Uma breve história do Budismo Theravada no Brasil
Com informações retiradas do site da Sociedade Budista do Brasil
O Vihāra de Santa Teresa (1968 a 1972)
No intuito de criar a infraestrutura necessária à divulgação e prática do Dhamma no Brasil, a SBB almejava, à época, a concretização de três objetivos: obter o reconhecimento da WFB – World Fellowship of Buddhists (Fraternidade Mundial de Budistas); viabilizar a vinda de um bhikkhu (monge) ao Brasil e construir o primeiro vihāra (templo gerido e habitado por monges) em solo latino-americano.
O ano de 1968 fora decisivo para o sucesso deste projeto. Neste ano, atendendo ao convite para liderar as atividades da SBB, chega ao Brasil o Venerável Anuruddha – monge da tradição Theravada, natural do Sri Lanka, que aceitara se dedicar ao trabalho pioneiro que lhe fora proposto.
Sob sua orientação, efetua-se, no dia 18 de janeiro, a compra do terreno onde até 2016 funcionou o Rio Buddha Vihāra. Situado no alto de uma colina, no bairro de Santa Teresa, o terreno foi comprado por um grupo de 38 pessoas em nome da Sociedade Budista do Brasil, com a finalidade de se construir um centro de meditação para abrigar os retiros que a SBB já então promovia.
É também sob a tutela de Ven. Anuruddha que, em maio de 1968, realiza-se a primeira celebração de Vesak (principal feriado budista) por uma organização brasileira. Neste mesmo mês, 52 brasileiros tomam refúgio no Buddha, no Dhamma e na Sangha, e fazem votos de seguir os Cinco Preceitos – isto é, assumem o compromisso de seguir a conduta ética básica que caracteriza um discípulo leigo do Buddha.
Ainda em 1968, a SBB envia o pedido de filiação à WFB, em Bangkok – pedido que será aceito dois anos depois, em 1970. Neste mesmo ano, a SBB recebe do Governo da Tailândia alguns presentes muito especiais, que se encontram até hoje em sua sede: um altar completo, com uma grande estátua do Buddha dourada e um conjunto de mesas decoradas, e uma coleção de 27 volumes do Tipitaka– o cânone de escritos budistas, cuja importância reside no esforço histórico em preservar o que o Buddha pessoalmente teria ensinado.
A construção do vihāra exigiu pouco mais de três anos, envolvendo o trabalho do Bhikkhu Anuruddha e de vários leigos que contribuíam com donativos e mão de obra.
Entusiasmado, o Ven. Anuruddha trabalhava na obra durante o dia, e, ao anoitecer, descia para a cidade para a realização do Puja – a prática de cânticos de respeito e reflexão – na sede que então situava-se no Centro do Rio de Janeiro.
Terminada a construção, o lugar foi inaugurado no Vesak de 1972, com a presença do Governador do Estado da Guanabara, Dr. Chagas Freitas, e mais de 200 pessoas.
Os monges das primeiras décadas (1973 a 1990)
Entre 1972 e 1973, o Ven. Anuruddha opta por deixar o manto, retomando seu nome de batismo – Don Kulatunga Jayanetti – e voltando à vida leiga.
Em 1973, George da Silva assume como presidente. Durante seu mandato, que vai até 1976, a sede da SBB é finalmente transferida para o vihāra de Santa Teresa, onde passam a ser realizadas meditações em grupo e palestras semanais sobre o Dhamma.
Neste período, convidado pela diretoria da SBB, o monge Soto Zen Ryotan Tokuda se prontifica a suprir a ausência de um monge da tradição Theravada, o que fez por cerca de seis meses. Em 1974, Tokuda organiza as celebrações de Vesak e três retiros para treino de meditação.
Em dezembro de 1975, chega ao vihāra o bhikkhu cingalês Shanti Bhadra Thera, graças aos esforços do então presidente George da Silva. Segundo monge Theravada a orientar a Sociedade, Ven. Shanti Bhadra permanece na SBB por cerca de três anos, regressando ao Sri Lanka em janeiro de 1979.
Ainda durante os anos 70, outros dois monges assumiram a orientação espiritual do vihāra do Rio de Janeiro: o famoso bhikkhu cingalês Piyadassi Maha Thera, e aquele que foi o primeiro brasileiro a se ordenar monge na tradição Theravada, o bhikkhu Dhammananda. Ven. Dhammananda abandonou o manto após poucos anos, voltando a ser reconhecido na SBB por seu nome de batismo, Kaled Amer Assrauy.
A vacância iniciada em 1979 perdurará até dezembro de 1985, quando o Ven. Dr. Puhulwelle Vipassi Thera chega ao Rio de Janeiro, procedente de Londres.
Seguindo uma tendência forte em países budistas, Ven. Vipassi era um monge acadêmico. Foi graduado pela Universidade de Keleniya, Sri Lanka, em Estudos Orientais, Oferecimentos, Cingalês, Páli e Economia. Lecionou em diversos colégios do Governo do Sri Lanka e, posteriormente, tornou-se chefe do Departamento de Páli e Inglês na Djittabhavan University College, na Tailândia. Depois, o Ven. Vipassi encarregou-se da obrigação de propagar o Budismo no exterior. Em Londres, Birmingham e Wolverhampton, o Ven. Vipassi seguiu seus estudos e foi abade dos vihāras daquelas cidades inglesas – até que, em 1985, veio ocupar o lugar de abade do templo da Sociedade Budista do Brasil, no Rio de Janeiro.
A linhagem monástica do Ven. Vipassi o reconheceu oficialmente, sendo ele o único monge a habitar o continente, como Primaz Theravada para o Brasil, concedendo-lhe o título Nayaka Thero – o responsável pelo Budismo Theravada na América do Sul. De sua chegada até o fim de sua vida, em 2006, Ven. Vipassi dedicou-se à orientação espiritual da Sociedade Budista do Brasil, realizando também visitas anuais ao London Buddhist Vihāra, na Inglaterra.
Bhante G e a tradição da floresta (1991 a 2005)
Em 1988, Ven. Vipassi recebe a visita do antropólogo e professor da PUC-SP Arthur Shaker, que se prepara para uma longa viagem à Ásia. Ao voltar desta viagem, em 1991, o professor Arthur idealiza e concretiza a fundação da Casa de Dharma, centro leigo de Budismo Theravada inaugurado por ele, Cristina Flória e Cassiano Quillici na noite de Vesak daquele mesmo ano.
A partir desta primeira conexão entre os grupos do Rio de Janeiro e de São Paulo, o professor Arthur virá a se tornar um grande amigo e uma importante referência, muito estimado e presente na Sociedade Budista do Brasil.
É através do professor Arthur que a SBB passa a receber as visitas do Ven. Gunaratana Mahā Thera – visitas que, ao longo dos anos de 1990, vão se tornando cada vez mais frequentes. Ven. Gunaratana (ou Bhante G, como é carinhosamente chamado) é o famoso abade do Bhavana Society, mosteiro de matriz cingalesa situado em West Virginia, Estados Unidos. Trazido ao Brasil a convite da Casa de Dharma e da comunidade Nalanda (grupo Theravada de Belo Horizonte, fundado pelo prof. Ricardo Sasaki), Bhante G passa a também frequentar o vihāra , que recebe seus ensinamentos em retiros e palestras. Entre a metade dos anos 1990 e meados dos anos 2000, Bhante G foi uma das grandes influências entre as comunidades Theravada brasileiras.
Dentre os monges que até então haviam ensinado no Brasil, Bhante G foi, provavelmente, o primeiro que se dedicava majoritariamente à prática da meditação e ao seu ensino. É comum, na Ásia, que os monges se dividam entre monges de cidade – de orientação mais administrativa e acadêmica – e monges de floresta – que vivem em mosteiros mais rústicos, dedicando-se mais à contemplação propriamente dita. É claro que encontram-se estudiosos e escritores entre os monges de floresta, tanto quanto meditadores entre os monges urbanos, mas há, de todo modo, um padrão geral reconhecível – padrão que, segundo o testemunho textual, parece ser tão antigo quanto o próprio budismo.
Deste modo, a partir dos anos 2000, a SBB começa a conviver com diferentes estilos de orientação espiritual: do orientador permanente, Bhante Vipassi, mais dedicado ao cerimonial da casa; de monges da tradição da floresta como Bhante G, mais voltados às questões da meditação e do insight; e, finalmente, de professores leigos (membros da diretoria da SBB ou convidados, como o professor Arthur Shaker) que, inspirados pelo convívio com os mestres e diante da falta de mais monges, assumiam para si a tarefa de instrução da ainda incipiente comunidade budista no país.
Em 1992, durante a realização da conferência mundial Eco92, a SBB recebe a visita do primeiro ministro do Sri Lanka que traz consigo uma muda de árvore de Bodhi que é cerimonialmente plantada no terreno. A partir dessa época o Brasil começa a receber também as visitas de outros monges vinculados a Bhante G: o Bhikkhu Yogavācara Rahula, um dos monges mais importantes para a história recente da SBB, vem pela primeira vez no Brasil em 1996, e o Bhikkhu Buddharakkhita, natural de Uganda e fundador do primeiro mosteiro Theravada na África, o Uganda Buddhist Centre, faz sua primeira visita em 2007. Ambos irão oferecer ensinamentos em retiros e palestras e virão a se tornar grandes amigos da SBB – professores muito queridos e respeitados que, com frequência, nos alegram com suas visitas.
Momento de transição (2005 a 2012)
Bhante Rahula foi, por mais de duas décadas, vice-abade do Bhavana Society. Ele começou a visitar o Brasil para suprir a demanda pelos ensinamentos de Bhante G – que, com idade já avançada, começava a enfrentar dificuldades para fazer viagens longas. Entre 2006 e 2012, Bhante Rahula torna-se o principal orientador espiritual da SBB e é, até hoje, um dos principais conselheiros e orientadores da diretoria.
Bhante Rahula foi, aliás, quem deu o nome com o qual a SBB batizou sua sede: Rio Buddha Vihāra.
A partir de 2006, dez anos depois da primeira visita ao Brasil, ele passa a visitar a SBB com uma frequência quase anual. Desde 2010, quando abdicou do cargo de vice-abade no Bhavana Society, Bhante Rahula torna-se um monge itinerante, alternando estadias em centros de meditação e mosteiros de diferentes partes do mundo. Contudo, o vihāra do Rio de Janeiro foi um dos lugares que sempre contaram com sua dedicação: em visitas regulares, Bhante Rahula conduz retiros, palestras e outras atividades, oferecendo suporte e orientação espiritual. Este apoio será de fundamental importância para a restauração que a SBB viverá – e que se tornará mais intensa a partir de 2012.
Esta reestruturação tem origem no ano de 2005, quando uma nova diretoria leiga é formada, a pedido do Ven. Vipassi e de Don Jayanetti. O médico psiquiatra Jorge Aloice, então, assume como presidente, e seu mandato durará dois anos.
Durante a gestão de Jorge Aloice, a diretoria leiga passa a exercer um controle mais direto da administração da casa, ajustando-se a um afastamento progressivo do Ven. Vipassi, que lidava com problemas de saúde. Neste ano de 2005, Don deixa de morar na sede da SBB, onde residiu por muitos anos, e Ven. Vipassi retorna à Inglaterra, vindo a falecer em 2011.
À época, a sede de Santa Teresa encontrava-se desgastada, com sérios problemas estruturais e financeiros, e sem um orientador espiritual residente.
O então presidente Jorge Aloice e a diretoria renovaram o estatuto, começaram um plano de melhorias na estrutura física da sede e buscaram estreitar o relacionamento com mosteiros importantes da tradição Theravada no Ocidente: em especial, o Bhavana Society e o Amaravati Buddhist Monastery – mosteiro situado na Inglaterra e posto central no Ocidente de uma muito respeitada organização da tradição de floresta tailandesa, a Forest Sangha.
Neste período, alguns membros da diretoria realizam viagens para participar de importantes eventos budistas pelo mundo, o que permite estabelecer novas conexões com monges e instituições. Assim, a SBB alarga seu leque de contatos, trazendo novos professores monásticos para ensinar no Brasil e estreitando os laços com a Sangha.
Em 2007, a vice-presidente Fabiana Gomes viaja à Inglaterra e pede pessoalmente a Luang Pó Sumedho, à época abade do mosteiro Amaravati, que monges qualificados visitem a sede da SBB em Santa Teresa. Logo depois, os monges Ajahn Vajiro – atualmente abade do mosteiro Sumedharama, em Portugal – e Ajahn Ariyasilo vêm ao Brasil, compartilhando ensinamentos e deixando conselhos.
No mesmo ano, Jorge Aloice renuncia e o comando é deixado para Fabiana Gomes. A sede demandava urgentemente de melhorias e eram poucos os frequentadores e voluntários. Com muito esforço, a diretoria conseguiu manter a SBB ativa, promovendo retiros e cursos – contando com o valoroso apoio da Casa de Dharma, em especial, do professor Arthur Shaker.
A SBB enfrentará, também neste período, outro grande desafio: a interdição do vihāra de Santa Teresa, que ocorreu devido a um deslizamento de terra, na ocasião das fortes chuvas de abril de 2010. Neste momento, a Sociedade Budista do Brasil parecia estar perto de sua extinção.
Todavia, graças à generosidade de um antigo praticante, as atividades se mantiveram: o médico e acupunturista Sohaku Bastos cedeu espaço em sua propriedade – uma bela casa na Rua Alice, no bairro das Laranjeiras – e ali a SBB estabeleceu uma sede temporária.
A partir daí, dá-se o início de uma significativa virada. A realização de Pujas, meditação, palestras e grupo de estudos em local de fácil acesso começa a atrair um número maior de praticantes. Têm início as obras de recuperação da sede de Santa Teresa, que puderam ser realizadas graças a doações de praticantes generosos. Começam também a ser realizados mutirões de trabalho na sede, o que aproxima os novos frequentadores e voluntários. Muitos dos que chegaram à SBB neste período, entre 2010 e 2012, tornaram-se voluntários assíduos e membros das diretorias seguintes.
Em 2011, João Nery Rafael é eleito presidente. No seu 1º mandato, uma importante decisão é tomada: todas as atividades da Sociedade, em absoluto e sem exceção, passam a ser financiadas pela generosidade. Ou seja, nada que a SBB oferecesse (retiros, cursos, livros etc) poderia ser cobrado, e a única forma de subsistência possível seriam doações voluntárias.
Tal decisão estabelece em definitivo um novo momento, no qual a SBB afirma a busca por seguir a tradição Theravada da forma mais autêntica possível. Para isso, espelha-se no funcionamento de mosteiros e tradicionais centros de prática ao redor do mundo, buscando assim se aproximar cada vez mais dos membros da Sangha e oferecer suporte a frequentadores interessados em praticar a meditação, a disciplina e os ensinamentos deixados pelo Buddha.
A SBB refloresce (2012 a 2015)
Após a construção do muro de arrimo, a sede de Santa Teresa ganha condições de voltar a funcionar. Sua reinauguração oficial acontece em outubro de 2012 e as atividades, que então aconteciam na sede temporária da Rua Alice, voltam a ter lugar no vihāra. A partir daí, estimulou-se a utilização e a ocupação da sede, visando a revitalização do espaço.
Este movimento de retorno ao vihāra tem início no começo de 2012 quando, após um longo período com os retiros sendo realizados em espaços alugados, realizam-se dois retiros residenciais na sede de Santa Teresa: um com ensinamentos de Bhante G, e outro com o monge alemão Piyadhammo Bhikkhu como professor. No segundo semestre de 2012, realizam-se diversos retiros curtos, além de mutirões, encontros para estudos de Suttas, sessões de meditação, Pujas etc, e o público volta a crescer. Motivados em ajudar na revitalização do vihāra, um grupo de pessoas – que incluía o presidente João Rafael – passa a residir temporariamente na casa, doando energia e tempo para a renovação do espaço.
Nos anos que seguem, o Rio Buddha Vihāra vai gradativamente passando por reformas e melhorias. Após alguns ciclos de obras, e graças à generosidade de membros que empenharam muitos esforços, doando trabalho e recursos, o Rio Buddha Vihāra passou por uma verdadeira transformação, e hoje pode oferecer aos visitantes uma estrutura física mais confortável, agradável e acolhedora.
A presença de Bhante Rahula foi de suma importância para esta revitalização, tanto por sua dedicação diligente ao trabalho e às obras, quanto pela motivação que oferece aos praticantes nos períodos de sua estadia. A partir de 2013, tornou-se comum que, nas semanas ou meses em que Bhante Rahula estivesse no vihāra, os leigos se organizassem para passar temporadas na casa, seguindo uma disciplina que inclui acordar para meditar e fazer cânticos ao nascer do sol, abster-se de refeições após o meio dia e abrir mão de entretenimentos como televisão e música. Vivenciando então uma rotina de meditação e trabalho, os praticantes podem se dedicar a absorver os ensinamentos oferecidos em sessões de meditação guiadas, palestras do Dhamma e rodadas de perguntas e respostas – bem como usufruir de conversas nos momentos de convívio.
Logo a ocupação do vihāra por grupos de leigos tornou-se comum também durante as estadias dos outros monges visitantes, levando à formação de uma comunidade de praticantes que ansiava, cada vez mais, pela presença de professores monásticos. Assim, vai se dando gradativamente um estreitamento das relações entre a SBB e a Sangha. No início de 2013, a alegria gerada pela vinda simultânea de 3 monges ao vihāra (Bhante Rahula, Ajahn Piyadhammo e Ajahn Mudito) foi um marco deste momento de renovação e desta inclinação às práticas da tradição da floresta.
Entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013, o vihāra recebe praticantes para um retiro de 20 dias liderado por Ajahn Piyadhammo. Inspirado por este período, um então membro da diretoria antecipa um plano que amadurecia havia algum tempo e parte, dentro de poucos meses, para a ordenação monástica: em agosto de 2013, o mineiro Raryel Costa recebe ordenação de Samanera em Wat Marp Jan e, em 2014, torna-se Adipañño Bhikkhu no mesmo monastério.
Seguindo os passos de Tan Adipañño, outros três jovens brasileiros lançam-se para a vida monástica após passar um período de preparação no Rio Buddha Vihāra: em 2015, Samanera Sudhira e Anagarika Mettiya foram, respectivamente, para a Tailândia (Wat Boonyawad) e Sri Lanka (Na Uyana Aranya) e, em 2016, o Anagarika Ícaro Mendes seguiu para a Tailândia (Wat Marp Jan), onde foi ordenado em dezembro de 2016 e recebeu o nome de Rocanavamso Bhikkhu.
Além da presença de Bhante Rahula, a SBB teve o prazer de contar, entre 2013 e 2015, com as visitas inspiradoras de Bhante Buddharakkhita, Ajahn Dhammiko, Ajahn Mudito e Ajahn Piyadhammo. Durante este período, cresce na diretoria da SBB o desejo de estabelecer a Sangha definitivamente no Brasil. Além de almejar a presença permanente de monges, a SBB passa a nutrir o intuito de entregar a gestão do vihāra à Sangha, assumindo o papel de dar suporte às decisões que a hierarquia monástica tomar. Esta ideia é gradualmente amadurecida em conversas com os monges acima citados. Enquanto isso, cresce também a identificação da atual diretoria com a Forest Sangha.
A Estupa, a visita de Luang Pó Sumedho e a Forest Sangha (2015 e 2016)
O ano de 2016 se inicia com grandes expectativas. Neste ano, o Rio Buddha Vihāra recebeu a ilustre visita de Luang Pó Sumedho, que veio pela primeira vez ao Rio em janeiro. Desde 2013 o vihāra não recebia tantos monges de uma só vez: além de Luang Pó Sumedho, estiveram no vihāra seu atendente Ajahn Asoko, o brasileiro Ajahn Mudito e o português Ajahn Dhammiko, que viera conduzir o retiro de Carnaval.
Além deles, o vihāra viria a receber ainda as visitas de outros dois monges sêniors muito respeitados: em fevereiro, Bhante Rahula chegaria para uma nova temporada e, em abril, Ajahn Thanissaro aproveitaria a vinda ao Brasil, a convite da Sociedade Vipassana de Brasília, para encher a SBB de alegria e honra ao passar alguns dias no Rio Buddha Vihāra.
No ano anterior, em 2015, Bhante Rahula havia lançado a ideia da construção de uma estupa – que, segundo ele, era a última coisa que faltava para o Rio Buddha Vihāra ser um verdadeiro vihāra. O projeto foi feito, mas, à época, não houve tempo para ser realizado. Ficou porém a ideia, sendo alimentada para uma próxima oportunidade.
Com o fim do período de estadia de Bhante Rahula naquele ano, a SBB passa a se organizar para viabilizar a construção da estupa. Lançam-se campanhas para arrecadar fundos e a diretoria procura estratégias para encontrar mão de obra qualificada para uma construção tão pouco comum no Brasil. Em conversas com Ajahn Mudito, que então residia na Tailândia, o monge brasileiro aceitou ajudar neste projeto, intermediando contatos entre a SBB e apoiadores da Sangha na Tailândia que poderiam se interessar em contribuir com a disseminação do Dhamma em nosso país. Ajahn Mudito encontrou então um artista tailandês que se voluntariou a fazer a construção como doação e disponibilizou-se a acompanhá-lo enquanto durassem as obras.
Tudo certo para a nova temporada de obras, agora era hora de levantar fundos. Doadores brasileiros e tailandeses se entusiasmam em viabilizar um projeto tão auspicioso, e a SBB trabalha para que seja possível receber as doações estrangeiras.
Enquanto isso, chega a notícia de que Luang Pó Sumedho virá ao Rio de Janeiro e visitará o vihāra. A pedido da SBB e de Ajahn Mudito, Luang Pó traz relíquias para serem depositadas na futura estupa e as oferta, durante a primeira das duas visitas que fez ao vihāra, ao presidente João Rafael. A importância deste presente é imensa, pois além de significar uma grande honra, estabelece uma ligação entre a SBB e a Forest Sangha que, alguns meses depois, renderá um fruto muito auspicioso.
Um dado interessante é que a história de Luang Pó Sumedho está ligada à fundação de importantes mosteiros como – por exemplo, o Amaravati Buddhist Monastery, do qual liderou a criação e tornou-se abade a pedido de seu professor, Ajahn Chah – e à missão de estabelecer o Budismo Theravada em países ocidentais.
Diante do projeto da construção da estupa, Ajahn Mudito busca apoio financeiro entre praticantes tailandeses. Porém, apesar de haver boa vontade e simpatia com o centro budista brasileiro, surge certa hesitação pelo fato de o Rio Buddha Vihāra ser um centro leigo, uma vez que não abrigava ou era gerido por monges. Para a resolução deste impasse, o professor de Ajahn Mudito, Luang Pó Piak, designa a ele a missão de passar um período residindo no Rio Buddha Vihāra com o propósito de contemplar a possibilidade de estabelecer-se lá – atendendo, desta forma, ao pedido feito pela primeira vez a Ajahn Sumedho em 2007 e realizando a aspiração que a SBB nutria desde então de estabelecer a Sangha no Brasil.
Antes de sair da Tailândia, Ajahn Mudito foi se despedir de seu upajjhāya, Luang Pó Liem, e aproveitou a ocasião para convidá-lo a vir visitar o Brasil. Luang Pó aceitou o convite e a viagem foi marcada para abril de 2017. Ajahn Mudito chegou ao Brasil em Dezembro de 2016 para residir no Rio Buddha Vihāra, mas em pouco tempo ficou claro que a situação de segurança da região não permitia o investimento de esforço e recursos para o estabelecimento de uma residência permanente. Em meio aos preparativos para a visita de Luang Pó Liem, começou também um trabalho de busca por uma nova localidade para construir um habitação permanente para monges e local de prática e retiro para a comunidade leiga – mas Ajahn Mudito não queria tomar qualquer resolução definitiva antes de ouvir a opinião de Luang Pó Liem. Assim, durante a visita de Luang Pó em abril, membros de quatro diferentes grupos budistas brasileiros – SBB, Casa de Dharma, Sociedade Vipassana de Brasília e Dhamma Ghara – acompanharam Luang Pó Liem, Ajahn Moshe, Ajahn Amnat e Ajahn Mudito em visita à região de São Lourenço, em Minas Gerais. Luang Pó Liem gostou da região e expressou sua aprovação para que esforços fossem iniciados para adquirir um terreno para construção de um mosteiro budista e centro de prática para leigos, mas ainda assim pediu que Ajahn Mudito fosse primeiro até a Inglaterra pessoalmente apresentar a ideia aos demais monges da Forest Sangha, para que eles também tivessem a oportunidade de expressar suas opiniões e dar conselhos sobre como melhor proceder. Na reunião, todos os Ajahns expressaram alegria em saber do projeto e todos, sem exceção, ofereceram suas bençãos e fizeram votos de sucesso.
E é aqui que começa uma nova jornada para a SBB, com certeza repleta de muitos desafios mas, como dizia Ajahn Chah, se algo é fácil, para quê fazer? Aqueles que quiserem saber mais e acompanhar o progresso do projeto, podem visitar http://mosteiro.sociedadebudistadobrasil.org/
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