O budista tolerante

Por Arya Dharmananda

Um tema que constantemente vem à baila é o da tolerância entre as religiões.
Em outras ocasiões, já tivemos a oportunidade de falar sobre o tem e aqui voltamos a ele.
Ser tolerante com o outro é não querer impor suas práticas, suas idéias e suas doutrinas e visões de mundo sobre ele.
Se eu sei que uma pessoa é cristã, devo deixar que ela seja cristã. 
Se eu sei que uma pessoa é judia, devo deixar que ela seja judia.
Se eu sei que uma pessoa é muçulmana, devo deixar que ela seja muçulmana.
Alguém poderá dizer: Ah, mas isso todo mundo faz...
É mesmo?
Preste atenção.
Se eu não me importo em saber o que o outro acredita para não ferir suas práticas, sou intolerante.
Se eu digo a alguém o que esse alguém deve ou não praticar espiritualmente, independentemente do que a pessoa acredite, estou sendo intolerante.
Se afirmo uma crença religiosa para alguém, de maneira peremptória, estou sendo intolerante.
O mundo está cheio de gente assim.
Há espíritas que chegam na frente de um católico e dizem: Isso é coisa de sua vida passada... 
Escute, católicos não acreditam em "vidas passadas".
Há cristãos que falam para muçulmanos: Só Jesus para te ajudar...
Amigo, muçulmanos vêem Jesus como um profeta, não rezam para ele.
Há outros que afirmam idéias ocultistas, mágicas, animistas etc., como se fossem dogmas universais e tentam impor isso a qualquer custo, como se fossem juízes da medida do que os outros devem acreditar ou não.
A coisa chega ao absurdo de afirmarem que quem não acredita nas mesmas coisas que eles não são tão "evoluídos". Isso quando não invertem o jogo e dizem que quem não aceita acreditar nas mesmas doutrinas que eles são os "intolerantes".
O budista deve aprender a não "pregar" para quem não tem a intenção ou o desejo de se converter ao Dharma. 
Quem tiver afinidade kármica com o Budismo vai se aproximar dele. Não é tarefa do Budismo sair enchendo o saco de ninguém com pregações, doutrinas e proselitismo.
Se você é budista e tem amigos católicos, os estimule a serem católicos. Se são judeus, estimule que pratiquem seu judaísmo. Se são mórmons, idem.
Eu não vou praticar a religião dos outros. E também não quero que ninguém seja forçado a praticar a minha.
Já disse uma porção de vezes que sou contra a tal "interreligiosidade" e o "ecumenismo" sem noção.
Juntar todo mundo em um balaio e dizer que é "tudo igual" é desrespeitar o caráter único de cada tradição. 
Dialogar, respeitar, conviver etc., é muito diferente de sair fazendo uma mistureba sem pé nem cabeça ou de querer que o outro se sinta obrigado a atos cultuais que lhe são absolutamente estranhos.
Há valores comuns? Sem dúvida que há. No entanto, cultivar esses valores comuns não é a mesma coisa que introduzir doutrinas na mente dos outros de maneira sub-reptícia.
Intolerância não é só o extremismo repulsivo de um "Estado Islâmico" que decapita pessoas diante das câmeras. 
Pequenos atos para "forçar a barra" também são indícios de intolerância e desrespeito.
Esse humilde blog está com quase meio-milhão de acessos. Espero que as idéias de tolerância verdadeira e de respeito genuíno pelo espaço do outro se difundam.

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