Um calmo lago na floresta - Capítulo 1.
Entendendo os ensinamentos do Buda
Ajahn Chah nos pede para começar a nossa prática simples e diretamente com o entendimento de que as verdades do Buda de sofrimento e libertação podem ser vistas e experimentadas aqui mesmo, dentro dos nossos corpos próprios, corações e mentes. O caminho óctuplo, ele nos diz, não é para ser encontrado em livros ou escrituras, mas podem ser descobertos no funcionamento das nossas próprias percepções sensoriais, os nossos olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente. Estudá-los de forma direta e cultivar a atenção é o caminho da visão prescrito pelo Buda. Ele foi mantido vivo e seguido por aqueles monges, monjas e leigos inspirados para dedicar-se à prática nos séculos desde então.
Ajahn Chah fala como representante contemporâneo vivo deste antigo ensinamento. Sua sabedoria e maestria não vieram através do estudo ou tradição, mas nasceram de seus anos de prática, de esforço diligente para empregar a meditação para acalmar o coração e despertar a mente. Sua própria prática foi inspirada e guiada pela sabedoria de vários mestres das florestas uma geração antes dele. E ele convida-nos a seguir o seu exemplo.
Olhe para o que faz o seu mundo - os seis sentidos, os processos de corpo e mente. Estes processos se tornarão claros através do exame e de uma contínua atenção. Enquanto você observa, repare como passageiros e impermanentes são cada um dos objetos dos sentidos que aparecem. Você verá a tendência condicionada para agarrar ou para resistir a essas mudanças nos objetos. Aqui, ensina Ajahn Chah, é o lugar para aprender um novo caminho, o caminho do equilíbrio, o Caminho do Meio.
O caminho simples
Tradicionalmente, o caminho óctuplo é ensinado com oito etapas, tais como Entendimento Correto, Linguagem, concentração correta, e assim por diante. Mas o verdadeiro caminho óctuplo está dentro de nós - dois olhos, duas orelhas, duas narinas, uma língua e um corpo. Estas oito portas são todo o nosso Caminho e a mente é quem anda no caminho. Conheça estas portas, examine-as, e todos os dhammas serão revelados.
O coração do caminho é MUITO simples. Não há necessidade de longas explicações. Desista do apego por amar e odiar, apenas entenda as coisas como elas são. Isso é tudo o que eu faço na minha própria prática.
Não tente tornar-se qualquer coisa. Não faça de si mesmo alguma coisa. Não seja um praticante. Não se torne iluminado. Quando você se sentar, deixe estar. Quando você andar, deixe estar. Não apegue-se a nada. Não resista a nada.
Claro, existem dezenas de técnicas de meditação para desenvolver Samadhi e muitas de vipassana. Mas tudo volta ao presente, apenas deixe tudo ser. Fique por aqui onde é tranquilo, fora da batalha.
Por que não tentar? Você tem coragem?
O Caminho do Meio
O Buda não quer que a gente siga o duplo caminho - desejo e indulgência de um lado e do medo e aversão do outro. Esteja apenas ciente do prazer, ele ensina. Raiva, medo, insatisfação não são o caminho do praticante, mas o caminho das pessoas mundanas. A pessoa caminha tranquilo pelo Caminho do Meio da prática correta, deixando os apegos à esquerda e medo e aversão à direita.
Aquele que se compromete em seguir o caminho da prática deve obedecer esse Caminho do Meio: ". não terei interesse no prazer ou na dor e vou rejeitá-los." Mas, evidentemente, é difícil em primeiro momento. É como se nós estivéssemos sendo jogados para ambos os lados. Como um pêndulo, estamos indo sempre um lado para o outro.
Quando Buda pregou seu primeiro sermão, ele discursou sobre esses dois extremos porque é onde se encontra o apego. O desejo de felicidade chuta de um lado; sofrimento e insatisfação chutam do outro. Estes dois estão sempre nos cercando. Mas quando você anda no Caminho do Meio, você coloca-os de lado.
Você não vê? Se seguir esses extremos, você simplesmente vai explodir quando estiver com raiva e se apegar ao que te atrai, sem a menor paciência ou tolerância. Por quanto tempo ainda continuará a ser aprisionado desta forma? Considere isso: se você gosta de algo, se apegará a isto quando a sensação de gostar surge, no entanto, isso é a semente de um futuro sofrimento. Esta mente de desejo é realmente inteligente. Para onde isso leva?
O Buda nos ensina a nos mantermos fora dos extremos. Este é o caminho da prática correta, o caminho que conduz para o fim do nascimento. Neste caminho, não há nem o prazer nem a dor, nem bem nem mal. Infelizmente, a massa de seres humanos cheios de desejo apenas luta por prazer e sempre ignora o meio, perdendo o Caminho do Abençoado, o caminho do buscador da verdade. Atado ao nascimento e ser/existir, felicidade e sofrimento, bem e mal, aquele que não viaja neste Caminho do Meio não pode se tornar um sábio, não pode encontrar a libertação. Nosso caminho é reto, o caminho da tranquilidade e consciência pura, acalma tanto euforia quanto tristeza. Se o seu coração é assim, você pode parar de procurar outras pessoas para orientação.
Você vai ver que quando o coração/mente estiverem desapegados, eles permanecem em seu estado normal. Quando se sai do 'normal´ por causa de vários pensamentos e sentimentos, o processo de construção do pensamento ocorre, então as ilusões são criadas. Aprenda a ver com este processo. Quando a mente está agitada, ela sai do seu estado normal para um dos extremos de indulgência ou aversão, criando então mais ilusões, mais construção do pensamento. Bem ou mal só surgem em sua mente. Se você observar sua mente, estudando este assunto toda a sua vida, eu garanto que nunca vai ficar entediado.
Dando fim à dúvida
Muitas pessoas com cursos superiores e pós-graduações alcançaram sucesso mundano, ainda assim acham que ainda falta algo em suas vidas. Embora elas tenham pensamentos elevados e são intelectualmente desenvolvidas, seus corações ainda estão cheios de mesquinhez e dúvida. O urubu voa alto, mas do que se alimenta?
Dhamma é a compreensão do que vai além do condicionado, do composto, da limitada compreensão da ciência mundana. É claro que a sabedoria do mundo pode ser usada para um bom propósito, mas o progresso na sabedoria do mundo pode causar deterioração na religião e nos valores morais. O importante é desenvolver a sabedoria supra-mundana e poder usar a tecnologia sem estar apegado a ela.
É necessário ensinar os fundamentos básicos da moralidade, enxergar a transitoriedade da vida, os fatos do envelhecimento e da morte. Aqui é onde devemos começar. Antes de conduzir um carro ou andar de bicicleta, você deve aprender a andar. Mais tarde, você pode voar em um avião ou viajar ao redor do mundo em um piscar de olhos.
O estudo formal das escrituras não é importante. É claro que os livros do Dharma estão corretos, mas eles não estão certos. Eles não podem dar-lhe o entendimento correto. Ver a palavra ódio impressa não é o mesmo que experimentar a raiva, assim como ouvir o nome de uma pessoa é diferente de conhecê-la. Só experimentando por si mesmo pode lhe dar a verdadeira fé.
Existem dois tipos de fé. Um deles é um tipo de confiança cega no Buda, nos ensinamentos, no mestre, o que muitas vezes leva a pessoa a começar a prática ou para se ordenar. O segundo é a verdadeira fé-determinada, inabalável - que surge dentro de si mesmo. Embora ainda se tenha outras impurezas para superar, vendo com clareza todas as coisas dentro de si mesmo torna-se possível pôr fim à dúvida.
Vá além das palavras. Vendo por si próprio
Na minha própria prática, eu não tinha muito conhecimento e estudo. Eu peguei os ensinamentos básicos do Buda e comecei a estudar a minha mente de acordo com sua natureza. Quando você praticar, observe a si mesmo. Depois, gradualmente, o conhecimento e visão irão surgir por si próprios. Se você se sentar em meditação e querer que seja desta ou daquela maneira, é melhor parar ali. Não traga ideais ou expectativas para a sua prática. Deixe seus estudos e opiniões bem longe.
Você deve ir para além das palavras, dos símbolos, dos planos para a sua prática. Então você pode ver por si mesmo a verdade, surgindo aqui. Se você não se voltar para dentro, nunca vai saber a realidade. Eu passei os primeiros anos em estudo formal dos textos do Dharma, e quando tive a oportunidade, fui ouvir vários estudiosos e mestres ensinarem, até que tal estudo se tornou mais um obstáculo do que uma ajuda. Eu não sabia ouvir seus sermões porque não havia ainda olhado para dentro de mim.
Os grandes mestres de meditação falaram sobre a verdade dentro de si mesmo. Praticando, eu comecei a perceber que existia na minha mente também. Depois de um longo tempo, eu percebi que estes professores têm realmente visto a verdade e que, se seguirmos seu caminho, vamos encontrar tudo o que eles têm falado. Então seremos capazes de dizer: '' Sim, eles estavam certos. O que mais poderia haver? Só isso. "Quando eu praticava diligentemente, a realização assim ocorreu.
Se você está interessado no Dhamma, simplesmente solte, deixe ir. Apenas pensar na prática é como saltar sobre a sombra e perder o conteúdo. Você não precisa estudar muito. Se você seguir os princípios e práticas em conformidade, verá o Dhamma por si mesmo. Tem que ser mais do que simplesmente ouvir as palavras. Fale apenas com você mesmo, observe sua própria mente. Se você cortar esses pensamentos verbais, terá um verdadeiro embasamento para julgar. Caso contrário, o seu entendimento não irá a fundo. Pratique dessa forma e o resto acontecerá.
Psicologia Budista
Um dia, uma famosa palestrante da metafísica budista veio ver Ajahn Chah. Essa mulher dava ensinamentos periódicos em Bangkok sobre o abhidhamma e a complexa psicologia budista. Ao falar com Ajahn Chah, ela detalhou o quanto era importante para as pessoas o entendimento da psicologia budista e quanto seus alunos se beneficiaram de seu estudo com ela. Ela perguntou-lhe se ele concordava com a importância de tal entendimento.
"Sim, muito importante", ele concordou.
Encantada, ela ainda questionou se seus próprios alunos aprendiam o abhidhamma.
"Oh, sim, é claro."
E onde, perguntou ela, ele recomendaria que eles começassem, que livros e estudos seriam melhores?
"Só aqui", disse ele, apontando para seu coração, "só aqui."
Estudo e experimentação
Vamos falar sobre a diferença entre estudar ideias do Dhamma e aplicá-las na prática. O verdadeiro estudo do Dhamma tem apenas um único propósito de encontrar uma saída para a insatisfação de nossas vidas e para alcançar a felicidade e paz para nós e para todos os seres. Nosso sofrimento tem causas para seu surgimento e condições para que se mantenha. Vamos entender este processo. Quando o coração está calmo, está em sua condição normal; quando a mente se move, o pensamento é construído. Felicidade e tristeza são parte deste movimento de espírito, essa é a construção do pensamento. Assim também é a inquietação, o desejo de ir 'aqui e ali. Se você não entender este movimento, você vai correr atrás das formações mentais e estará a mercê delas.
Portanto, o Buda nos ensinou a contemplar os movimentos da mente. Observando o movimento da mente, podemos ver suas características básicas: fluxo interminável, insatisfação e vazio. Você deve estar ciente de contemplar estes fenômenos mentais. Desta forma, você pode aprender sobre o processo de origem dependente. O Buda ensinou que a ignorância é a causa do surgimento de todos os fenômenos mundanos e de nossas volições. Volição dá origem à consciência, e consciência, por sua vez dá origem a mente e o corpo. Este é o processo de origem dependente.
Quando começamos a estudar o Budismo, esses ensinamentos tradicionais pode parecer fazer sentido para nós. Mas quando o processo está realmente acontecendo dentro de nós, aqueles que apenas leram sobre ele não poderão observá-los com rapidez suficiente. Como uma fruta caindo de uma árvore, cada elo da cadeia passa tão rápido que essas pessoas não podem dizer quais elos já passaram. Quando o sentido do contato prazeroso ocorre, por exemplo, eles são levados pela sensação e são incapazes de perceber como isso aconteceu.
Claro que, o contorno sistemático do processo nos textos é exato, mas a experiência vai além dos estudos textuais. O estudo não lhe diz que esta é a experiência da ignorância surgindo, é assim que se sente a volição, este é um tipo particular de consciência, este é o sentimento dos diferentes elementos do corpo e da mente. Quando você cai de uma árvore e bate no chão, você não entra em detalhes sobre quantos pés e polegadas você caiu; você acabou de bater no chão e experimenta a dor. Nenhum livro pode descrever isso.
O estudo formal do Dhamma é sistemático e refinado. mas a realidade não é uma ciência exata, Portanto, devemos nos atentarmos para o que surge em nossas mentes e usarmos a mais profunda sabedoria para o conhecimento dos fenômenos. Quando a nossa sabedoria inata, aquele que conhece, experimenta a verdade do coração/mente, fica claro que a mente não é o nosso eu. Que não pertencem a nós, e não é eu, não é meu, todo sentimento de posse deve ser descartado. Quanto à aprender os nomes de todos os elementos da mente e da consciência, o Buda não queria que a gente se apegasse às palavras. ele apenas queria que víssemos que tudo isso é transitório, insatisfatório e vazio de si mesmo. Ele ensinou apenas o desapego. Quando essas coisas surgem, esteja ciente delas, conheça-as. Só uma mente devidamente treinada é que pode fazer isso.
Quando a mente está agitada, as várias formações mentais, construções de pensamentos e reações começam a surgir, construindo e proliferando continuamente. Basta deixá-las ser, o bom, bem como o mal. O Buda disse simplesmente: "Desapegue-se." Mas para nós, é necessário estudar as nossas próprias mentes para saber como é possível abandoná-las.
Se olharmos para o modelo dos elementos da mente, vemos que ela segue uma sequência natural: fatores mentais são, portanto, a consciência surgindo e fluindo de estado em estado, e assim por diante. Podemos ver na nossa própria prática que, quando temos o entendimento e atenção plena corretas, então o pensamento correto, a linguagem correta, a ação correta e o modo de vida correto automaticamente surgem. Diferentes elementos mentais surgem daquele que conhece (citta). Aquele que conhece é como uma lâmpada. Se a compreensão é correta, o pensamento e todos os outros fatores serão corretos, como a luz que emana da lâmpada. Enquanto estamos plenamente atentos, o entendimento correto surge.
Quando examinamos tudo o que chamamos mente, vemos apenas um aglomerado de elementos mentais, e não um eu. Então onde podemos nos apoiar? Sentimentos, memórias, todos os cinco agregados de mente e corpo estão mudando como folhas ao vento. Podemos descobrir isso através da meditação.
A meditação é como um único tronco de madeira. Insight e investigação são uma das extremidades do tronco; calma e concentração são a outra extremidade. Se você levantar todo o tronco, ambos os lados sobem ao mesmo tempo. Qual é a concentração e qual é insight? Apenas isso importa.
Você não pode realmente separar concentração, tranquilidade interior, e insight. Eles são apenas como uma manga que é primeiro verde e azeda, depois amarela e doce, mas não são duas frutas diferentes. Uma cresce para a outra, sem a primeira, nós nunca teríamos a segunda. Tais termos são apenas convenções para o ensino; nós não devemos estar apegados à linguagem. A única fonte de conhecimento verdadeiro é ver o que está dentro de nós mesmos. Só este tipo de estudo tem um fim e é o estudo que realmente tem valor.
A calma da mente no estágio inicial da concentração decorre da simples prática de manter a mente focada. Mas quando esta calma desaparece, sofremos porque nós nos tornamos apegados a ela. A obtenção de tranquilidade, no entanto não é o fim, de acordo com o Buda. Nascimento e sofrimento ainda existem.
Assim, o Buda pegou essa concentração, essa tranquilidade, e contemplou ainda mais. Ele procurou a verdade sobre o assunto até que ele já não estava apegado a tranquilidade. Tranquilidade é apenas mais uma realidade relativa, uma das inúmeras formações mentais, apenas uma etapa no caminho. Se você está apegado a ela, você vai encontrar-se ainda preso no nascimento e tornando-se, com base no seu prazer na tranquilidade. Quando cessa a tranquilidade, a agitação começará e você estará apegado ainda mais.
O Buda passou a examinar o ser/existir e o nascimento para ver onde eles surgem. Como ele ainda não sabia a verdade sobre o assunto, ele usou sua mente para contemplar ainda mais, para investigar todos os elementos mentais que surgiram. Se tranquilos ou não, ele continuou a penetrar, continuou a analisar, até que ele finalmente percebeu que tudo o que ele viu, todos os cinco agregados do corpo e da mente, eram como uma bola de ferro em brasa. Quando tudo está em brasa, onde você pode encontrar um local frio para tocar? O mesmo é válido para os cinco agregados. Agarrar-se a qualquer parte provoca dor. Portanto, você não deve se apegar mesmo a tranquilidade ou a concentração; você não deve dizer que a paz ou tranquilidade é você ou são suas. Fazer isso apenas cria a ilusão dolorosa do eu, o mundo do apego e ilusão, uma outra bola de ferro em brasa.
Em nossa prática, a nossa tendência é de entender, tomar as experiências como eu e minhas. Se você pensar, 'Eu estou calmo, estou agitado, eu sou bom ou ruim, eu sou feliz ou infeliz, "esse apego faz com que mais ser/existir e nascimento surjam. Quando a felicidade termina, o sofrimento aparece; quando o sofrimento termina, a felicidade parece Você vai incessantemente oscilar entre o céu e o inferno. O Buda viu que a condição de sua mente era assim, e ele sabia que, por causa deste nascimento e ser/existir, a sua libertação ainda não estava completa. Então ele pegou esses elementos de experiência e contemplou sua verdadeira natureza. Devido ao apego, nascimento e morte existem Tornar-se feliz é o nascimento; tornar-se deprimido é a morte Tendo morrido, estamos nascemos; Tendo nascido, morremos Este nascimento e morte de um momento para o outro é como o girar infinito de uma roda.
O Buda viu que tudo ao que a mente dá origem são fenômenos condicionados, que são apenas transitórios, que são realmente vazios. Quando isso ficou claro para ele, ele os soltou, desapegou-se, e encontrou um fim ao sofrimento. Você também deve compreender esses assuntos de acordo com a verdade. Quando você sabe as coisas como elas são, vai ver que esses elementos da mente são uma fraude. O ensinamento do Buda diz que esta mente não tem nada, não surge, não nasce, e não morre com ninguém. É livre, brilhante, resplandecente, sem nada para ocupá-la. A mente fica ocupada somente porque ela não entende e é iludida por esses fenômenos condicionados, este falso senso de um eu.
Portanto, o Buda ensinou-nos a olharmos para nossas mentes. O que existe no começo? Verdadeiramente, nada. Este vazio não surge e morre com fenômenos. Quando entra em contato com algo de bom, ela não se torna boa; quando entra em contato com algo ruim, ela não se torna ruim. A mente pura conhece esses objetos claramente, sabe que eles não são substanciais.
Quando a mente do praticante permanece serena, não existe qualquer dúvida. Existe ser/existir? Existe nascimento? Não precisamos perguntar a qualquer um. Tendo examinado os elementos da mente, o Buda soltou-os e tornou-se meramente alguém que estava ciente deles. Ele apenas observou com equanimidade. Condições que levam ao nascimento não existiam mais para ele. Com seu conhecimento completo, ele chamou-os todos de impermanentes, insatisfatórios, vazios de si mesmo. Por isso, ele se tornou aquele que conhece com certeza. Aquele que conhece vê de acordo com esta verdade e não se torna feliz ou triste de acordo com novas condições. Esta é a verdadeira paz, livre de nascimento, envelhecimento, doença e morte, que não depende de causas, resultados, ou condições, além da felicidade e sofrimento, acima do bem e do mal. Nada pode ser falado sobre isso. Não há mais condições que os mantenham.
Portanto, desenvolva samadhi, calma e discernimento; aprenda a fazê-los surgir em sua mente e realmente os use. Caso contrário, você vai apenas conhecer as palavras do Budismo e com as melhores intenções, meramente descreverá as características da existência. Você pode ser inteligente, mas quando as coisas surgem em sua mente, você vai segui-las? Quando você entra em contato com algo que gosta, você vai imediatamente se apegar? Você pode abandoná-lo? Quando surgirem experiências desagradáveis, deve-se reter a antipatia na mente ou deixá-las ir? Se você ver coisas que não gosta e ainda as segura ou condena-as, você deve entender que isso não é correto, ainda não é o supremo. Se você observar sua mente desta forma, você vai realmente saber por si mesmo.
Eu não pratico usando os termos de livros didáticos; Eu só olhei observei aquele que conhece. Se ele odeia alguém, questione o porquê. Se ele ama alguém, questione o porquê. Observe todos os surgimentos até a sua origem, você pode resolver o problema do apego e ódio e abandoná-los. Tudo surge e retorna para aquele que conhece. Mas a prática repetitiva é crucial.
Se olharmos para o modelo dos elementos da mente, vemos que ela segue uma sequência natural: fatores mentais são, portanto, a consciência surgindo e fluindo de estado em estado, e assim por diante. Podemos ver na nossa própria prática que, quando temos o entendimento e atenção plena corretas, então o pensamento correto, a linguagem correta, a ação correta e o modo de vida correto automaticamente surgem. Diferentes elementos mentais surgem daquele que conhece (citta). Aquele que conhece é como uma lâmpada. Se a compreensão é correta, o pensamento e todos os outros fatores serão corretos, como a luz que emana da lâmpada. Enquanto estamos plenamente atentos, o entendimento correto surge.
Quando examinamos tudo o que chamamos mente, vemos apenas um aglomerado de elementos mentais, e não um eu. Então onde podemos nos apoiar? Sentimentos, memórias, todos os cinco agregados de mente e corpo estão mudando como folhas ao vento. Podemos descobrir isso através da meditação.
A meditação é como um único tronco de madeira. Insight e investigação são uma das extremidades do tronco; calma e concentração são a outra extremidade. Se você levantar todo o tronco, ambos os lados sobem ao mesmo tempo. Qual é a concentração e qual é insight? Apenas isso importa.
Você não pode realmente separar concentração, tranquilidade interior, e insight. Eles são apenas como uma manga que é primeiro verde e azeda, depois amarela e doce, mas não são duas frutas diferentes. Uma cresce para a outra, sem a primeira, nós nunca teríamos a segunda. Tais termos são apenas convenções para o ensino; nós não devemos estar apegados à linguagem. A única fonte de conhecimento verdadeiro é ver o que está dentro de nós mesmos. Só este tipo de estudo tem um fim e é o estudo que realmente tem valor.
A calma da mente no estágio inicial da concentração decorre da simples prática de manter a mente focada. Mas quando esta calma desaparece, sofremos porque nós nos tornamos apegados a ela. A obtenção de tranquilidade, no entanto não é o fim, de acordo com o Buda. Nascimento e sofrimento ainda existem.
Assim, o Buda pegou essa concentração, essa tranquilidade, e contemplou ainda mais. Ele procurou a verdade sobre o assunto até que ele já não estava apegado a tranquilidade. Tranquilidade é apenas mais uma realidade relativa, uma das inúmeras formações mentais, apenas uma etapa no caminho. Se você está apegado a ela, você vai encontrar-se ainda preso no nascimento e tornando-se, com base no seu prazer na tranquilidade. Quando cessa a tranquilidade, a agitação começará e você estará apegado ainda mais.
O Buda passou a examinar o ser/existir e o nascimento para ver onde eles surgem. Como ele ainda não sabia a verdade sobre o assunto, ele usou sua mente para contemplar ainda mais, para investigar todos os elementos mentais que surgiram. Se tranquilos ou não, ele continuou a penetrar, continuou a analisar, até que ele finalmente percebeu que tudo o que ele viu, todos os cinco agregados do corpo e da mente, eram como uma bola de ferro em brasa. Quando tudo está em brasa, onde você pode encontrar um local frio para tocar? O mesmo é válido para os cinco agregados. Agarrar-se a qualquer parte provoca dor. Portanto, você não deve se apegar mesmo a tranquilidade ou a concentração; você não deve dizer que a paz ou tranquilidade é você ou são suas. Fazer isso apenas cria a ilusão dolorosa do eu, o mundo do apego e ilusão, uma outra bola de ferro em brasa.
Em nossa prática, a nossa tendência é de entender, tomar as experiências como eu e minhas. Se você pensar, 'Eu estou calmo, estou agitado, eu sou bom ou ruim, eu sou feliz ou infeliz, "esse apego faz com que mais ser/existir e nascimento surjam. Quando a felicidade termina, o sofrimento aparece; quando o sofrimento termina, a felicidade parece Você vai incessantemente oscilar entre o céu e o inferno. O Buda viu que a condição de sua mente era assim, e ele sabia que, por causa deste nascimento e ser/existir, a sua libertação ainda não estava completa. Então ele pegou esses elementos de experiência e contemplou sua verdadeira natureza. Devido ao apego, nascimento e morte existem Tornar-se feliz é o nascimento; tornar-se deprimido é a morte Tendo morrido, estamos nascemos; Tendo nascido, morremos Este nascimento e morte de um momento para o outro é como o girar infinito de uma roda.
O Buda viu que tudo ao que a mente dá origem são fenômenos condicionados, que são apenas transitórios, que são realmente vazios. Quando isso ficou claro para ele, ele os soltou, desapegou-se, e encontrou um fim ao sofrimento. Você também deve compreender esses assuntos de acordo com a verdade. Quando você sabe as coisas como elas são, vai ver que esses elementos da mente são uma fraude. O ensinamento do Buda diz que esta mente não tem nada, não surge, não nasce, e não morre com ninguém. É livre, brilhante, resplandecente, sem nada para ocupá-la. A mente fica ocupada somente porque ela não entende e é iludida por esses fenômenos condicionados, este falso senso de um eu.
Portanto, o Buda ensinou-nos a olharmos para nossas mentes. O que existe no começo? Verdadeiramente, nada. Este vazio não surge e morre com fenômenos. Quando entra em contato com algo de bom, ela não se torna boa; quando entra em contato com algo ruim, ela não se torna ruim. A mente pura conhece esses objetos claramente, sabe que eles não são substanciais.
Quando a mente do praticante permanece serena, não existe qualquer dúvida. Existe ser/existir? Existe nascimento? Não precisamos perguntar a qualquer um. Tendo examinado os elementos da mente, o Buda soltou-os e tornou-se meramente alguém que estava ciente deles. Ele apenas observou com equanimidade. Condições que levam ao nascimento não existiam mais para ele. Com seu conhecimento completo, ele chamou-os todos de impermanentes, insatisfatórios, vazios de si mesmo. Por isso, ele se tornou aquele que conhece com certeza. Aquele que conhece vê de acordo com esta verdade e não se torna feliz ou triste de acordo com novas condições. Esta é a verdadeira paz, livre de nascimento, envelhecimento, doença e morte, que não depende de causas, resultados, ou condições, além da felicidade e sofrimento, acima do bem e do mal. Nada pode ser falado sobre isso. Não há mais condições que os mantenham.
Portanto, desenvolva samadhi, calma e discernimento; aprenda a fazê-los surgir em sua mente e realmente os use. Caso contrário, você vai apenas conhecer as palavras do Budismo e com as melhores intenções, meramente descreverá as características da existência. Você pode ser inteligente, mas quando as coisas surgem em sua mente, você vai segui-las? Quando você entra em contato com algo que gosta, você vai imediatamente se apegar? Você pode abandoná-lo? Quando surgirem experiências desagradáveis, deve-se reter a antipatia na mente ou deixá-las ir? Se você ver coisas que não gosta e ainda as segura ou condena-as, você deve entender que isso não é correto, ainda não é o supremo. Se você observar sua mente desta forma, você vai realmente saber por si mesmo.
Eu não pratico usando os termos de livros didáticos; Eu só olhei observei aquele que conhece. Se ele odeia alguém, questione o porquê. Se ele ama alguém, questione o porquê. Observe todos os surgimentos até a sua origem, você pode resolver o problema do apego e ódio e abandoná-los. Tudo surge e retorna para aquele que conhece. Mas a prática repetitiva é crucial.
A galinha ou o ovo?
Durante sua primeira visita à Inglaterra, Ajahn Chah falou com muitos grupos budistas. Uma noite, depois de uma conversa, ele foi questionado por uma digna senhora inglesa que passou muitos anos estudando a complexa cibernética da mente de acordo com os oitenta e nove classes de consciência nos textos do abhidhamma da psicologia budista. Será que ele explicaria alguns dos aspectos mais difíceis deste sistema de psicologia para que ela pudesse continuar seu estudo?
O Dhamma nos ensina a deixar ir. Mas em primeiro lugar, nós naturalmente nos apegamos aos princípios do Dhamma. A pessoa sábia leva estes princípios e usa-os como ferramentas para descobrir a essência da nossa vida.
Vendo como ela estava presa em conceitos intelectuais, em vez de se beneficiar da prática em seu próprio coração, Ajahn Chah respondeu-lhe muito diretamente, "Você, minha senhora, é como aqueles que criam galinhas em seu quintal ", disse a ela," e anda pelo quintal para pegar as fezes das galinhas em vez dos ovos ".
Ladrões em seu coração
O objetivo da meditação é observar as coisas e colocá-las à prova, para compreender a sua essência. Por exemplo, vemos o corpo como algo bom e belo, ao passo que o Buda nos diz que é imundo, impermanente, e propenso ao sofrimento. Qual ponto de vista está de acordo com a verdade?
Somos como os visitantes de um país estrangeiro; não conhecemos a língua, não podemos nos divertir. Mas uma vez que tenhamos aprendido a língua, podemos rir e brincar com os outros. Ou somos como crianças que têm de crescer antes para que possamos entender o que os adultos estão dizendo.
O visão comum é que os elementos da nossa vida, começando com o corpo, são estáveis. Uma criança brinca com seu balão até que ele pega em um galho ou em um espinho e estoura, fazendo-o chorar. Outra criança, mais esperta do que a primeira, sabe que seu balão pode estourar facilmente e não fica chateada quando ele estoura. As pessoas passam pela vida cegamente, ignorando o fato da morte como gourmets deleitam-se em alimentos finos, nunca pensando que eles terão de excretar. Em seguida, a natureza chama, mas eles não se prepararam, eles não sabem para onde ir. Há perigo no mundo - perigo nos elementos, perigos de ladrões. Esses perigos têm sua contrapartida nos templos também. O Buda nos ensinou a investigar esses perigos e deu o nome bhikkhu para quem se ordena. Bhikkhu tem dois significados: aquele que pede e aquele que vê perigo no giro do samsara. Seres experimentam cobiça, raiva e ilusão. Sucumbindo a essas contaminações, eles colhem os resultados, aumentam os seus maus hábitos, fazer ainda mais kamma, e novamente sucumbem a contaminações.
Porque você não pode se livrar da ganância, do ódio e da ilusão? Se o seu pensamento está errado, você vai sofrer; se você entender corretamente, você pode acabar com o sofrimento.
Conheça o funcionamento do kamma, da causa e efeito. Apego ao prazer traz sofrimento na sua esteira. Você se delicia em boa comida, mas problemas de estômago e desconforto intestinal surgem. Ou você rouba alguma coisa e está feliz com isso, mas depois, a polícia aparece para prendê-lo. Quando você observa sua mente, você pode aprender como agir, você pode aprender a dar um fim ao apego e tristeza. O Buda, vendo isso, queria fugir dos perigos reais do mundo, que temos de superar dentro de nós mesmos. Perigos externos não são tão assustadores quanto os perigos internos: Quais são os elementos desse perigo interior?
Vento. As coisas vêm para os sentidos, causando compulsão, luxúria, ira, e ignorância, destruindo o que é bom em nós. Normalmente, vemos o vento apenas como aquele que balança as folhas, não vendo o vento dos nossos sentidos, que, sem vigilância, podem causar tempestades de desejo.
Fogo. Nosso templo pode nunca ter sido atingido por um incêndio, mas a ganância, ódio e ilusão nos queimam constantemente. Luxúria e aversão nos levam a falar e a fazer o mal; ilusão nos leva a ver o bom como ruim, ruim como bom, o feio como bonito, o sem valor como valioso. Mas aquele que não medita não vê isso e é engolido por estes incêndios.
Água. Aqui, o perigo é a inundação de contaminação em nossos corações submergindo nossa verdadeira natureza.
Ladrões. Os ladrões reais não existem fora de nós. Nosso mosteiro viu ladrões apenas uma vez em vinte anos, mas por dentro as cinco quadrilhas de apego, os agregados, estão sempre roubando, batendo, e nos destruindo. Quais são esses cinco agregados?
1. Corpo. É uma presa de doença e dor; quando ele não está de acordo com os nossos desejos, temos dor e tristeza. Não entendendo o envelhecimento natural e a decadência do corpo, sofremos. Sentimos atração ou repulsão para com os corpos dos outros e somos roubados da verdadeira paz.
2. Sensações. Quando surgem a dor e o prazer, nos esquecemos de que eles são impermanentes, sofrimento, e não eu; nos identificamos com nossas emoções e somos, portanto, torturados por nosso entendimento incorreto.
3. Memórias e percepções. Identificando-nos com o que reconhecemos e lembramos dá origem a cobiça, raiva e ilusão. Nosso entendimento incorreto se torna habitual, armazenado no subconsciente.
4. Volições e outros elementos da mente. Ao não compreendemos a natureza dos estados mentais, reagimos, então surgem pensamentos e sentimentos, gostos e desgostos, alegria e tristeza. Esquecendo que eles são impermanentes, sofrimento e desprovidos de um eu, nos apegamos a eles.
5. Consciência. Nós nos sentimos separados dos agregados. Nós pensamos: "Eu sei, eu sou, eu sinto", e estão vinculados por essa ilusão de um eu, de separação.
Todos estes ladrões, esse entendimento incorreto, levam à ação errada. O Buda não tinha desejos para isso; ele viu que a verdadeira felicidade não poderia ser encontrada aqui. Assim, ele deu o nome de bhikkhu àqueles que também veem esse perigo e buscam uma saída.
O Buda ensinou aos seus monges a verdadeira natureza dos cinco agregados e como abandoná-los sem apego a eles como eu ou meu. Quando entendemos isso, veremos que eles têm potencial para grande dano ou grande valor, mas eles não desaparecem. Eles simplesmente não estão mais organizando aquilo que entendemos como o eu. Após sua iluminação, o Buda ainda tinha males físicos, teve sentimentos de dor e prazer, tinha lembranças, pensamentos e consciência. Mas ele não se apegava a eles como sendo o eu, como eu ou meu ser. Ele os conhecia como eram, e para aqueles que sabiam era também não eu, não meu.
Separar os cinco agregados das corrupções e do apego é como roçar o mato de uma floresta sem destruir as árvores. Há apenas uma constante surgimento e desaparecimento; sujeira não pode ganhar uma posição. Estamos simplesmente nascendo e morrendo com os agregados; eles simplesmente vêm e vão, de acordo com sua natureza.
Se alguém nos amaldiçoa e não temos sensações de um eu, o incidente termina com as palavras faladas, e sem sofrimento. Se surgirem sentimentos desagradáveis, devemos deixá-los parar por aí, percebendo que os sentimentos não são nós. "Ele me odeia, ele me incomoda, ele é meu inimigo." Um bhikkhu não pensa assim, nem mantém pensamentos de orgulho ou comparação. Se não ficarmos na linha de fogo, não levaremos um tiro; se não há ninguém para recebê-lo, a carta é enviada de volta. Movendo-se graciosamente pelo mundo sem apegos aos fenômenos, um bikkhu torna-se sereno. Este é o caminho para Nibbana, vazio e livre
Investigue os cinco agregados, então; faça uma floresta ficar limpa. Você será uma pessoa diferente. Aqueles que entendem o vazio e a prática nesse sentido são poucos, mas eles conhecem a maior alegria. Por que não tentar? Você pode abolir os ladrões em seu coração e deixar tudo muito feliz.
(continua)
Excelente. Os ensinamentos de Ajahn Chan são fantásticos. Obrigado por compartilhar.
ResponderExcluirAos poucos postarei os demais capítulos do livro. Estou meio sem tempo para traduzir, então a coisa está a passos de lesma. rsrs
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