O segredo da felicidade

Pergunta feita por um repórter de um canal de TV a cabo da Tailândia a Ajahn Suchart em 11 de Janeiro de 2007.



Pergunta: O que é kamma, e como mantemos a felicidade constante?

Resposta: Kamma no Budismo significa ação: o que fazemos por meio de nossos pensamentos, palavras e ações, é a causa da nossa felicidade ou tristeza. Então, temos que observar o que fazemos, o que dizemos e o que pensamos. Especialmente o que pensamos, porque é o que nos diz o que fazer e o que dizer. Como hoje, antes que você pudesse vir aqui, primeiro você teve que pensar que queria vir me ver. Então teve que dizer aos seus amigos que preparassem todos os equipamentos e viessem aqui.
Kamma é as três ações de pensamentos, palavras e atos que podem ser bons, ruins ou neutros. Se você fizer o bem, se tornará feliz. Você se sentirá bem. Como se você quisesse ajudar alguém hoje, você pode dar comida aos idosos ou deficientes. Talvez seja seu aniversário e você quer fazer algo de bom. Quando faz isso, vai se sentir bem. Por outro lado, se você roubar ou diz algo ruim para outras pessoas, você ficará mal depois de ter feito. Se você fizer o bem o tempo todo, você sempre será feliz. Mas se você fizer o mal, você sempre se sentirá mal.
É por isso que o Buda enfatizou as duas ações que mencionei anteriormente: faça boas ações e evite fazer as más. Além disso, você também precisa se livrar das três impurezas: ganância, ódio e ilusão, porque são as causas das nossas ações ruins, mesmo que você não acredite. Quando você quer algo e pode obtê-lo legalmente ou moralmente, então está tudo bem. Mas se você não pode comprar algo e ainda assim deseja tal coisa, você pode roubar o objeto ou roubar um banco para obter o dinheiro para comprá-lo ou fazer o que você quer fazer. É tudo por conta da sua ganância.
Você tem desejo. Você quer fazer isso e aquilo.
Mas na verdade você não precisa fazer nada para ser feliz.
Apenas fique quieto. Não podemos ficar quietos porque a nossa ganância continua nos manipulando para possuir coisas e criar problemas.
Nós temos que competir com outras pessoas e talvez ter que fazer coisas que não são adequadas, nem corretas, nem legais.
Isso nos coloca em problemas. Mas se podemos superar nossa ganância e desejo de ter isso e ter aquilo, fazer isso ou fazer aquilo, então podemos ficar em casa, seguros e sadios.
Assim, a causa raiz de todos os nossos problemas é a ganância, o ódio e a ilusão. Quando queremos algo e alguém nos impede de obtê-lo, ficamos bravos com essa pessoa. Nos irritamos e queremos fazer algo ruim para essa pessoa. O que nos faz tornarmo-nos gananciosos é a nossa ilusão, sem saber o que é a verdadeira felicidade. Nossa ilusão sempre nos diz que há algo melhor do outro lado da cerca, que a grama é sempre mais verde do outro lado. Mas, na verdade, não há nada neste mundo que realmente possa nos trazer a verdadeira felicidade.
Tudo está carregado de problemas, dor, ansiedade e preocupação porque tudo muda, nunca permanece o mesmo. Quando conseguimos o que queremos, no início, é bom. Então, dentro de alguns dias, torna-se azedo ou não presta mais e precisamos procurar outra coisa. Isso se aplica a tudo: humanos, animais e coisas animadas ou inanimadas. O Buda disse que eles são todos impermanentes e se tornam a causa do nosso estresse mental, ansiedade e preocupação.
Se queremos ter uma vida pacífica e calma, então devemos renunciar a essas coisas, não confiar nelas. É o que chamamos de sabedoria. Devemos nos dizer que nada neste mundo vale a pena o esforço.
É melhor viver sem essas coisas. Mas é difícil, porque a nossa ilusão e ganância continuam a nos empurrar, impedindo-nos de ficar em casa e não fazermos nada. Nos sentimos terríveis, entediados, solitários e miseráveis quando não temos nada para fazer.
Mas esses sentimentos podem ser superados com a prática que o Buda prescreveu para todos os budistas, ou seja, três ações: fazer o bem, evitar o mal e eliminar as três impurezas. Fazer o bem significa dar coisas a outras pessoas, ajudar outras pessoas. Evitar fazer o mal significa não machucar outras pessoas, mantendo os cinco preceitos. Para eliminar as impurezas da ganância, do ódio e do delírio, devemos meditar.
Temos que nos sentar e nos concentrar em um objeto mental em particular, a respiração, por exemplo. Apenas se concentre nesse objeto e tente evitar pensar em qualquer coisa. Apenas concentre-se na respiração. Ao inspirar, fique atento a esta inspiração. Ao expirar, fique atento a expiração. Observe a mente. Não deixe que ela pense em outras coisas. Se persistimos em manter nossa mente concentrada em nossa respiração, mais cedo ou mais tarde, nossa mente convergirá e se deixará cair na calma, como uma bola de golfe que entrou em um buraco. Quando a bola cai no buraco, não pode se mover.
Da mesma forma, quando a mente converge para a mente solitária, descansará e ficará em paz consigo mesmo. Nessa fase, experimentaremos a felicidade espiritual, uma sensação de bem-estar, calma e satisfação. Se experimentarmos isso apenas uma vez, saberemos que esta é a resposta para a vida. Isto é o que todos estamos procurando.
É o Santo Graal budista.

Retirado do livro Dhamma for the Asking - A collection of Dhamma Talks, volume 1. Página 4. 

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