O Dhamma imortal
Enquanto estiver ouvindo o Dhamma, por favor, mantenha a mente interiorizada. Não a direcione para os vários tipos de objetos mentais. Não de importância às divagações, não dê atenção aos pensamentos acerca do passado e do futuro, isto não trará nenhum benefício. Neste momento, você deve preencher o coração com o Dhamma. O coração está muito seco e atormentado por falta do Dhamma. É semelhante a uma floresta com falta de umidade onde a vegetação se inflama facilmente, queimando e consumindo todas as árvores. Raramente há incêndio florestal na estação chuvosa, mas a estação seca traz sempre um perigo de incêndio. Isso também acontece no interior de um mosteiro na floresta quando está muito seco. O Mosteiro da Floresta Baan Taad pegou fogo várias vezes. Isto é devido à secura.
Quando o coração se torna ressecado pela falta do Dhamma, o fogo das contaminações pode rapidamente tomar posse. Tudo o que entrar em contato com ele vai ser queimado, sem exceção. Fogo traz danos, por isso, quando as contaminações estão inflamadas no coração, como pode o coração não ser prejudicado? Independentemente do seu valor, não pode escapar de ser manchado e, no final, totalmente inútil também. Esse é o caminho do coração que tem sido constantemente queimado e consumido pelo fogo das impurezas.
Um incêndio pode danificar nossas posses dependendo de sua intensidade e extensão. A menos, claro, que aconteça de eles estarem em um local seguro, como um cofre de banco usado para proteger os objetos de valor. Mas, nós temos um lugar seguro dentro de nossos corações? Ou será que estamos sempre nos expondo a riscos, dia e noite em todas as nossas atividades? Estamos sempre nos deixando vulneráveis; completamente saqueados, queimados e arrasados? Não temos nenhuma preocupação com os nossos corações inestimáveis? Devemos usar esta maneira de pensar para nos ensinar.
O coração não pode encontrar felicidade alguma quando o fogo das contaminações está constantemente queimando-o. Este fogo é a chama da cobiça, aversão e ilusão, que está descrito no Discurso do Fogo (Ãdittaparyãya Sutta). Não se deve ter nenhuma dúvida ou incerteza sobre isso, pois isso sempre foi verdade. Se nós pegarmos os vários aspectos do Dhamma explicados nos suttas e, cuidadosamente, refletirmos sobre eles usando a razão, a inteligência, seguindo os princípios do Dhamma apresentados lá, então, teremos a capacidade de encontrar um caminho claro e seguro através deste fogo.
Nós então, poderemos ao longo do tempo, encontrar um pouco de paz e felicidade, sem sermos constantemente apanhados pelo incêndio. Cada um de vocês tem feito um esforço para vir aqui praticar. Vocês estão à procura de um lugar seguro para armazenar sua riqueza, ou seja, o mérito e a virtude que vocês estão construindo. Vocês estão à procura de um lugar seguro para protegê-los da destruição dessas três grandes massas de fogo.
É difícil extinguir um incêndio florestal. Se ele realmente tomou conta, então, mesmo a água não pode contê-lo. Para apagar o fogo interno das contaminações, devemos constantemente desenvolver e acumular virtudes, por exemplo, Metta Bhavana (cultivo do amor bondade). Isto acalma e concentra o coração, tornando-o capaz de subjugar efetivamente essas coisas nocivas e prejudiciais, nomeadamente os fogos discutidos acima. Falando de fogo, deve sempre estar quente. Mesmo faíscas que caem sobre o corpo são quentes e dolorosas. Se nós nos permitimos ser queimados constantemente, dia e noite, o que nos resta? O coração será completamente queimado. O que restar será mera consciência, sem qualquer mérito ou valor, uma vez que foi totalmente entregue às contaminações, que tudo consomem. Será uma consciência do sofrimento, não de felicidade. Não é a consciência da sabedoria.
Esta consciência é oprimida por dukkha, tanto assim, que o coração se torna inútil. O desenvolvimento consistente da citta, por meio do esforço árduo e diligente é a maneira de apagar o fogo de dentro do coração, gradualmente trazendo paz e felicidade. O Senhor Buda ensinou somente aquelas coisas que estão dentro da nossa capacidade de alcançar; coisas além da nossa capacidade, ele não ensinou. Todos os Dhammas ensinados pelo Buda estão ao alcance dos praticantes budistas. O Senhor não ensinou cegamente. Nós praticantes, devemos, portanto, considerar o Dhamma como sendo de suma importância, e levá-lo profundamente ao coração. Assim como nós evitamos e abominamos todas as formas de dukkha, que ninguém quer, temos de avançar na direção da cura para dukkha, que é o Dhamma. Quando tudo isso é compreendido com clareza, de modo a estarmos comprometidos com nossa prática, por uma firme convicção, não será importante saber se a prática do Dhamma é fácil ou difícil. Nós podemos apenas fazer o nosso melhor de acordo com as nossas capacidades. Quem não é preguiçoso quando está sob o poder das contaminações? Esta preguiça, que detesta fazer qualquer coisa boa ou benéfica, está dentro de cada um de nós.
Preguiça e negligência sempre assumem a liderança, mas certamente não são as coisas que nos livrará de dukkha. É o principal fator que nos torna complacentes e descuidados, gradualmente arrastando-nos para baixo, seguindo o poder das astutas e enganadoras contaminações. O Buda também experimentou isso, mas ele foi capaz de transcender as coisas que tinham anteriormente oprimido seu coração. Quando nos tornamos fracos e preguiçosos, devemos refletir sobre a experiência do Abençoado e compará-la com a nossa própria. Ao tomar a sua forma como o nosso ideal, podemos ganhar inspiração para a nossa própria prática. Então seremos capazes de encontrar uma maneira de viver sem ter que sempre ceder às contaminações. Mesmo que seja difícil, podemos fazê-lo. Quando reconhecemos a verdade do sofrimento e a superação do sofrimento, em seguida, torna-se extremamente importante este caminho. Caso contrário, os problemas que detestamos e tememos sempre irão nos submeter. Sem tomar ação corretiva, é impossível para nós encontrarmos uma maneira de sair desta situação. Não importa se um método é difícil ou fácil. Enquanto ele é eficaz para extrair impurezas do coração, devemos usá-lo. Somos todos iguais no que diz respeito ao nascimento e morte, e temos experimentado dukkha nos vários domínios da existência até o momento presente. Todos nós nascemos e sofremos, somos iguais a este respeito. Todos nós já passamos por nascimentos e mortes repetidos, equiparando-nos na quantidade de sofrimento que já experimentamos. Não pode haver competição entre nós sobre o número de vidas que passamos, já que todo mundo teve tantas.
É uma história semelhante com dukkha, que é tão abundante em nossas vidas. Em vez de marcar notas altas no caminho do Dhamma, acabamos antes de tudo, juntos no caminho de dhukka. Com as contaminações como o guia, sempre seremos levados a mais e mais sofrimento. Se insistirmos em confiar nas contaminações, vamos sempre experimentar o sofrimento. Se não resistirmos a elas, nunca estaremos livres desta massa de sofrimento. Resistência à influência das contaminações é o caminho do Dhamma. Devemos ter inteligência para compreender o perigo inerente às contaminações, e para encontrar os métodos necessários para combatê-las de forma eficaz. Devemos utilizar todos os meios que são eficazes na superação das contaminações para reduzir dukkha. Se estes métodos são difíceis ou fáceis não é importante. Isto é como um artesão utiliza suas ferramentas, algumas serão fáceis de usar e outras mais difíceis. Ele tem que fazer uso delas como o trabalho exigir. Ele deve suportar as tarefas extenuantes, bem como as mais leves, continuando gradualmente, até finalmente realizar a tarefa exigida.
As ferramentas que selecionamos para a superação das contaminações, e para o desenvolvimento de uma base firme de plenitude e integridade no coração, todas vêm do Dhamma. As ferramentas do Dhamma são variadas e devem ser escolhidas para atender diferentes circunstâncias. Quando o coração é apenas ligeiramente perturbado pelas contaminações, a força de resistência não precisa ser tão vigorosa. Por exemplo, a quantidade de tempo que gastamos fazendo meditação sentada e andando não é tão importante, porque a tarefa em mãos ainda não atingiu uma fase crítica. Mas quando os nossos corações estão tão perturbados pelas contaminações, quando estamos afundando, então não podemos nos dar ao luxo de ficarmos ociosos e indiferentes. Devemos nos esforçar ao máximo, mesmo colocando nossas vidas em jogo, sem qualquer pensamento de rendição nem retirada. Devemos mobilizar toda a nossa Sati-Pañña (Sabedoria plenamente atenciosa) e aplicá-la à situação, não importa o quão árduo e difícil a tarefa possa parecer. Devemos perseverar em nossos esforços, independentemente de quão grave dukkha resultante possa ser.
Dukkha provocado por nosso esforço é de pouca importância quando comparada com dukkha que as contaminações têm acumulado sobre nós. Uma vez que estamos afundados em dukkha causado pelas contaminações, não há como dizer quando podemos emergir. Estamos todos conscientes do desconforto e da dor experimentado quando sentados ou caminhando em meditação por longas horas. Também estamos cientes de como é difícil conceber os diferentes meios de lidar com os vários tipos de contaminações, mas ainda não estamos conscientes da felicidade e maravilha que resultam da dificuldade de nossos esforços extenuantes. A experiência transcendente alcançada através da sabedoria é precisamente o que estamos aspirando e ansiando. Uma vez que os resultados seguem uma causa, que é o nosso esforço diligente, qualquer obstáculo pode ser superado. Mas se houvesse apenas dificuldade e sofrimento, sem a recompensa da paz e felicidade, então ninguém neste mundo seria capaz de continuar. Isto não se aplica apenas às pessoas comuns. Mesmo o Buda e seus discípulos Arahants não poderiam ter se iluminado para nós os tomarmos como um refúgio. Eventualmente, o tempo certo e a oportunidade irão surgir.
Esforço persistente é muito importante, como também o uso constante de raciocínio claro. Assim que os nossos esforços enfraquecerem, as contaminações irão crescer mais ameaçadoras e incisivas. Quando o nosso esforço afrouxar, as contaminações surgirão e se inflamarão, mas se o nosso esforço é intenso e nossa Sati-Pañña é afiada, então as contaminações gradualmente irão desaparecer. Isso ocorre porque as contaminações têm medo apenas do Dhamma, e nada mais. Só o Dhamma pode conter e subjugar as contaminações, o Dhamma da convicção, energia, atenção plena, concentração e sabedoria. Saddha é a fé nos frutos da iluminação do Buda, e confiança no Dhamma que ele expôs para o mundo como o Niyyãnika Dhamma (o veículo que nos conduz para além de samsara, para fora de dukkha). Isto é Saddha ou convicção. Se nós praticarmos seguindo o ensinamento do Iluminado, então certamente nós também realizaremos esses mesmos resultados satisfatórios e maravilhosos. Viriya é o esforço diligente, a energia. Seja qual for a tarefa que fazemos, seja interna ou externamente, quando é feito com esforço diligente sempre será certo e apropriado.
Quando o nosso trabalho é apoiado pelo esforço diligente, os resultados serão sempre bem-realizados e agradáveis aos olhos. Sati é a atenção plena, o fator importante que supervisiona cada tarefa e impede qualquer negligência ou erro. Samadhi é a resolução firme e compromisso com o trabalho em mãos, que nos guia para a realização final, sem distrações e instabilidades. Este é o aspecto causal do samadhi. O aspecto resultante de samadhi aparece como estabilidade e firmeza da citta, levando-a à experiência da felicidade e tranquilidade. Este resultado decorre do aspecto causal de samadhi, ou seja, concentração, focados em nosso trabalho, sem hesitar ou vacilar. O aspecto resultante do samadhi é a calma do coração, que conduz ao estado de ekaggatã, que o Senhor Buda descreveu como sendo a mente unificada, porque tem apenas um objeto. Pañña é a sabedoria penetrante. A sabedoria é o fator utilizado na observação e discriminação de todas as circunstâncias que possam surgir. O resultado de cada tarefa depende da aplicação de Pañña, que investiga e analisa tudo. Estas são forças do Dhamma, que constantemente levam-nos para longe de dukkha, o que nos permitem concluir qualquer trabalho que nos propusermos a fazer. O Buda disse que as quatro bases do poder espiritual (Iddhipãda) são igualmente de grande importância.
Chanda é a satisfação. Com o que estamos satisfeitos? Se estiver satisfeito com as contaminações, então elas sempre estarão presentes. Somos inclinados a procurar tudo o que nos encanta. O que quer que defina o nosso coração, vai aparecer. No entanto, as quatro bases não se referem a influências corrompedoras, mas à virtude que pode levar à realização de nossas aspirações. Eles são os quatro meios para atingir esses objetivos que estão ao nosso alcance. Chanda é a satisfação. Viriya é o esforço diligente. Citta é atenção e aplicação no trabalho. Vinamsa é a sabedoria abrangente. Estes quatro se combinam para formar uma única força eficaz para a realização de nosso trabalho. De fato, este é o Dhamma que pode construir um ser humano completo. Esses Dhammas podem ajudar a desenvolver uma base firme no coração, consolidando nossos esforços em torno de verdadeiros princípios orientadores, completo, com regras e disciplinas excelentes, e insuperável tradição e costumes. Isso garante que a prática não vá contra os princípios do Dhamma. Uma vez que o coração está em sintonia com o Dhamma, desta forma, é salvaguardado com a Proteção do Dhamma, Dhammãrakkhã. Com o Dhamma como o seu guardião, o coração vai constantemente prosperar. Influências nocivas constantemente irão declinar.
Independentemente de quanto tempo o coração pode ter sido débil e miserável, nunca chega a um estado de completa destruição porque permanece capaz de refletir e entender. Uma vez que o coração é purificado por meio do Dhamma do esforço, ele se tornará brilhante, fresco e pacífico. Esta é a chave, o fator essencial que vai transformar nossas aspirações em realidade plena. Simplesmente desejar sucesso não é o suficiente. Não podemos permitir ser enganados pela fraqueza e desânimo. Essa negligência que nos impede de perseguir e realizar o nosso objetivo. Seja o que for que fizermos ou pensarmos, no entanto, nunca devemos nos esquecer do Senhor Buda, nosso Sasada (Grande Mestre). Sempre que estivermos fracos e desanimados em qualquer tipo de trabalho, é preciso refletir sobre o exemplo dado pelo Senhor Buda, que alcançou a iluminação através de um esforço persistente, usando saddha, viriya, sati, samadhi e pañña. Convicção, energia, atenção plena, concentração e sabedoria. De que outra maneira ele poderia tornar-se iluminado, se não por estes Dhammas? Com o que é que vamos desenvolver e nutrir o nosso coração para que ele possa se destacar e estar em paz, para que possamos, pelo menos, sermos considerados seguidores do Mestre?
O Buda explicou o seu caminho de prática de uma forma precisa e ordenada, de modo que este é o caminho que devemos seguir. O que deu origem à frase: Dhammam saranam gacchami (eu tomo refúgio no Dhamma), se não essas cinco faculdades e poderes? Foram apenas esses cinco fatores que surgiram com o Buda. O mesmo é verdade para Sangham saranam gacchami (eu tomo refúgio na Sangha). Nenhum dos grandes discípulos eram fracos ou facilmente desencorajados. Uma vez que seguiram em frente no Buddha Sasana, eles foram caracterizados sempre por seu esforço diligente. Assim, o esforço diligente é uma qualidade extremamente importante que vai elevar constantemente a qualidade do coração de uma pessoa. Os cinco poderes: saddha, viriya, sati, samadhi e pañña podem elevar o coração e libertá-lo da opressão do sofrimento. Uma vez que tenhamos esses cinco fatores como apoio, somos obrigados a progredir constantemente até, eventualmente, nos libertarmos de dukkha. As quatro bases do poder espiritual também são fatores que elevam o coração, impedindo -o de ser oprimido e sobrecarregado. Eles nunca pesam no coração.
Alguns dos Sãvakas praticam meditação andando até as solas dos seus pés ficarem com bolhas. Pense nisso! Até seus pés ficarem com bolhas! Isto é esforço ou não? Alguns não dormem nada durante todo um período de três meses. O Ven. Cakkhupãla se esforçou assim até que seus olhos se romperam, fazendo-o ficar cego. Será que ele sofreu ou não? Pense o quanto ele se esforçou! Quanto a nós, não precisamos nos esforçar a ponto de arruinar nosso corpo. Se pudéssemos fazer as contaminações sofrerem, fazê-las correr e se esconder, isso por si só seria bastante louvável. Não deixe as contaminações enxamearem seus ouvidos, olhos, nariz e língua, seu corpo e coração. Uma vez que estiver infestado com as contaminações, você nunca vai ser capaz de encontrar a essência do Dhamma dentro do seu coração. Como, então, você vai encontrar qualquer paz? Devemos contar com estes princípios do Dhamma para erradicar essas contaminações que permanecem dominantes em nossos corações. Não valorize nada mais do que este Dhamma. É a ferramenta que irá superar as contaminações e conduzirá o coração para a total liberdade que tanto buscamos.
Qual é melhor, o coração que é livre ou o coração sob a tirania das contaminações? Quais são melhores, as pessoas escravizadas, sem qualquer liberdade ou pessoas livres? Enquanto não estivermos cansados de viver sob o poder das contaminações, então sempre estaremos submissos a elas. Mas, quando nos cansarmos de sua dominação e vermos o dano que causam , então vamos lutar para resistir a elas, por todos os meios que pudermos. Em última análise, teremos de contar com estas cinco ferramentas essenciais do Dhamma para eliminá-las totalmente. Onde é o campo de batalha para o praticante? O que aqueles que incansavelmente andam em cankama (meditação andando) e sentam-se em Bhavana (cultivo) dia e noite, tomam como seu campo de batalha e objeto de investigação?
O Senhor ensinou as Cattari Sacca Dhamma (4 Nobres Verdades) como os principais princípios do Dhamma. Estas Quatro Sacca Dhamma existem dentro dos corpos e mentes das pessoas. Também somos pessoas, então quando andamos em meditação e sentamos em Bhavana Samadhi buscando o Dhamma, temos de procurá-lo nas Nobres Verdades. Nós já sabemos sobre dukkha. Esse sofrimento surge nos corpos e mentes das pessoas e animais. Animais não sabem como sanar dukkha, mas nós sabemos. Quando dukkha surge no corpo, é algo verdadeiramente indesejável. Mesmo o corpo podendo ser normal e saudável, quando surge dukkha haverá desconforto e ansiedade. Enquanto dukkha se tornar mais grave, o nosso comportamento se tornará ainda mais desequilibrado. É o coração que está sendo atingido com intenso dukkha, então onde devemos olhar? Em vez de aliviar o problema, nossas ações tenderão a simplesmente piorar. A ideia de que podemos nos livrar do sofrimento intenso, usando palavras duras e comportamento ofensivo é completamente equivocada. Na verdade, o autor não apenas fere os outros com a sua manifestação de comportamento vil e ofensivo, mas também aumenta o seu próprio sofrimento. Ao invés de se livrar de seus problemas, ele apenas os aumenta e os espalha. Nós sondamos a causa do sofrimento, perguntando: Como dukkha surge? Este é um aspecto das Nobres Verdades.
Podemos estar cientes do sofrimento, mas não podemos superá-lo se não corrigirmos a causa original, essa causa é samudaya (a origem de dukkha). O que é samudaya? A raiz do sofrimento? É composta principalmente de desejo por prazeres sensuais, desejo por Ser/Existir e desejo por Não Ser/Existir. O Senhor chamou–lhes de "samudaya". O desejo por coisas que amamos e aversão por coisas que desprezamos são a causa-raiz do nosso sofrimento. Pensamentos e imaginações com base nas contaminações produzem dukkha, e assim podem ser classificados como samudaya. Todas elas se ramificam a partir da mesma árvore, que é o coração. Onde estão as verdadeiras raízes da cobiça, aversão e da ilusão? Estão todas plantadas/amputadas no coração, e em nenhum outro lugar. Primeiro vamos sondar e investigar o corpo , então nos voltamos para olhar o coração, para descobrir o que ele está imaginando e pensando. O coração evoca dukkha dia e noite, causando problemas intermináveis para nós e para os outros também. Assim o Senhor nos ensinou a usar atenção plena e a sabedoria para investigar e analisar nossos pensamentos. A mente tende a se preocupar com o corpo. Por que deveria? Há sempre um cemitério esperando para recebê-lo quando seu tempo acabar. O que pode ser alcançado por toda essa preocupação e possesividade? Será que a nossa ansiedade trará qualquer benefício? Não vai ela simplesmente se transformar em "Yampiccham nalabhati Tampi dukkham"? (desejo insatisfeito produz dukkha no coração).
Assim, o Buda aconselhou-nos a investigar a verdade em vez de ceder aos nossos desejos. Tendo sido formado, o rupakhandha (o corpo) está destinado a romper-se e desintegrar-se. Podemos ver isso de forma irrefutável quando investigamos com pañña. Não faz qualquer sentido ser tão possessivo com o corpo. Então, nós, em seguida, deixamos ir nosso apego e permitimos que o corpo siga sua própria natureza. Enquanto ele ainda se mantém unido, temos de perceber que a sua própria existência está inevitavelmente dirigida à dissolução. Este mundo está cheio de cemitérios aguardando a morte de cada pessoa. Se investigarmos seguindo os princípios do Dhamma, não mais estaremos incertos sobre nossa própria morte, ou sobre o lugar reservado para nós no cemitério. Uma vez que reconhecemos a nossa mortalidade, não estaremos abalados ou chateados. Depois de ver isso claramente dentro do coração, vamos abrir mão da morte, porque é uma lei fundamental da natureza. Temos que deixar a natureza seguir seu curso. Terra, água, ar e fogo vão seguir suas próprias naturezas essenciais.
Eles são como são. Deixe "aquele que sabe" conhecê-los verdadeiramente, e não confundir terra, água, fogo e ar sendo "Eu". Caso contrário eles se tornam parasitas enredando o coração com angústia e ansiedade. Nós os confundimos como sendo o "Eu", assim caímos em sofrimento. Vedana (sensações) é a mesma coisa. Temos experimentado sukha (felicidade) e dukkha a partir do momento de nosso nascimento até o presente. Independentemente de saber se é sukha e dukkha do corpo, ou do coração, todos eles são anicca, dukkha e anatta. Todos eles surgem, e depois desaparecem. Eles vêm à existência, com apenas uma finalidade... cessar. Como são sammuti (realidades convencionais), não podem ser permanentes, estáveis e inalteráveis. Qual é a natureza da sensação dolorosa? Sensações corporais não são difíceis de investigar quando a sabedoria penetra nelas. A dor do coração é mais difícil de ver, mas é especialmente importante para investigar.
Quando existe dor física, é sempre acompanhada por dor no coração. Esta é a maneira que as kilesas sempre enganam as pessoas. O objetivo de contemplar o corpo é corrigir nossa ilusão de que o corpo é o eu. A investigação de sukha e dukkha vedana é feito com a finalidade de eliminar a partir do coração a noção de que "este sentimento, sensação sou eu mesmo, eu sinto". Deixe as coisas serem como elas realmente são. Sensações são uma coisa, aquele que conhece é outra. Não misture-os. Isso é impossível de qualquer maneira, porque eles são intrinsecamente diferentes. Como eles podem ser combinados em um só? Por exemplo, duas pessoas podem ser combinadas em uma só? Uma pessoa é fardo suficiente, mas levar dois, três, quatro ou cinco pessoas torna-se extremamente penoso. Nós não poderíamos continuar assim.
Tendo sobre os ombros o fardo do corpo (rupa), nós também assumimos as cargas de Vedana, Sañña, Sankhara e Viññana, que são pressionadas pelo peso da upadana (apego). É o coração quem deve assumir a responsabilidade, de modo que o coração sozinho deve arcar com as consequências, mesmo ele não ganhando nada com o apego. E, no entanto, ainda insistimos em nos agarrarmos a eles? Devemos investigar assim para ver a verdadeira natureza da dor. Quanto a Sañña (memória/reconhecimento), o que nos lembramos é logo esquecido. Saññãvãssa vimýhati. É assim que o Senhor Buda descreveu, e quem pode discutir com ele? Sañña é transitória, memória vem e vai, sañña aniccatta. Os bhikkhus cantam para o morto: "Anicca vata sankhara" (impermanentes são todas as coisas condicionadas). Nós cantamos isso e ainda assim nos imaginamos sendo “pessoas” porque tomamos os cinco khandhas como nós mesmos. Na verdade, eles são anicca, dukkha e anatta. Devemos investigar usando pañña, diferenciando e analisando, de forma a ver a verdade por completo em todos os seus aspectos. Não tenha medo da morte. A morte não é encontrada dentro de citta. Ao trazer a tona o medo, você só vai conseguir enganar a si mesmo e acumular sofrimento. Isso vai ao contrário do Dhamma, que é a verdade do Senhor Buda
Quem tem convicção no Senhor Buda não deve ir contra a verdade, mas deve investigar para ver de acordo com a realidade usando o poder de pañña. Aquele que faz isso é alguém que realmente tomou Buddham saranam gacchami (tomo refúgio no Buda), e não da boca pra fora. O Buda ofereceu o Dhamma a todos os seres vivos, assim também nós deveríamos ser capazes de compreender as Quatro Nobres Verdades. Elas existem dentro de cada um de nós. Sankhara significa fabricações mentais. Essas formações são confiáveis quando concebe, imagina, e fabrica? Elas criam varias formas a partir de várias coisas. Por exemplo, tome a forma de um boneco que, eventualmente, se desfaz. Nossos pensamentos são a mesma coisa. Podemos pensar em coisas boas ou ruins, mas todos eles se tornam mentiras para nos enganar, porque a citta ainda é tola. Ela é facilmente levada por qualquer delusão. É dessa maneira.
Uma vez que ela é facilmente levada, ela é enganada. Mas se tivermos sabedoria para salvaguardar e cuidadosamente examinar nossos pensamentos, independentemente de quantas mil vezes por segundo sankharas criam conceitos, então eles sempre serão contidos. Podemos enganar a sabedoria? Ela compreende que sankhãra é sankhãra, e essa "cognoscência" é o coração. Então, como podemos ser enganados por essas formações? Por que sermos surpreendidos por nossas próprias sombras? Isto é precisamente o que sankhãras são, sombras. É o mesmo com viññana que "pisca" sempre que as coisas entram em contato com os olhos, ouvidos, nariz, língua e corpo, ou pelo coração. Em seguida, depois do surgimento da consciência, a citta concebe e imagina usando sankhãra e sanna, permitindo fabricações surgirem e nos enganarem
Estamos constantemente caindo por nossos próprios objetos mentais dia e noite, e isto é apenas delusão que acarreta em dukkha. Esta é uma consequência de estar iludido. Se não vemos o dano aqui, onde mais podemos vê-lo? Vamos perceber sacca Dhamma exatamente neste momento, e então sondá-lo com grande precisão. O importante não é quantas vezes verificamos isso, mas quão claramente o entendemos com sabedoria. Então, dessa forma a sabedoria pode perfurar qualquer apego. Mesmo que pareça ser tão grande como uma montanha, todas as impurezas serão desintegradas totalmente. Uma vez perseguido pela sabedoria, o desejo terá que recuar para a "grande caverna", direto para a citta.
Temos de atacar ali com pañña. Onde está a verdadeira substância por trás das sombras de anicca, dukkha e anatta? Siga mais além. Sua substância real está na citta , onde todas elas se reúnem. Além disso, há apenas sombras - delusões em Rupa, Vedana, Sanna, Sankhãra e Vinnana. Uma vez que Pañña viu completamente esses delírios, eles irão convergir para o coração. Nesse ponto, devemos estar dispostos a segui-los e destruí-los aqui, em seu esconderijo no coração. Quando eles estão lá, eles são como bandidos esperando em emboscada para atirar em nossas cabeças. Onde quer que bandidos se escondam, não importa o quão valioso o esconderijo possa ser, temos de fazê-lo explodir, atirando explosivos; destruindo tudo, incluindo os bandidos. Tacar fogo em tudo. Se tudo deve ser destruído, então que assim seja. Nós ainda temos vida e podemos construí-la de novo, pois não morremos junto com isso. Portanto, temos que bater duramente para que as kilesas sutis se reúnam todas dentro do citta.
Devemos, então, investigar a vê-las todas como um monte de anicca, dukkha e anatta, porque estas kilesas são a essência da realidade convencional. Depois disso, devemos eliminá-las totalmente de citta. Depois de terem sido esmagadas e dissipadas, vamos ver se a citta também foi aniquilada. Mas não foi, porque para a citta não tem cemitério. A citta por sua própria natureza é Amata, Imortal, mesmo quando ela ainda tem kilesas. O Buda chamou isso de dissolução completa das kilesas, o fim do perigo e a extinção dos fogos de raga, dosa e moha (ganância, ódio e ilusão) pelo elixir do Amata Dhamma (Dhamma Imortal). Com as kilesas totalmente eliminadas, só pureza imaculada permanece. E lá, na citta perfeitamente pura é o lugar onde a felicidade perfeita é encontrada. Lá, todo o trabalho chega ao fim. O Senhor disse: "Vusitam brahmacariyam katam Karaniya naparam itthattãyãti pajãnãti”. "A tarefa foi concluída. A vida santa foi vivida. Não há mais trabalho a ser feito”. Isto porque a sabedoria perfeita foi alcançada. Isso, então, é o fim do sofrimento. Este é o lugar onde ele termina.
A última palavra do Dhamma é encontrada aqui neste coração purificado. O Buddham, Dhammam, Sangham saranam gacchami, que nós reverentemente repetimos em nossos corações, todos convergem para esse estado natural de pureza. Este estado e a lembrança do Buda tornam-se unificados. Em seu verdadeiro estado natural, Buddho, Dhammo e Sangho é justamente essa pureza absoluta. A questão do tempo e do lugar do parinibbana do Buda (passagem definitiva) é totalmente resolvida, porque o verdadeiro estado natural de Buda, Dhamma, e Sangha agora existem no coração. Este é o tesouro inestimável do coração. Quando o verdadeiro estado das coisas é visto, todas as questões são resolvidas, o problema termina. Para onde o Senhor Buda foi quando ele faleceu? Seu corpo físico simplesmente se desintegrou após seu curso natural. Os órgãos são os mesmos em todos os lugares. Mas a natureza purificada, Buddho completo, não foi aniquilado. Não morreu. Ele transcende espaço e tempo.
Esse é o verdadeiro Buda. Isto é o que chamamos de: Buddham, Dhammam Sangham saranam gacchami. Como pode essa natureza ser aniquilada? Precisamos ver isso claramente dentro do nosso próprio coração e usar isso para verificar esta natureza, uma vez que tenhamos atingido um estado de pureza absoluta. Esta será então a prova absoluta. Assim é como todos os Arahant Sãvakas (Discípulos Iluminados) entenderam a verdade. Onde quer que estejam, eles estão juntos do Dhamma, com o Buda, Dhamma, e Sangha, tendo audiência com o Senhor Buda o tempo todo, akãliko (intemporalidade). Eles são inabaláveis porque o elixir do Amata Dhamma extinguiu, apagou totalmente o fogo do desejo dentro de seus corações, sem deixar resíduo. "Tesam vupasamo sukho", a cessação de todos os Sankharas é a felicidade suprema. Uma vez que os Sankharas no coração, a causa de dukkha, são totalmente extintos, então chegamos a Suprema Felicidade
A natureza que sabe é especialmente adequada para todos os níveis do Dhamma, incluindo o Dhamma Visuddhi, que é o estado de pureza. Não há mais nada além desta sabedoria. Por favor, purifiquem continuamente esta natureza conhecedora, gradualmente livrando-a de todas as influências contaminadas. Então, não haverá necessidade de perguntar onde, ou o que é Nibbana. Tendo alcançado a citta purificada, todas as questões serão finalmente resolvidas.
Tradução do Tailandês para o Inglês por Ajahn Suchart Abhijato
Tradução do Inglês para o Português por Leon R. Franco
Formatação e Revisão por Pedro Fabrini
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