Histórias do Dhammapada - Capítulo 1. Versos gêmeos

Nesta série de postagens serão publicadas as histórias em que ocorreram a citação de cada um dos versos do Dhammapada. 
Normalmente encontramos em português somente os versos do Dhammapada e as notas explicativas, porém o contexto em que cada verso foi proferido não é comum de ser citado ou encontrado em língua portuguesa. Em virtude disso resolvi traduzir do inglês cada uma das histórias que contextualizam os versos. 
As histórias, caracterizadas por situações comuns do cotidiano, são narradas em linguagem simples, atingindo seu ponto culminante com o verso do Buda. 
Convido o leitor a refletir sobre cada uma destas histórias e sobre o ensinamento deixado.  
A primeira postagem abrange o capítulo 1. 
A história em inglês de cada verso pode ser encontrada no link: Tipitaka.net


1. Yamakavagga
Versos Gêmeos 

Verso 1 - A história de Thera Cakkhupala

Enquanto Morava no monastério de Jetavana, em Savatthi, o Buda proferiu o verso 1 deste livro, com referência a Cakkhupala, o Thera cego. 

Em certa ocasião, Thera Cakkhupala foi prestar homenagem ao Buda no monastério do Boque de Jeta. Uma noite, enquanto andava para lá e para cá em meditação, o thera acidentalmente pisou em alguns insetos. De manhã, alguns bikkhus ao visitor o thera, encontraram os insetos mortos. Eles pensaram mal do thera e contaram a situação ao Buda. O Buda os perguntou se eles tinham visto o thera matando os insetos. Mediante a resposta negativa, o Buda disse: “Assim como vocês não os viram matando, ele também não viu aqueles seres vivos. Além do mais, o Thera já é um Arahant e não poderia ter a intenção de matar e, portanto, é completamente inocente.” Ao ser perguntando do porquê Cakkhupala era cego mesmo sendo um Arahant, o Buda contou a seguinte história:

Cakkhupala foi um médico em uma das suas existências passadas. Uma vez, ele deliberadamente deixou uma paciente cega. Aquela mulher havia prometido ser sua escrava, junto com seus filhos, se seus olhos fossem completamente curados. Temendo que ela e seus filhos se tornassem escravos, ela mentiu ao médico. Ela contou que seus olhos estavam ficando piores, quando, na verdade, estavam perfeitamente bons. O médico sabia que estava sendo enganado, então por vingança, deu a ela outra pomada, que a deixou totalmente cega. Como resultado desta má ação, o médico perdeu sua visão muitas vezes nas últimas existências.

Então o Buda falou em versos:

Todas as ações são comandadas pela mente:
a mente é o senhor delas, a mente é quem as fabrica.
Aja ou fale com um estado mental corrompido
que o sofrimento virá em seguida da mesma forma
como a roda da carroça segue as pegadas do boi.

Ao final do discurso, trinta mil bhikkhus tornaram-se Arahants através do Insight (Patisambidha).

Verso 2 – A história de Matthakundali

Enquanto morava no monastério de Jetavana, em Savatthi, o Buda proferiu o verso 2 deste livro, com referência a Matthakundali, um jovem brâmane. 

Matthakundali tinha um pai que era muito mesquinho e nunca fazia caridade. Até mesmo os ornamentos de ouro para seu único filho foram feitos por ele mesmo para economizar o dinheiro da mão-de-obra. Quando seu filho adoeceu, nenhum medico foi chamado, até ser tarde demais. Quando ele percebeu que seu filho estava morrendo, ele levou o jovem para o lado de for a da casa, para a varanda, de modo que as pessoas não vissem suas posses quando chegassem na casa.

Naquela manhã, o Buda saindo cedo de sua profunda meditação de compaixão viu, através de sua visão de Conhecimento, Matthakundali deitado na varanda. Então, ao entrar em Savatthi para esmolar alimentos com seus discípulos, o Buda ficou perto da porta do brâmane Adinnapubbaka. O Buda enviou um raio de luz para atrair a atenção do jovem que estava de frente para o interior da casa. O jovem viu o Buda; e como estava muito fraco, só podia professar sua fé mentalmente. Mas isso foi o suficiente. Quando ele morreu com seu coração em devoção ao Buda, renasceu no mundo celestial de Tavatimsa.
De sua morada celestial, o jovem Matthakundali, vendo seu pai lamentando no cemitério, apareceu ao velho homem à semelhança de seu antigo eu. Ele contou ao pai sobre seu renascimento no mundo de Tavatimsa e também pediu que ele convidasse o Buda para uma refeição. Na casa de Adinnapubbaka foi levantada a questão para saber se alguém poderia ou não renascer em um mundo celestial simplesmente por professar mentalmente profunda fé no Buda, sem realizar caridade ou observar os preceitos morais. Então o Buda desejou que Matthakundali aparecesse pessoalmente; Matthakundali logo apareceu completamente enfeitado com ornamentos celestiais e contou sobre seu renascimento no mundo de Tavatimsa. Somente então, o público se convenceu de que o filho do brâmane Adinnapubbaka simplesmente devotando sua mente ao Buda havia alcançado muita glória.

Então o Buda falou em versos:

Todas as ações são comandadas pela mente:
a mente é o senhor delas, a mente é quem as fabrica.
Aja ou fale com um estado mental claro com serena confiança
que a felicidade virá em seguida da mesma forma
que a sombra acompanha o seu objeto por toda a parte, sem nunca abandoná-lo.

Ao final do discurso, Matthakundali e seu pai Adinnapubbaka alcançaram o fruto e o caminho de Sotapanna.
Adinnapubbaka também doou quase toda sua riqueza para apoiar a Sangha.


Versos 3 e 4 - A história do Thera Tissa

Enquanto morava no monastério de Jetavana, em Savatthi, o Buda proferiu os versos 3 e 4 deste livro, com referência ao Thera Tissa.

Tissa, o filho da tia materna do Buda, estava certa vez morando com o Buda. Ele havia se tornado um bhikkhu já na sua velhice, mas posava como um bhikkhu sênior e ficava muito satisfeito quando bhikkhus visitantes pediam permissão para fazer algum serviço para ele. Por outro lado, ele não cumpria os deveres esperados dos bhikkhus juniores; além disso, ele muitas vezes brigava com os bhikkhus mais jovens. Se alguém o repreendesse por causa de seu comportamento, ele iria reclamar com o Buda, chorando, muito insatisfeito e chateado. Os outros também o seguiam até a presença do Buda. O Buda disse-lhes que não abrigassem pensamentos de inimizade, pois a inimizade só podia ser aplacada ao não abrigar inimizade.

Então o Buda falou em versos:

Quem abriga pensamentos de hostilidade como:
Ele me maltratou, ele me golpeou,
ele me derrotou, ele me roubou, -
para aqueles que abrigam pensamentos como esses
a raiva nunca será apaziguada.

Quem não abriga pensamentos de hostilidade como:
Ele me maltratou, ele me golpeou,
ele me derrotou, ele me roubou, -
para aqueles que não abrigam pensamentos como esses
a raiva será apaziguada.

Ao final do discurso, cem mil bhikkus alcançaram a fruição de Sotapatti.


Verso 5 – A história de Kalayakkhini

Enquanto morava no monastério de Jetavana, em Savatthi, o Buda proferiu o verso 5 deste livro com referência a uma mulher que era estéril e sua rival.

Uma vez havia um chefe de família, cuja esposa era estéril; mais tarde ele tomou outra esposa. A contenda começou quando a esposa mais velha causou o aborto da outra, que acabou morrendo no parto. Nas últimas existências, os dois renasceram como uma galinha e um gato; uma corça e um leopardo; e finalmente como a filha de um nobre em Savatthi e uma ogra chamada Kali. A ogra (Kalayakkhini) estava em perseguição da mulher com o bebê, quando este soube que o Buda estava por perto, dando um discurso no monastério do Bosque de Jeta. Ela foi até ele e colocou seu filho a seus pés para proteção. A ogra foi parada na porta pelo espírito guardião do monastério e teve sua entrada impedida. Mais tarde ela foi chamada e tanto a dama quanto a ogra foram repreendidas pelo Buda. O Buda contou-lhes sobre suas brigas passadas ​​como esposas rivais de um marido comum, como um gato e uma galinha, e como um corça e leopardo. Isso foi feito para mostrar que o ódio só poderia causar mais ódio, e que só poderia cessar através da amizade, compreensão e boa vontade.

Então o Buda falou em versos:

Pois neste mundo a raiva
nunca é apaziguada com outras ações enraivecidas,
Ela é apaziguada pela não-raiva,
essa é uma lei imutável e atemporal.

Ao final do discurso, a ogra alcançou a fruição de Sotapatti e a longa rivalidade chegou ao fim.

Verso 6 – A história dos bhikkhus de Kosambi

Enquanto morava no monastério de Jetavana, em Savatthi, o Buda proferiu o verso 6 deste livro com referência aos bhikkhus de Kosambi.
Os bhikkhus de Kosambi haviam se formado em dois grupos. Um grupo seguiu o mestre do Vinaya e o outro seguiu o professor do Dhamma e eles estavam frequentemente brigando entre si. Mesmo o Buda não pôde impedi-los de brigar; então ele os deixou e passou o vassa, período de retiro das chuvas, sozinho no Bosque de Rakkhitam perto da floresta de Palileyyaka. Lá, o elefante Palileyya visitou o Buda.
Os discípulos leigos de Kosambi, ao saberem o motivo da partida do Buda, recusaram-se a fazer oferendas aos bhikkhus restantes. Isso fez com que percebessem o erro e se reconciliassem. Ainda assim, os discípulos leigos não os tratariam tão respeitosamente quanto antes, até que eles assumissem sua culpa perante o Buda. Mas o Buda estava ausente e o período do vassa ainda estava na metade; então os bhikkhus de Kosambi passaram a vassa na miséria e em dificuldades.
No final da vassa, o Venerável Ananda e quinhentos bhikkhus se aproximaram do Buda e deram a mensagem de Annathapindika e outros discípulos leigos implorando-lhe que retornasse. No devido tempo, o Buda retornou ao monastério do Bosque de Jeta em Savatthi. Os bhikkhus o seguiram até lá, caíram a seus pés e assumiram sua culpa. O Buda os repreendeu por desobedecê-lo. Ele lhes disse que lembrassem que todos eles deveriam morrer algum dia e, portanto, deveriam parar suas brigas e não agir como se nunca fossem morrer.

Então o Buda falou em versos:

Há os que não percebem
que nós teremos um fim nesse mundo,
mas aqueles que percebem isso,
têm suas desavenças apaziguadas.

Ao final do discurso, todos os bhikkhus presentes alcançaram a fruição de Sotapatti.

Versos 7 e 8 – A história de Thera Mahakala

Enquanto residia nas proximidades da cidade de Setabya, o Buda pronunciou os versos 7 e 8 deste livro, com referência a Mahakala e seu irmão Culakala.

Mahakala e Culakala eram dois irmãos mercantes da cidade de Setabya. Ao viajar com suas mercadorias em uma ocasião, eles tiveram a chance de ouvir um discurso dado pelo Buda. Depois de ouvir o discurso, Mahakala pediu ao Buda para ser admitido na Ordem dos bhikkhus. Culakala também se juntou à Ordem, mas com a intenção de sair da Ordem e trazer seu irmão junto com ele.
Mahakala era comprometido com sua prática ascética no cemitério (Sosanika dhutinga) e meditava diligentemente sobre a decadência e a impermanência. Ele finalmente ganhou Insight e alcançou o estado de Arahant.
Mais tarde, o Buda e seus discípulos, incluindo os irmãos, ficaram hospedados na floresta de Simsapa, perto de Setabya. Enquanto estavam lá, as antigas esposas de Culakala convidaram o Buda e seus discípulos para a casa deles. O próprio Culakala foi em frente para preparar os assentos para o Buda e seus discípulos. Uma vez lá, as antigas esposas de Culakala fizeram com que ele se trocasse e usasse roupas comuns.
No dia seguinte, as esposas de Mahakala convidaram o Buda e seus discípulos para a casa deles, esperando fazer o mesmo com Mahakala, como as esposas de Culakala haviam feito a Culakala. Após a refeição, eles pediram ao Buda que deixasse Mahakala permanecer "expressando apreço" (anumodana). Então o Buda e os outros discípulos foram embora.
Chegando ao portão da aldeia, os bhikkhus expressaram sua insatisfação e apreensão. Eles estavam insatisfeitos porque Mahakala tinha permissão para ficar para trás e temiam que, como Culakala, seu irmão, Mahakala, também fosse obrigado a deixar a Ordem por suas ex-esposas. Para isso, o Buda respondeu que os dois irmãos não eram parecidos. Culakala se entregava aos prazeres sensuais e era preguiçoso e fraco; ele era como uma árvore fraca. Mahakala, por outro lado, era diligente, firme e forte em sua fé do Buda, do Dhamma e na Samgha; ele era como uma montanha rochosa.

Então o Buda falou em versos:

Quem apenas a beleza contempla,
com os sentidos descontrolados,
que não sabe o que é moderação ao comer,
lânguido, indolente:
esse será subjugado por Mara,
como o vento que derruba uma árvore fraca.
Quem o repulsivo contempla,
com os sentidos bem controlados,
que sabe o que é moderação ao comer,
convicto, diligente:
esse não será subjugado por Mara,
como o vento que não abala um rochedo.

Enquanto isso, as ex-esposas de Mahakala o cercaram e tentaram remover suas vestes amarelas. O thera, percebendo suas intenções, levantou-se e elevou-se no ar por seus poderes sobrenaturais atravessando pelo telhado da casa em direção ao céu. Ele pousou aos pés do Buda no exato momento em que o Mestre estava chegando ao final de sua elocução das duas estrofes acima. Ao mesmo tempo, todos os bhikkhus reunidos ali foram estabelecidos na Fruição de Sotapatti.

Versos 9 e 10 – A história de Devadatta

Enquanto morava no monastério do Bosque de Jeta, em Savatthi, o Buda proferiu os versos 9 e 10 deste livro, com referência a Devadatta.

Certa vez, os dois principais discípulos, o venerável Sariputta e o venerável Maha Moggallana, foram de Savatthi a Rajagaha. Lá, o povo de Rajagaha os convidou, com seus mil seguidores, para uma refeição matinal. Naquela ocasião, alguém entregou um pedaço de pano, no valor de cem mil, para os organizadores da cerimônia de entrega de esmolas. Ele os instruiu a vendê-lo e usar os recursos para a cerimônia, caso houvesse falta de fundos, ou, se não houvesse tal escassez, oferecê-la a qualquer um dos bhikkhus que eles achassem adequado. Acontece que não havia escassez de nada e que o pano deveria ser oferecido a um dos Theras. Como os dois Discípulos-Chefes visitavam Rajagaha apenas ocasionalmente, o pano foi oferecido a Devadatta, que era um residente permanente de Rajagaha.
Devadatta rapidamente transformou o pano em vestes e andou pomposamente, vestindo-as. Então, um certo bhikkhu de Rajagaha veio a Savatthi para prestar homenagem ao Buda, e contou-lhe sobre Devadatta e o manto, feito de tecido no valor de cem mil. O Buda disse que não era a primeira vez que Devadatta usava vestes que ele não merecia. O Buda então relatou a seguinte história.
Devadatta era um caçador de elefantes em uma de suas existências anteriores. Naquela época, em certa floresta, vivia um grande número de elefantes. Um dia, o caçador percebeu que esses elefantes se ajoelhavam diante dos paccekabuddhas ao vê-los. Tendo observado isso, o caçador roubou a parte superior de um manto amarelo e cobriu o corpo e a mão com ele. Então, segurando uma lança na mão, ele esperou pelos elefantes em sua rota habitual. Os elefantes vieram e, tomando-o por um paccekabuddha, caíram de joelhos para prestar reverência. Eles facilmente viravam presa do caçador. Assim, um por um, ele matava cada elefante que aparecia, todos os dias por muitos dias.
O Bodhisatva era então o líder do rebanho. Percebendo o número cada vez menor de seus seguidores, ele decidiu investigar e seguiu seu rebanho. Ele estava alerta e, portanto, conseguiu escapar da lança. Ele pegou o caçador em seu tronco e estava prestes a jogá-lo contra o chão, quando viu o manto amarelo. Vendo o manto amarelo, ele desistiu e poupou a vida do caçador.

O caçador foi repreendido por tentar matar disfarçado com o manto amarelo e por comutar tal ato de depravação. O caçador claramente não merecia vestir o manto amarelo.

Então o Buda falou em versos:

Aquele que veste o manto dos bhikkhus,
mas que ainda não é livre das impurezas,
imoderado e desonesto,
ele não é digno do manto dos bhikkhus.
Mas aquele que se purificou das impurezas,
firmemente estabelecido na conduta virtuosa,
moderado e honesto,
ele é digno do manto dos bhikkhus.

Ao final do discurso, muitos bhikkhus alcançaram a fruição de Sotapatti.

Versos 11 e 12 – A história de Thera Sariputta

Enquanto morava em Veluvana, no Monastério da Floresta de Bambu em Rajagaha, o Buda proferiu os versos 11 e 12 deste livro, com referência a Sanjaya, o antigo professor dos Discípulos Principais, Veneráveis Sariputta e Moggallana (antigamente conhecidos como Upatissa e Kolita.
Upatissa e Kolita eram dois jovens de Upatissa e Kolita, duas aldeias próximas de Rajagaha. Ao assistir a um espetáculo, eles perceberam a insubstancialidade das coisas e decidiram procurar o caminho para a libertação. Primeiro, eles se aproximaram de Sanjaya, o errante asceta em Rajagaha, mas eles não estavam satisfeitos com seus ensinamentos. Então percorreram toda a Jambudipa e voltaram para a sua terra natal, depois de procurarem, mas não encontrando o verdadeiro Dhamma. Neste ponto eles chegaram a um entendimento de que aquele que encontrasse o verdadeiro dhamma deveria informar ao outro.
Um dia, Upatissa encontrou Thera Assaji e aprendeu com ele a substância do Dhamma. O thera proferiu o verso começando com "Ye dhamma hetuppabhava", significando "aqueles fenômenos que procedem de uma causa". Ouvindo o verso, Upatissa estabeleceu-se em Sotapatti Magga e Phala. Então, como prometido, ele foi até seu amigo Kolita, explicou-lhe que ele, Upatissa, havia atingido o estado de Imortalidade e repetido o versículo para seu amigo. Kolita também se estabeleceu na Fruição Sotapatti no final do verso. Ambos se lembraram de seu antigo professor e então foram até Sanjaya e disseram a ele: "Encontramos aquilo que pode apontar o Caminho para a Imortalidade; o Buda apareceu no mundo; o Dhamma apareceu; a Sangha apareceu ... Venha, vamos ao professor". Eles esperavam que seu antigo professor os acompanhasse ao Buda e, ouvindo os discursos, ele também realizaria Magga e Phala. Mas Sanjaya recusou.
Então Upatissa e Kolita, com duzentos e cinquenta seguidores, foram ao Buda, em Veluvana. Lá, eles foram iniciados e admitidos na Ordem como bhikkhus. Upatissa como filho de Rupasari ficou conhecido como Thera Sariputta; Kolita como filho de Moggali tornou-se conhecido como Thera Maha Moggallana. No sétimo dia após a odernação, Maha Moggallana atingiu o estado de Arahant.
Thera Sariputta conseguiu o mesmo, quinze dias após a ordenação. Naquele dia, o Buda os fez seus dois Discípulos Principais (Agga-Savaka).
Os dois principais discípulos, então, relataram ao Buda como foram ao festival de Giragga, o encontro com Thera Assaji e a obtenção da Fruição de Sotapatti. Eles também contaram ao Buda sobre seu ex-professor Sanjaya, que se recusou a acompanhá-los. Sanjaya disse: "Depois de ter sido professor de tantos alunos, para eu me tornar seu aluno, seria como um pote se transformando em um copo. Além disso, poucas pessoas são sábias e a maioria é tola; que os sábios sigam para o sábio Gotama, os tolos ainda virão para mim. Sigam o seu caminho, meus alunos".
Assim, como o Buda apontou, o falso orgulho de Sanjaya estava impedindo-o de ver a verdade como verdade; ele estava vendo a inverdade como verdade e nunca chegaria à verdade real.

Então o Buda falou em versos:

Aqueles que dão importância àquilo que não é importante
e que não dão importância àquilo que é importante,
sustentando pensamentos errôneos,
eles nunca alcançarão aquilo que é importante.
Aqueles que dão importância àquilo que é importante,
e que não dão importância àquilo que não é importante,
sustentando pensamentos corretos,
eles alcançarão aquilo que é importante.

Ao final do discurso, muitas pessoas alcançaram a Fruição de Sotapatti.

Versos 13 e 14 - A história do Thera Nanda

Enquanto morava no monastério do Bosque de Jeta, em Savatthi, o Buda proferiu os versos 13 e 14 deste livro, com referência ao Thera Nanda, primo do Buda.

Certa vez, o Buda estava residindo no mosteiro de Veluvana, em Rajagaha, quando seu pai, o rei Suddhodana, enviou repetidamente mensageiros ao Buda, pedindo-lhe que visitasse a cidade de Kapilavatthu. Assim, o Buda fez a jornada na companhia de vinte mil arahants. Na chegada a Kapilavatthu ele relatou o Vessantara Jataka à assembleia de seus parentes. No segundo dia, ele entrou na cidade, onde, recitando o versículo começando com "Uttitthe Nappamajjeyya ..." (ou seja, deve-se levantar e não deve ser desatento ...) ele fez seu pai alcançar o Fruto de Sotapatti. Ao chegar ao palácio, o Buda recitou outro verso que começa com "Dharmam care sucaritam ..." (ou seja, deve-se praticar o Dhamma ...) e estabeleceu o rei na Fruição de Sakadagami. Após a refeição, ele narrou o Candakinnari Jataka, com referência às virtudes da mãe de Rahula.
No terceiro dia, houve a cerimônia de casamento do príncipe Nanda, primo do Buda. O Buda foi lá para esmolar e entregou a tigela de esmolas ao príncipe Nanda. O Buda então partiu sem pegar de volta a tigela. Então o príncipe, segurando a tigela, teve que seguir o Buda. A noiva, a princesa Janapadakalyani, vendo o príncipe seguindo o Buda, correu e gritou para o príncipe voltar. No monastério, o príncipe foi admitido na Ordem como um bhikkhu.
Sabendo disso, o Buda, por poder sobrenatural, mostrou Nanda, as belas devas do mundo de Tavatimsa, que eram muito mais bonitas que a princesa Janapadakalyani. Ele prometeu obtê-las para Nanda, se este se esforçasse na prática do Dhamma. Outros bhikkhus ridicularizaram Nanda dizendo que ele era como um mercenário que praticava o Dhamma por causa de mulheres bonitas, etc. Nanda se sentia muito atormentado e envergonhado. Então, em reclusão, ele se esforçou muito na prática do Dhamma e finalmente alcançou o estado de arahant. Como um arahant sua mente foi totalmente libertada de todos os apegos, e o Buda também foi liberado de sua promessa a Nanda. Tudo isso havia sido previsto pelo Buda desde o começo.
Outros bhikkhus, sabendo que Nanda não estava feliz na vida de um bhikkhu, novamente perguntaram a ele como estava se saindo. Quando ele respondeu que não tinha mais apego à vida de um chefe de família, eles pensaram que Nanda não estava falando a verdade. Então eles informaram o Buda sobre o assunto, ao mesmo tempo expressando suas dúvidas. O Buda então explicou a eles que, anteriormente, a natureza de Nanda era como a de uma casa mal-coberta, mas agora, ela se tornara como uma casa bem coberta.

Então o Buda falou em versos:

Tal como a chuva penetra
em uma casa mal coberta,
a cobiça penetra
numa mente mal cultivada.
Tal como a chuva nunca penetra
em uma casa bem coberta,
a cobiça nunca penetra
numa mente bem cultivada.

Verso 15 – A história de Cundasukarika

Enquanto morava em Veluvana, no Monastério da Floresta de Bambu em Rajagaha, o Buda proferiu o verso 15 deste livro, com referência a Cunda, o açougueiro de porcos.

Certa vez, numa aldeia não muito longe do mosteiro de Veluvana, vivia um açougueiro de porcos muito cruel e de coração duro, chamado Cunda. Cunda era açougueiro por mais de cinquenta e cinco anos; todo esse tempo ele não fizera nenhum ato meritório. Antes de morrer, sentia tanta dor e agonia que grunhia e gritava e permanecia a andar com as mãos e joelhos como um porco durante sete dias inteiros. De fato, logo antes de morrer, ele estava sofrendo como se estivesse no Niraya. No sétimo dia, o açougueiro morreu e renasceu no Avici Niraya. Assim, o malfeitor sempre deve sofrer pelas más ações feitas por ele; ele sofre neste mundo assim como no próximo.

Neste contexto, o Buda falou em versos da seguinte forma:

Aqui ele se aflige e no futuro se afligirá,
de ambos os modos o malfeitor se aflige;
Ele se aflige e sofre,
ao ver suas próprias ações prejudiciais.

Verso 16 – A história de Dhammika Upasaka

Enquanto morava no monastério de Jetavana, em Savatthi, o Buda proferiu o verso 16 deste livro, com referência a Dhammika, um discípulo leigo.

Uma vez vivia em Savatthi, um discípulo leigo chamado Dhammika, que era virtuoso e gostava muito de fazer caridade. Ele oferecia generosamente comida e outros requisitos aos bhikkhus regularmente e, também em ocasiões especiais. Ele era, de fato, o líder de quinhentos discípulos leigos virtuosos do Buda que viviam em Savatthi. Dhammika tinha sete filhos e sete filhas e todos eles, como seu pai, eram virtuosos e devotados à caridade. Quando Dhammika adoeceu e estava em seu leito de morte, fez um pedido a Sangha para que fosse até ele e recitasse os textos sagrados ao lado da cama. Enquanto os bhikkhus estavam recitando o Maha satipatthana Sutta, seis carros decorados de seis mundos celestes chegaram para convidá-lo para seus respectivos mundos. Dhammika disse a eles que esperassem um pouco por medo de interromper a recitação do Sutta. Os bhikkhus, pensando que estavam sendo solicitados a parar, pararam e deixaram o local.
Pouco depois, Dhammika contou a seus filhos sobre as seis carruagens decoradas que esperavam por ele. Então ele decidiu escolher a carruagem do mundo Tusita e pediu a um de seus filhos para jogar uma guirlanda sobre ele. Então ele faleceu e renasceu no mundo Tusita. Assim, o homem virtuoso se alegra neste mundo tanto quanto no seguinte.

Então o Buda falou em versos:

Aqui ele se alegra, e no futuro se alegrará,
de ambas as formas o benfeitor se alegra;
Ele se alegra e se rejubila,
ao ver suas próprias ações benéficas.

Verso 17 – A história de Devadatta

Enquanto morava no monastério de Jetavana, em Savatthi, o Buda proferiu o verso 17 deste livro, com referência a Devadatta.

Devadatta residia há algum tempo com o Buda em Kosambi. Enquanto permaneceu lá, ele percebeu que o Buda estava recebendo muito respeito e honra, bem como ofertas. Ele invejou o Buda e aspirou liderar a Ordem dos bhikkhus. Um dia, enquanto o Buda estava pregando no monastério de Veluvana em Rajagaha, ele se aproximou do Buda e, alegando que o Buda estava envelhecendo, sugeriu que a Ordem fosse confiada aos seus cuidados. O Buda rejeitou sua oferta e repreendeu-o, dizendo que ele era um engolidor da saliva de outras pessoas. Em seguida, o Buda pediu a Sangha que realizasse um ato de proclamação (Pakasaniya kamma*) a respeito de Devadatta.
Devadatta sentiu-se magoado e prometeu vingança contra o Buda. Por três vezes, ele tentou matar o Buda: primeiro, empregando alguns arqueiros; em segundo lugar, subindo a colina Gijjhakuta e rolando um grande pedaço de rocha em direção ao Buda; e em terceiro lugar, fazendo com que o elefante Nalagiri atacasse o Buda. Os assassinos contratados retornaram depois de terem alcançado a Fruição de Sotapatti, sem prejudicar o Buda. O grande pedaço de rocha rolado por Devadatta feriu o dedão do Buda, e quando o elefante Nalagiri avançou no Buda, foi amanciado pelo próprio Buda. Assim, Devadatta falhou em matar o Buda e arriscou outra tática. Ele tentou dividir a Ordem dos bhikkhus levando consigo alguns bhikkhus recém-admitidos para Gayasisa; no entanto, a maioria deles foi trazida de volta por Thera Sariputta e Thera Maha Moggallana.
Mais tarde, Devadatta adoeceu. Ele ficou doente por nove meses quando pediu a seus alunos para levá-lo ao Buda e, posteriormente, fez a viagem ao monastério de Jetavana. Ao saber que Devadatta estava chegando, o Buda disse a seus discípulos que Devadatta nunca teria a oportunidade de vê-lo.
Quando Devadatta e seu grupo chegaram ao lago no complexo do monastério de Jetavana, os carregadores colocaram o sofá na beira da lagoa e foram tomar um banho. Devadatta também se levantou do sofá e colocou os dois pés no chão. Imediatamente, seus pés afundaram na terra e ele foi gradualmente engolido, Devadatta não teve a oportunidade de ver o Buda por causa dos atos perversos que ele havia feito ao Buda. Após sua morte, ele renasceu no Avici Niraya, um lugar de intenso e contínuo tormento.

Então o Buda falou em versos:

Aqui ele fica contente e no futuro ficará contente
de ambas as formas o benfeitor fica contente;
"Eu fiz o bem", com serenidade ele fica contente,
e fica ainda mais contente quando passa para os mundos felizes.

*Pakasaniya kamma: Um ato de Proclamação realizado pela Sangha referente a um membro declarando que como sua conduta era de um tipo antes e é de outro tipo agora, doravante todas as suas ações físicas e verbais são apenas dele e não têm nada a ver com o Buda, o Dhamma e a Sangha.


Verso 18 – A história de Sumanadevi

Enquanto residia no monastério Jetavana em Savatthi, o Buda proferiu o verso 18 deste livro, com referência a Sumanadevi, a filha mais nova de Anathapindika.

Em Savatthi, na casa de Anathapindika e na casa de Visakha, dois mil bhikkhus eram servidos diariamente com comida. Na casa de Visakha, a oferta de comida era supervisionada pela neta. Na casa de Anathapindika, a supervisão era feita, primeiro pela filha mais velha, depois pela segunda filha e finalmente por Sumanadevi, a filha mais nova. As duas irmãs mais velhas alcançaram o Fruto de Sotapatti ouvindo o Dhamma, enquanto serviam comida para os bhikkhus. Sumanadevi fez ainda melhor e alcançou Sakadagami.
Mais tarde, Sumanadevi adoeceu e em seu leito de morte chamou por seu pai. Seu pai veio, e ela se dirigiu ao pai como "irmão mais novo" (Kanittha bhatika) e faleceu logo depois. Sua forma de tratamento deixou seu pai pensativo, inquieto e deprimido, pensando que sua filha estava delirando e não possuia sanidade no momento de sua morte. Então, ele se aproximou do Buda e relatou a ele sobre sua filha, Sumanadevi. Então o Buda disse ao nobre rico que sua filha estava plenamente consciente e totalmente segura de si no momento de sua morte. O Buda também explicou que Sumanadevi havia se dirigido a seu pai como "irmão mais novo" porque sua obtenção de Magga e Phala era mais alta que a de seu pai. Ela era uma Sakadagam, enquanto seu pai era apenas um Sotapanna. Foi também dito a Anathapindika que Sumanadevi renasceu no mundo dos devas de Tusita.

Então o Buda falou em versos:

Aqui ele fica contente e no futuro ficará contente
de ambas as formas o benfeitor fica contente;
"Eu fiz o bem", com serenidade ele fica contente,
e fica ainda mais contente quando passa para os mundos felizes.

Versos 19 e 20 – A história de dois amigos

Enquanto residia no monastério Jetavana em Savatthi, o Buda proferiu os versos 19 e 20 deste livro, com referência a dois bhikkhus que eram amigos.

Era uma vez dois amigos de família nobre, dois bhikkhus de Savatthi. Um deles aprendeu o Tipitaka e era muito proficiente em recitar e pregar os textos sagrados. Ele ensinou quinhentos bhikkhus e se tornou o instrutor de dezoito grupos de bhikkhus. O outro bhikkhu lutando diligentemente e ardentemente na prática de meditação de Insight alcançou a Iluminação.
Em certa ocasião, quando o segundo bhikkhu foi prestar homenagem ao Buda, no monastério de Jetavana, os dois bhikkhus se encontraram. O mestre do Tipitaka não percebeu que o outro já havia se tornado um arahant. Ele desprezou o outro, pensando que este velho bhikkhu sabia muito pouco dos textos sagrados, nem mesmo um dos cinco Nikayas ou um dos três Pitakas. Então ele pensou em fazer perguntas para o outro e, assim, envergonhá-lo. O Buda sabia sobre a intenção indelicada e também sabia que, como resultado de causar problemas a um nobre discípulo dele, o bhikkhu instruído renasceria em um mundo inferior.
Então, por compaixão, o Buda visitou os dois bhikkhus para impedir que o erudito questionasse o outro bhikkhu. O próprio Buda fez o questionamento. Ele fez perguntas sobre jhanas e maggas para o mestre do Tipitaka; mas ele não podia respondê-las porque não havia praticado o que havia ensinado. O outro bhikkhu, tendo praticado o Dhamma e atingido o estado de arahant, poderia responder a todas as perguntas. O Buda elogiou aquele que praticou o Dhamma (isto é, um vipassaka), mas nenhuma palavra de louvor foi dita para o erudito (isto é, um ganthika).
Os discípulos residentes não conseguiam entender por que o Buda tinha palavras de louvor pelo velho bhikkhu e não pelo seu professor instruído. Então, o Buda explicou a questão para eles. O estudioso que sabe muito, mas não pratica de acordo com o Dhamma é como um vaqueiro, que cuida das vacas por salário, enquanto aquele que pratica de acordo com o Dhamrna é como o dono que aprecia os cinco tipos de produto. das vacas. Assim, o estudioso desfruta apenas dos serviços prestados a ele por seus alunos, mas não dos benefícios do Magga-phala. O outro bhikkhu, embora soubesse pouco e recitasse apenas alguns dos textos sagrados, tendo compreendido claramente a essência do Dhamma e praticado diligentemente e tenazmente, é um 'anudhammacari', que erradicou a paixão, a má vontade e a ignorância. Sua mente está totalmente livre de contaminações morais e de todos os apegos a este mundo, assim como ao próximo, ele realmente compartilha os benefícios do Magga-phala.

Então o Buda falou em versos:

Embora alguém recite muitos dos ensinamentos,
o homem negligente que não pratica,
é como um vaqueiro contando as vacas de outros,
ele não se beneficia da vida santa.
Embora alguém recite poucos dos ensinamentos,
mas coloque em prática o Dhamma,
que tenha abandonado a delusão, cobiça e raiva,
dotado de perfeita sabedoria, com a mente liberta,
não se apegando a nada desse mundo ou do próximo,
ele, de fato, se beneficia da vida santa.

Comentários

  1. Quanta alegria por ter acesso a este conhecimento. Muito obrigada por compartilhar.

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