e, por causa disso, era conhecido como Jambuka, um "chacal".
Muitas pessoas acreditavam nele e algumas chegavam a ele com oferendas de comida. Então Jambuka recusava e dizia: "Eu não me alimento de comida, exceto de ar". Quando pressionado, ele pegava apenas um pouquinho da comida com a ponta de uma folha de grama e dizia: "Agora vá, esse tanto lhe dará mérito suficiente". Desta forma, Jambuka viveu por cinquenta e cinco anos, nu e comendo apenas excrementos.
Um dia, o Buda viu em sua visão que Jambuka estava prestes a atingir o estado de arahant dentro de um curto período de tempo. Então, à noite, o Buda foi para onde Jambuka estava hospedado e pediu um lugar para passar a noite. Jambuka apontou para ele uma caverna na montanha não muito longe da laje de pedra em que ele próprio estava hospedado. Durante a primeira, segunda e terceira vigília da noite, os devas de Catumaharajika, Sakka e Mahabrahma vieram homenagear o Buda. Em todas as três ocasiões, a floresta foi iluminada e Jambuka viu a luz três vezes. De manhã, ele foi até o Buda e perguntou sobre as luzes.
Quando foi informado sobre os devas, Sakka e Mahabrahma que vinham prestar homenagem ao Buda, Jambuka ficou muito impressionado, e disse ao Buda: "Você deve, de fato, ser uma pessoa maravilhosamente grande para os devas, Sakka e Mahabrahma virem. Quanto a mim, embora eu tenha praticado austeramente por cinquenta e cinco anos, vivendo apenas de ar e ficando de pé apenas em uma perna, nenhum dos devas, nem Sakka, nem Mahabrahma jamais me procurou". Para ele, o Buda respondeu: "Ó Jambuka! Você tem enganado outras pessoas, mas não pode me enganar. Sei que há cinquenta e cinco anos você tem comido excrementos e dormido no chão".
Além disso, o Buda explicou a ele como em uma de suas existências passadas durante o tempo do Buda Kassapa, Jambuka impediu que um thera fosse com ele para a casa de um discípulo leigo onde a comida era oferecida e como ele também tinha jogado fora a comida que foi enviada junto com ele para aquele thera. Foi por essas maldades que Jambuka comeu excrementos e dormiu no chão. Ao ouvir isso, Jambuka ficou horrorizado e aterrorizado, e se arrependeu por ter feito o mal e por ter enganado outras pessoas. Ele caiu de joelhos e o Buda lhe deu um pedaço de pano para vestir. O Buda então começou a fazer um discurso; no final do discurso, Jambuka alcançou o estado de arahant e se juntou à Ordem Budista no local.
Logo depois disso, os alunos de Jambuka de Anga e Magadha chegaram e ficaram surpresos ao ver seu professor com o Buda. Thera Jambuka então explicou aos seus alunos que ele havia se juntado à Ordem Budista e que agora ele era apenas um discípulo do Buda. Para eles, o Buda disse que, embora seu professor tivesse vivido austeramente tomando comida com parcimônia, não valia nem uma décima sexta parte de sua prática e realização atual.

Então o Buda falou em versos:

Mês após mês, com a ponta do capim
o tolo ingere o seu alimento;
Ele não vale um dezesseis avos
daqueles que compreendem o Dhamma.



Verso 71 – A história de Ahipeta

Enquanto residia no Monastério de Jetavana, o Buda proferiu os versos 71 deste livro, com referência a um peta (fantasma faminto).

O Discípulo-chefe Maha Moggallana foi em uma ocasião esmolar com o Thera Lakkhana em Rajagaha. Ao ver algo, ele sorriu, mas não disse nada. Quando estavam de volta ao mosnastério, Thera Maha Moggallana disse a Thera Lakkhana que ele sorriu porque viu um fantasma faminto com a cabeça de ser humano e o corpo de cobra. O Buda então disse que ele mesmo havia visto aquele fantasma faminto no dia em que alcançou o estado de Buda. O Buda também explicou que, há muito tempo atrás, havia um paccekabuddha, que era respeitado por muitos. As pessoas que iam ao monastério tinham que atravessar um campo. O dono, temendo que seu campo fosse danificado pela grande quantidade de pessoas indo e voltando do mosteiro, ateou fogo nele. Consequentemente, o paccekabuddha teve que se mudar para algum outro lugar. Os discípulos do paccekabuddha, muito zangados com o dono da terra, espancaram-no e mataram-no. Em sua morte, ele renasceu no Avici Niraya. Em sua presente existência, ele estava experienciando as consequências maléficas (kamma) como um fantasma faminto.

Em conclusão, o Buda disse: "Um ato maligno não produz fruto imediatamente, mas invariavelmente segue o malfeitor. Não há como escapar das consequências de um ato maligno."

Então o Buda falou em versos:

Igual ao leite, é a ação prejudicial,
que tão lentamente azeda.
Mas latente permanece no tolo,
como as brasas cobertas por cinzas.

Verso 72 – A hitória de Satthikutapeta

Enquanto residia no mosteiro de Veluvana, o Buda proferiu o verso 72 deste livro com referência a um fantasma faminto chamado Satthikutapeta.

O Discípulo-chefe Maha Moggallana viu este enorme fantasma faminto enquanto fazia uma esmola com Thera Lakkhana. Neste contexto, o Buda explicou que Satthikutapeta, em uma de suas existências anteriores, era muito habilidoso em atirar pedras nas coisas. Um dia, ele pediu permissão de seu professor para testar sua habilidade. Seu professor lhe disse para não bater em uma vaca, ou em um ser humano, pois teria que pagar uma indenização ao dono ou ao parente, mas para encontrar um alvo que fosse sem dono ou sem guardião.
Ao ver o paccekabuddha, o tolo pensou que o paccekabuddha, não tendo nenhum parente ou guardião, seria um alvo ideal. Então ele jogou uma pedra no paccekabuddha que estava em uma ronda de esmolas. A pedra por uma orelha e saiu por outra. O paccekabuddha ficou caduco quando chegou ao monastério. O atirador de pedras foi morto pelos discípulos do paccekabuddha e ele renasceu no Avici Niraya. Depois disso, ele renasceu como um fantasma faminto e desde então experienciava o que restou das consequências maléficas (kamma) de seu ato maligno. Como um fantasma faminto, sua enorme cabeça estava sendo continuamente atingida por martelos em brasa.
Em conclusão, o Buda disse: "Para um tolo, sua habilidade ou conhecimento é inútil; só pode prejudicá-lo".

Então o Buda falou em versos:

Deveras em seu detrimento
o tolo obtém conhecimentos;
o seu bom caráter arruinado
as suas boas qualidades destruídas.


Versos 73 e 74 – A história de Citta, o chefe de família

Enquanto residia no mosteiro de Jetavana, o Buda proferiu os verosos 73 e 74 deste livro, com referência ao Thera Sudhamma e a Citta, o chefe de família.
Citta, um chefe de família, certa vez encontrou Thera Mahanama, um dos cinco primeiros bhikkhus (Pancavaggis), fazendo uma esmola, e o convidou para sua casa. Lá, ele ofereceu comida ao thera e depois de escutar o discurso dado por ele, Citta alcançou a Frutificação de Sotapatti. Mais tarde, Citta construiu um mosteiro em seu bosque de mangueiras. Lá, ele olhou para as necessidades de todos os bhikkhus que vieram ao mosteiro e Bhikkhu Sudhamma foi nomeado o bhikkhu residente.
Um dia, os dois Discípulos Principais do Buda, o Venerável Sariputta e o Venerável Maha Moggallana, chegaram ao mosteiro e depois de ouvir o discurso dado pelo Venerável Sariputta, Citta alcançou a Fruição de Anagami. Então, ele convidou os dois Discípulos-Chefes para a casa dele para esmolar alimentos no dia seguinte. Ele também convidou Thera Sudhamma, mas Thera Sudhamma recusou com raiva e disse: "Você me convida apenas depois dos outros dois." Citta repetiu seu convite, mas foi recusado. No entanto, Thera Sudhamma foi para a casa de Citta no dia seguinte. Mas quando convidado a entrar na casa, Thera Sudhamma se recusou e disse que não se sentaria enquanto fazia a esmola. Mas quando ele viu as coisas que deveriam ser oferecidas aos dois Discípulos-Chefes, ele os invejou tanto que não conseguiu conter sua raiva. Ele abusou de Citta e disse: "Eu não quero mais ficar no seu mosteiro", e saiu de casa com raiva.

De lá, ele foi ao Buda e relatou tudo o que havia acontecido. Para ele, o Buda disse: "Você insultou um discípulo leigo que é dotado de fé e generosidade. É melhor voltar para ele e admitir seu erro". Sudhamma fez o que lhe foi dito pelo Buda, mas Citta não seria apaziguado; então ele retornou ao Buda pela segunda vez. O Buda, sabendo que o orgulho de Sudhamma havia diminuído a essa altura, disse: "Meu filho, um bom bhikkhu não deve ter nenhum apego; um bom bhikkhu não deve ser vaidoso e dizer" Este é meu mosteiro, esse é o meu lugar, esses são meus discípulos leigos, etc., pois em alguém com tais pensamentos, a cobiça e o orgulho aumentarão.”

Então o Buda falou em versos:

Proeminência um tolo pode desejar:
precedência entre os bhikkhus,
autoridade nos monastérios
e honras de outras famílias.

Que os leigos e bhikkhus pensem
'Isso foi feito por mim,
em todas tarefas, grandes ou pequenas,
que eles sempre dependam de mim.'
Essa é a intenção do tolo;
inchadas a sua cobiça e presunção.

Verso 75 – A história do noviço Tissa do Monastério de Floresta

Enquanto residia no mosteiro de Jetavana, o Buda proferiu o verso 75 deste livro, com referência a Tissa, um noviço, que morava em um monastério na floresta.

Tissa era o filho de um homem rico de Savatthi. Seu pai costumava oferecer esmolas para o Discípulo Chefe Sariputta em sua casa e, assim, Tissa, mesmo quando criança, encontrava o Discípulo Chefe em muitas ocasiões. Aos sete anos de idade tornou-se um noviço (samanera) sob o Discípulo Chefe Sariputta. Enquanto ele estava hospedado no mosteiro de Jetavana, muitos de seus amigos e parentes vieram vê-lo, trazendo presentes e ofertas. Os samaneras acharam essas visitas muito cansativas; então, depois de obter um assunto de meditação do Buda, ele partiu para um mosteiro na floresta. Sempre que um aldeão lhe oferecia qualquer coisa, Tissa apenas dizia: "Que você seja feliz, que você seja libertado dos males da vida" ("Sukhita hotha, dukkha muccatha"), e seguiria seu próprio caminho. Enquanto ele permaneceu no mosteiro da floresta, praticou meditação com ardor e fervor e, ao final de três meses, alcançou a Iluminação.
Depois da vassa, o Venerável Sariputta, acompanhado pelo Venerável Maha Moggallana e outros discípulos veteranos, fez uma visita ao Samanera Tissa, com a permissão do Buda. Todos os moradores saíram para receber o venerável Sariputta e sua companhia de quatro mil bhikkhus. Eles também pediram ao Venerável Sariputta que os favorecesse com um discurso, mas o Discípulo Chefe recusou; em vez disso, ele orientou seu pupilo Tissa para dar um discurso aos aldeões. Os aldeões, no entanto, disseram que Tissa apenas dizia "Que você seja feliz, que você seja libertado dos males da vida", e pediu ao Discípulo Chefe para designar outro bhikkhu em seu lugar. Mas o Venerável Sariputta insistiu que Tissa deveria fazer um discurso sobre o Dhamma, e disse a Tissa: "Tissa, fale com eles sobre o Dhamma e mostre a eles como ganhar felicidade e como se libertar dos males da vida."
Assim, em obediência ao seu professor, Samanera Tissa subiu a plataforma para entregar seu discurso. Ele explicou à audiência o significado dos agregados (khandhas), bases sensoriais e objetos dos sentidos (ayatanas), elementos da perpetuação do Ensinamento (Bodhipakkhiya Dhamma), o Caminho que conduz a Nibbana, etc. Finalmente ele concluiu, "E assim, aqueles que alcançam o estado de arahats são liberados de todos os males da vida e têm a Paz Perfeita; todo o resto ainda vagará no ciclo de renascimentos (samsara).
O venerável Sariputta elogiou Tissa por ter exposto o dhamma tão bem. O amanhecer estava se aproximando quando ele terminou sua exposição, e todos os moradores ficaram muito impressionados. Alguns deles ficaram surpresos com o fato do Samanera Tissa conhecer o Dhamma tão bem, mas eles também estavam insatisfeitos com ele porque antigamente ele havia falado tão pouco sobre o dhamma para eles; os outros estavam felizes e contentes em encontrar a samanera tão sábio e perceberam que tiveram muita sorte de tê-lo entre eles.
O Buda, com seu poder sobrenatural, viu do mosteiro de Jetavana esses dois grupos de aldeões e apareceu diante deles. Sua intenção de chegar à aldeia foi esclarecer o mal-entendido entre o primeiro grupo de moradores. O Buda chegou enquanto os aldeões estavam preparando comida para os bhikkhus. Então, eles tiveram a oportunidade de oferecer comida para o Buda também. Após a refeição, o Buda se dirigiu aos aldeões: "Ó discípulos leigos, todos vocês têm tanta sorte de ter Samanera Tissa entre vocês. É por causa de sua presença aqui que eu mesmo, meus Discípulos Principais, discípulos seniores e muitos outros bhikkhus, agora te fazem uma visita." Essas palavras fizeram com que percebessem o quanto eram afortunados por terem Samanera Tissa com eles e ficaram satisfeitos. O Buda então fez um discurso aos aldeões e aos bhikkhus e, consequentemente, muitos deles alcançaram a Frutificação de Sotapatti.
Depois do discurso, o Buda retornou ao mosteiro de Jetavana. À noite, os bhikkhus disseram em louvor a Tissa ao Buda: "Venerável Senhor, Samanera Tissa tinha realizado uma tarefa muito difícil; ele estava tão bem provido de presentes e ofertas de todos os tipos aqui em Savatthi, mas ele desistiu de todos estes para ir e viver austeramente em um mosteiro da floresta". Para eles, o Buda respondeu: "Bhikkhus, um bhikkhu, seja na cidade ou na aldeia, não deve viver por causa de presentes e ofertas, se um bhikkhu renuncia a todas as boas perspectivas ou ganhos mundanos e pratica diligentemente o dhamma em solidão, ele certamente tornará-se um arahant.”

Então o Buda falou em versos:

Uma é a busca pelo ganho mundano,
outra o caminho que leva a Nibbana.
Claramente compreendendo isto,
o bhikkhu, discípulo do Buda,
não se lambuza com as oferendas recebidas,
entregando-se, ao invés disso, ao afastamento.

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