Um calmo lago na floresta. Capítulo 2

Corrigindo nossas visões

Quando você escolhe cogumelos, Ajahn Chah alerta, você deve saber o que procurar. Quando você se compromete com a prática espiritual, também deve saber que atitudes tem que nutrir, que perigos a evitar, e quais são as qualidades mentais a serem incentivadas.
Aqui ele enfatiza o poder de formação da nossa perseverança e coragem, o desenvolvimento de uma vontade de encontrar o Caminho do Meio e segui-lo, apesar da tentação e profanação. Quando a ganância, ódio ou ilusão surgem, diz ele, não ceda a eles. Não desanime. Basta ficar atento e firme em sua resolução.
Conforme sua prática vai se desenvolvendo, você vai ver que cada experiência que passar é impermanente, e, assim, insatisfatória. Você vai descobrir em primeira mão a verdade destas características em toda a existência e começar a aprender o caminho da liberdade, do desapego. Mas Ajahn Chah nos lembra que esta exige a disposição de investigar os nossos sofrimentos e nossas alegrias com uma mente equânime.
Quando o coração se torna calmo e a mente clara, chegamos mais perto da verdade que Ajahn Chah chama ", apenas isso." O Dharma, a verdade, é realmente muito simples. Todas as coisas que surgem e passam, todo o mundo da mudança de fenômenos, é realmente apenas "só isso!" Quando nós realmente descobrirmos o que isso significa, então aqui em nosso mundo, podemos chegar à paz.

O caminho errado

Um asceta errante, tendo ouvido falar do Buda, viajou por todo lugar à procura dele. Uma noite, ele dormiu em uma casa onde o Buda também estava hospedado, mas, sem conhecer a aparência física do Buda, ele não tinha conhecimento de sua presença. Na manhã seguinte, ele se levantou e continuou seu caminho, ainda em busca do Buda. Procurar a paz e a iluminação sem entendimento correto é assim.
Devido a uma falta de compreensão da verdade do sofrimento e da sua eliminação, todos os fatores subsequentes sobre o caminho estarão errados, fala incorreta, ações erradas, e prática errada de concentração e tranquilidade. Seus gostos e desgostos  também não são um guia confiável nesta questão, embora as pessoas tolas os levem a usá-los como referência. Infelizmente, é como viajar para uma determinada cidade sem conhecê-la, você pode começar no caminho errado, e já que é conveniente, você começará por ela, mas ela não vai levá-lo onde você quer ir.

Entendimento Correto

O entendimento correto é desenvolvido observando a impermanência, sofrimento e não-eu em tudo, o que leva ao desapego e perda de paixão. O desapego não é aversão. Aversão a algo que uma vez gostamos é temporário, e a cobiça por este algo retornará.
Imagine um pouco de comida que você gosta, brotos de bambu ou caril doce*, por exemplo. Imagine comer isso todos os dias durante cinco ou seis anos; você iria ficar enjoado de brotos de bambu. Se alguém lhe oferecer alguns, você não iria ficar animado. Da mesma forma, devemos ver a impermanência, sofrimento e vazio em todas as coisas em todos os momentos: brotos de bambu!

Nota do tradutor - Obviamente o foco era o leitor tailandês, por isso o exemplo de uma típica comida tailandesa.

Nós não procuramos uma vida de prazer, mas sim de encontrar a paz. A paz está dentro de nós mesmos, a ser encontrada no mesmo lugar da agitação e sofrimento. Não é encontrada em uma floresta ou em um morro, nem é dada por um professor. Onde você experimenta o sofrimento, você também pode encontrar a libertação do sofrimento. Tentar fugir do sofrimento é de fato correr em direção a ele. A ideia é investigar o sofrimento, observar as suas causas, e colocar um fim a elas agora, ao invés de meramente lidar com seus efeitos.

As contaminações famintas


Aqueles que estão começando muitas vezes me perguntam o que é prática. Prática ocorre quando você tenta se opor às contaminações, não as alimentando velhos hábitos. Caso surjam atritos e dificuldades, esse é o lugar para se trabalhar.
Quando você escolhe cogumelos para comer, não o faz cegamente; você tem que saber qual tipo é qual. Assim também é com a nossa prática, temos de conhecer os perigos, a mordida de cobra das contaminações, para assim nos livramos delas.
O contaminações como cobiça, ódio e ilusão são a raiz de nosso sofrimento e nosso egoísmo. Temos que aprender a superá-las, para conquistar e ir além de seu controle, para tornamo-nos mestres de nossas mentes. Claro que parece difícil. É como o Buda dizer-lhe para se separar um amigo que você conhece desde a infância.
As impurezas são como um tigre. Devemos prender o tigre em uma gaiola bem resistente, feita de atenção, energia, paciência e perseverança. Então, podemos deixá-lo morrer de fome, não mais alimentando seus desejos habituais. Não devemos pegar uma faca e abatê-lo.
Ou então as impurezas são como um gato. Se você alimentá-lo, ele vai continuar vindo. Ao Parar de alimentá-lo, ele eventualmente não irá mais lhe procurar.
No começo, de maneira inevitável, seremos desejosos e angustiados na nossa prática. Mas lembre-se, apenas as contaminações geram desejos. As pessoas pensam, 'Eu nunca tive problemas como estes antes. O que há de errado? "Antes, quando alimentávamos nossos desejos, estávamos em paz com eles, como um homem que cuida de uma infecção interna, cuidando unicamente das feridas externas.
Resista às contaminações. Não dê-lhes todo o alimento ou sono que eles querem. Muitas pessoas consideram isso o extremo da auto-tortura, mas é necessário para tornar-se interiormente forte. Veja por si mesmo. Ao constantemente observar a mente, você pode pensar que está vendo apenas efeitos e impressionando-se com as causas. Suponha que os pais têm uma criança que é educada para ser desrespeitosa. Afligidos por seu comportamento, eles podem perguntar: "De onde veio essa criança?" Na verdade, o nosso sofrimento vem do nosso próprio entendimento incorreto, do nosso apego a várias atividades mentais Temos de treinar a nossa mente como um búfalo. O búfalo é o nosso pensamento , o proprietário é o praticante, criar e treinar o búfalo é a prática. Com uma mente treinada, podemos ver a verdade, podemos saber a causa do nosso eu e o seu fim, o fim de toda a tristeza. Não é complicado, você sabe.
Todo mundo tem impurezas em sua prática temos que trabalhar em cima delas, lutar quando elas surgirem. Isso não é algo para se pensar, mas para se fazer. É necessária muita paciência. Aos poucos, nós temos que mudar nossas maneiras habituais de pensar e sentir. Temos que ver como nós sofremos quando pensamos em termos de mim e de meu. Então podemos deixá-los ir.

Felicidade e sofrimento

Um jovem monge ocidental tinha acabado de chegar em um dos mosteiros florestais de Ajahn Chah e pediu permissão para ficar e praticar.
Eu espero que você não esteja com medo de sofrer "foi a primeira resposta de Ajahn Chah.
Um pouco surpreso, o jovem ocidental explicou que ele não veio para sofrer, mas para aprender meditação e a viver em paz na floresta.
Ajahn Chah explicou, '' Há dois tipos de sofrimento: o sofrimento que conduz a mais sofrimento e o sofrimento que leva ao fim do sofrimento. Se você não está disposto a enfrentar o segundo tipo de sofrimento, certamente vai continuar a ter o primeiro ".
O método de ensino de Ajahn Chah é geralmente simples e direto. Quando ele encontra seus monges no mosteiro, muitas vezes pergunta: "Você está sofrendo muito hoje?" Se alguém diz que sim, ele responde: "Bem, você deve estar com muitos apegos hoje", e depois ri disso com o monge.
Você já teve a felicidade? Você já teve sofrimento? Você já pensou qual deles é realmente valioso? Se a felicidade é verdadeira, então não deveria se dissolver, deveria? Você deve estudar este ponto para ver o que é real, o que é verdadeiro. Este estudo, esta meditação, leva ao entendimento correto.

A mente discriminativa


Entendimento correto, em última análise, significa não-discriminação ver todas as pessoas como iguais, nem boas nem más, nem inteligente, nem tolo; não pensar que o mel é doce e bom e alguns outros alimentos são amargos. Embora você possa comer vários tipos de alimentos, quando você absorver e excretá-los, todos eles se tornam a mesma coisa. É um ou muitos? É um copo grande? Em relação a um copo pequeno, sim; quando colocado ao lado de um jarro, não.
Nosso desejo e ignorância, nossa discriminação pinta tudo dessa forma. Este é o mundo que criamos. Mais uma vez, um jarro não é nem pesado e nem leve; nós apenas sentimos que é de um jeito ou de outro. No koan Zen da bandeira no vento, duas pessoas estão olhando uma bandeira: uma diz que é o vento que se move, a outra diz que é a bandeira. Eles podem argumentar para sempre, pegar em armas e combater-se, tudo em vão, pois ela é a mente que se move.
Há sempre diferenças. Conheça essas diferenças, no entanto, aprenda a ver a mesmice também. No nosso grupo as pessoas vêm de diferentes origens, culturas diferentes. No entanto, sem pensar, 'Essa é Tailandesa, o outro é do Laos, ele é do Camboja, ele é um ocidental." Nós devemos ter a compreensão mútua e respeito pelos outros. Aprenda a ver a mesmice subjacente de todas as coisas, como elas são todas realmente iguais, verdadeiramente vazias. Depois, você pode saber como lidar com as diferenças aparentes sabiamente. Mas não se apegue a esta mesma mesmice.
Por que o açúcar é doce e água insípida? É apenas a sua natureza. Assim também com o pensamento e a quietude, dor e prazer - é entendimento errado querer parar de pensar. Às vezes há pensamento, às vezes quietude. Temos de ver que ambos são por natureza impermanente, insatisfatórios, e não um motivo de felicidade duradoura. Mas se continuarmos a nos preocupar e pensar mais ainda mais, 'Estou sofrendo, eu quero parar de pensar, "só que essa compreensão errada complica as coisas.
Às vezes, podemos sentir que o pensamento é sofrimento, como um ladrão roubando-nos do presente. O que podemos fazer para pará-lo? No dia, é claro; à noite, é escuro. Isto é por si sofrimento? Só se compararmos a forma como as coisas estão agora, com outras situações que passamos e gostariamos que fosse de outra forma. Em última análise, as coisas são apenas como elas são - nossas comparações é que nos fazem sofrer. 
Você vê essa mente funcionando - você considera que ela seja você ou sua? "Eu não sei se sou eu ou é minha", você responde, "mas é certamente fora de controle." É como um macaco pulando sem sentido. Ele vai lá em cima, fica entediado, corre de volta para o chão, fica cansado disso, vai para um filme, fica entediado de novo, tem boa comida ou má comida, fica entediado com isso também. Seu comportamento é impulsionado não pelo desapego, mas por diferentes formas de aversão e medo.
Você tem que aprender a se controlar. Pare de cuidar dos afazeres de um macaco e volte a mente para a verdade da vida. Veja a verdadeira natureza da mente: impermanente, insatisfatória e vazia. Aprenda a ser seu mestre; acorrente o macaco, se necessário. Não basta segui-lo, deixe-o a mercê da vida até que morra. Então você tem um macaco morto. Deixe o macaco morto apodrecer, e você terá ossos de macaco.
Iluminação não significa tornar-se morto como uma estátua do Buda. Aquele que é iluminado pensa também, mas conhece o processo como impermanentes, insatisfatório  e vazio de personalidade. Nós que praticamos devemos ver claramente estas coisas. Precisamos investigar o sofrimento e parar suas causas. Se nós não vemos, a sabedoria nunca poderá surgir. Não deve haver nenhuma adivinhação, devemos ver as coisas exatamente como elas são. Sentimentos são apenas sentimentos, os pensamentos são apenas pensamentos. Este é o caminho para acabar com todos os nossos problemas.
Podemos ver a mente como uma flor de lótus. Algumas flores de lótus ainda estão presas na lama, algumas subiram acima da lama, mas ainda estão debaixo d'água, algumas chegaram a superfície, enquanto outras estão abertas ao sol e sem mancha. Qual lótus que você escolhe ser? Se você se encontra abaixo da superfície: fique atento para as mordidas de peixes e tartarugas.

Objetos dos sentidos e mente

Nós não examinamos a nós mesmos; nós apenas seguimos o desejo, preso em ciclos intermináveis ​​de apego e medo, querendo fazer exatamente o que quisermos. Tudo o que fazemos, nós queremos que seja em favor da nossa facilidade. Se não formos capazes de ter conforto e prazer por mais tempo, então ficamos infelizes, com raiva e aversão, e sofremos, enganados pela nossa mente.
Para a maioria das pessoas, o nosso pensamento segue os objetos dos sentidos, e, para onde o pensamento nos levar, nós vamos. No entanto, o pensamento e a sabedoria são diferentes; em sabedoria, a mente se torna quieta, imóvel, e nós simplesmente estamos atentos e cientes. Normalmente, quando os objetos dos sentidos surgem, nós pensamos, debruçamos sobre, discorremos sobre, e nos preocupamos com eles. No entanto, nenhum desses objetos é substancial; todos são impermanentes, insatisfatórios e vazios. Basta dissecá-los e observá-los tendo em mente estas três características comuns. Quando você se sentar novamente, eles surgirão novamente, mas apenas observe-os.
Esta prática é como cuidar de um búfalo e um campo de arroz. A mente é como o búfalo, que quer comer as plantas de arroz, objetos sensoriais; aquele que observa é o proprietário. Considere a comparação. Quando você solta um búfalo, você deixá-o ir livre, mas mantem os olhos nele. Você não pode ser descuidado. Se ele vai pra perto do arroz, você grita com ele e ele recua. Se ele é teimoso não vai obedecer a sua voz, você pega uma vara para batê-lo. Não adormeça durante o dia e abandone tudo. Se fizer isso, não terá mais  arroz, com certeza.  
Quando você está observando sua mente, aquele que conhece (citta) constantemente percebe tudo. Como os suttas dizem: "Aquele que cuida de sua mente deve escapar das armadilhas de Mara, o Maligno." A mente é a mente, mas quem é que o observa? A mente é uma coisa, o que observa é outra. Ao mesmo tempo, a mente é tanto o processo de pensamento quanto o de conhecimento. Conhecer a mente, saber como ela se comporta quando se encontra com os objetos sensoriais e como ele é quando está ausente deles. Quando se observa a mente desta forma, a sabedoria surge. Se a mente encontra um objeto, ela se envolve, assim como o búfalo. Onde quer que vá, você deve observá-lo. Quando ele vai perto das plantas de arroz, grite com ele. Se ele não obedecer, apenas bata nele.
Quando as experiências da mente experimentam o contato, ela agarra. Quando se agarra, o observador deve refletir. Ver o que é bom e o que é ruim, ponderando sobre as causas e efeitos e entendendo que qualquer coisa que a mente venha a se agarrar, tenderá a causar resultados indesejáveis até que a mente torne-se mais maleável, até que ela deixe-os ir. Dessa forma, o treinamento dará resultado e a mente ficará mais tranquila.
O Buda nos ensinou a a colocar as coisas em seus devidos lugares, não como uma vaca ou um búfalo mas com conhecimento de causa, com consciência. Ele nos ensinou a praticar muito, a evoluir muito, a descansar firmemente nos princípios do Buda, Dhamma, e Sangha, e aplicá-los diretamente para a nossa própria vida.
Desde o início eu pratiquei assim. Ao ensinar meus discípulos, eu ensino assim. Queremos ver a verdade não em um livro ou como um ideal, mas em nossas próprias mentes. Se a mente ainda não é livre, contemplar a causa e o efeito de cada situação até que a mente veja claramente e poder libertar-se do seu próprio condicionamento. À medida que a mente se apega novamente, examinar cada situação nova, não parar de olhar, manter a plena atenção. Então o apego não vai encontrar nenhum lugar para descansar. Esta é a maneira que eu mesmo tenho praticado.
Se você praticar assim, a verdadeira tranquilidade é encontrada em atividade, em meio aos objetos dos sentidos. No início, quando você está trabalhando em sua mente os objetos dos sentidos surgem, você se apega a eles ou evita-os. Portanto, você está sendo pertubado e não pacificado. Quando você se senta e não deseja ter contato sensorial, desejar não pensar já é desejo! Quanto mais você luta contra o seu pensamento, mais forte ele se torna. Apenas esqueça sobre isso e continue a praticar. Quando você fizer contato com objetos dos sentidos, contemple: impermanentes, insatisfatórios, não eu. Jogue tudo para estes três escaninhos, arquive tudo sob estas três categorias, e continua a contemplar.

Problemas do Mundo

Muitas pessoas, especialmente as estudadas, profissionais, estão se mudando das grandes cidades, em busca de mais silêncio, bem estar e vidas mais simples nas pequenas cidades e áreas rurais. Isso é natural. Se você pegar um punhado de lama e apertá-lo, ele vai escorrer por entre os dedos. Pessoas sob pressão igualmente buscam uma saída.
As pessoas me perguntam sobre os problemas do nosso mundo, acerca de um apocalipse próximo. Eu pergunto, o que significa ser mundano? O que é o mundo? Você não sabe? Isso, isso é muita escuridão muito desconhecimento, lugar de  ignorância, é o que se entende por mundano. Preso aos seis sentidos, nosso conhecimento se desenvolve como parte desta escuridão. Para chegar a uma resposta para os problemas do mundo, devemos conhecer a sua natureza completamente e compreender a sabedoria que brilha acima da escuridão do mundo.
Nestes dias, parece que a nossa cultura está se deteriorando, perdida na cobiça, raiva e ilusão. Mas a cultura do Buda nunca muda, nunca diminui. Ela diz: "Não minta para os outros ou para nós mesmos. Não roube dos outros ou de nós mesmos." Cultura mundana tem o desejo como seu diretor e guia. A cultura do Buda tem compaixão e Dhamma, ou a verdade, como seu guia.

Apenas isso

Quando você dá uma boa olhada no nosso mundo, verá que ele é apenas isso; ele existe exatamente como você vê. Regido por nascimento, envelhecimento, doença e morte, é apenas isso. Grande ou pequeno é só isso. A roda da vida e da morte é apenas isso. Então, por que ainda estamos apegados, atados e presos? Brincar com os objetos da vida nos dá algum prazer; no entanto, esta apreciação não é muita coisa. 
Tudo o que é agradável, delicioso, excitante, bom, é só isso; ele tem seu limite, não é como se fosse algo excepcional. O Buda ensinou que tudo é só isso, de igual valor. Devemos contemplar este ponto. Basta olhar para os monges ocidentais que vieram aqui para praticar. Eles tiveram muito prazer e conforto em suas vidas, mas foi só isso; tentar ter mais do que tiveram apenas os deixaram mais loucos. Eles se tornaram viajantes, deixaram tudo pra trás mas ainda era apenas isso. Em seguida, eles chegaram aqui para a floresta para aprender a desistir de tudo, de todos os apegos, de todo o sofrimento.
Todas as coisas condicionadas são impermanentes, atadas ao ciclo de nascimento e morte. Basta olhar para elas; eles são apenas isso. Todas as coisas neste mundo existem assim. Algumas pessoas dizem, '' Fazendo ações virtuosas, praticando a religião, você envelhece do mesmo jeito" Isso pode ser verdade no aspecto do corpo, mas não do coração, da virtude; Quando compreendemos a diferença, temos uma chance de se nos tornarmo-nos livres.
Olhe para os elementos do nosso corpo e mente. Eles são fenômenos condicionados, decorrentes de uma causa e, portanto, impermanentes. A sua natureza é sempre a mesma, ele não pode ser alterado. Um grande nobre e um servo comum são os mesmos. Quando eles se tornam de idade, seu ato chega ao fim; eles já não podem disfarçar ou se esconder atrás de máscaras. Não há nenhum lugar para ir, não mais gosto, não mais textura. Quando você fica velho, a sua visão torna-se fraca, enfraquece a sua audição, seu corpo se torna débil, você deve encarar a si mesmo.
Nós os seres humanos estamos constantemente em combate, em guerra para escapar do fato de ser apenas isso. Mas, em vez de escapar, continuamos a criar mais sofrimento, fazer a guerra com o bom fazer a guerra, com o mal, fazer a guerra com o que é pequeno, travando uma guerra com o que é grande, fazer a guerra com o que é curto ou longo ou certo ou errado, corajosamente continuando a batalha.
O Buda ensinou a verdade, mas somos como búfalos, a menos que eles estejam amarrados firmemente por todas as quatro pernas, eles não vão deixar que seja dado qualquer medicamento. Depois de terem sido amarrados e não poderem fazer nada, agora você pode ir em frente e dar-lhes remédio, e eles serão incapazes de resistir. Da mesma forma, a maioria de nós deve estar totalmente ligada ao sofrimento antes de nos desapegarmos e desistirmos de nossas ilusões. Se  ainda pudermos nos contorcer e resistir, não vamos desistir ainda. Algumas pessoas podem entender o Dhamma quando ouvi-lo sendo ensinado e explicado por um professor. Mas a vida deve ensinar a maioria de nós todo o caminho até o fim.
Você pode puxar a ponta de uma corda, mas se a outra extremidade estiver presa, a corda não vai ceder. A fim de fazê-la vir livre, você precisa descobrir onde ela está presa, você precisa procurar a fonte ou a raiz do problema. Devemos usar nossa prática totalmente para descobrir como estamos presos, para descobrir o coração de paz. Devemos seguir as pegadas do boi desde o início, a partir do ponto em que deixou o curral. Se começarmos no meio da trilha, não seremos capazes de dizer de qual boi as pegadas são, e, portanto, poderíamos ser levados a qualquer lugar.
Portanto, o Buda falou da primeira correção de nossos pontos de vista. Temos de investigar a própria raiz do sofrimento, a própria verdade da nossa vida. Se podemos ver que todas as coisas são isso, vamos encontrar o verdadeiro caminho. Devemos chegar a conhecer a realidade dos fenômenos condicionados, a forma como as coisas são. Só então poderemos ter paz em nosso mundo.

Siga seu professor

Enquanto você cresce no Dhamma, você deve ter um professor para instruir e aconselhar. A questão de concentrar a mente, de samadhi, é muito mal compreendida; fenômenos ocorrem em meditação que de outra forma não costumam surgir. Quando isso acontecer, a orientação de um professor é crucial, especialmente naquelas áreas em que você tem entendimento errado. Muitas vezes, onde ele corrige você será apenas onde você pensou que estava certo. Na complexidade de seu pensamento, uma visão pode obscurecer a outra e você se deixar enganar. Respeite seu professor e siga as regras ou sistema de prática. Se o professor diz para fazer algo, faça-o. Se ele diz para desistir, desista. Isso permite que você faça um esforço honesto e leva a tornar o conhecimento e visão manifestos em sua mente. Se você fizer o que eu estou dizendo, você vai ver e conhecer.
Verdadeiros professores só falam da dificuldade do desapego ou do abandono do eu. Aconteça o que acontecer, não abandone o professor. Deixe-o guiá-lo, porque é fácil esquecer o caminho.
Infelizmente, poucos que estudam o budismo realmente deseja praticar. Eu certamente incentivaria-os a praticar, mas algumas pessoas só podem estudar de uma maneira lógica. Poucos estão dispostos a morrer e nascer de novo, livres. Eu sinto pena.

Confie em seu coração

Na prática do Dhamma, existem muitos métodos; se você conhece a essência do ensinamento, eles não lhe confundirão. No entanto, se você é um praticante que não respeita adequadamente a virtude e uma mente recolhida, você não vai ter sucesso, porque está ignorando o caminho seguido pelos grandes mestres florestais do passado. Não desconsidere esses princípios. Se você deseja praticar, deve estabelecer virtude, concentração e sabedoria em sua mente e aspirar as três jóias - Buda, Dhamma, e Sangha. Pare toda a atividade, seja uma pessoa honesta, e pratique. Embora várias coisas possam enganá-lo de tempos em tempos, se você está ciente delas, acabará por ser capaz de soltá-las. A mesma pessoa de sempre vem dizendo as mesmas velhas mentiras; se você sabe disso, não precisa acreditar nela. Mas é preciso um longo tempo antes que você perceba; nossos hábitos estão sempre se esforçando para enganar.
Quando eu vinha praticando por apenas dois ou três anos, eu ainda não podia confiar em mim mesmo. Mas depois que eu tinha experimentado muito, aprendi a confiar em meu próprio coração. Quando você tem essa compreensão profunda, o que ocorrer, pode deixá-lo acontecer, e todas as coisas vão passar e serem debeladas. Vai chegar a um ponto onde o coração em si diz o que fazer; ele está constantemente cutucando, constantemente consciente. Sua única preocupação precisa ser continuar contemplando.

Por que você pratica?

Um grupo de viajantes veio visitar Ajahn Chah com três perguntas elegantes: Por que você pratica? Como você pratica? Qual é o resultado de sua prática? Eles foram enviados como uma delegação por uma organização religiosa Européia a faziam estas perguntas para uma série de grandes mestres em toda a Ásia.
Ajahn Chah fechou os olhos, esperou, e então respondeu com três questões: Por que vocês comem? Como você come? Como você se sente depois de ter comido bem? Então ele riu.
Mais tarde, ele explicou que já compreendemos e que o ensino objetiva direcionar os alunos para o seu próprio conhecimento interior, a seu próprio Dhamma natural. Portanto, ele tinha refletido a busca desses homens em toda a Ásia para uma busca interior.

Deixe a árvore crescer

O Buda ensinou que com as coisas que surgem de si mesmo, depois de ter feito o seu trabalho, você pode deixar os resultados com a natureza, com o poder de seu kamma acumulado. No entanto, o seu esforço não deve cessar. Se o fruto da sabedoria vem rapidamente ou lentamente, você não pode forçá-lo, assim como você não pode forçar o crescimento de uma árvore que plantou. A árvore tem o seu próprio ritmo. Seu trabalho é cavar um buraco, regá-lo, fertilizá-lo e protegê-lo contra insetos. Isso é tudo o que precisa fazer, uma questão de fé. Mas a forma como a árvore cresce, é da natureza da árvore. Se você pratica assim, você pode ter certeza que tudo ficará bem, e sua planta vai crescer.
Assim, você deve entender a diferença entre o seu trabalho e o trabalho da planta. Deixe as coisas da planta para a planta, e cuide das suas coisas. Se a mente não sabe o que precisa fazer, ela vai tentar forçar a planta a crescer e florescer e dar frutos em um dia. Este é o entendimento incorreto, uma das principais causas de sofrimento. Apenas pratique na direção certa e deixe o resto para o seu kamma. Então, quer leve uma, cem ou mil vidas, sua prática estará em paz.

Muito de uma coisa boa

Quando Ajahn Chah chegou a um novo centro de meditação americano, muitos alunos ocidentais lá ficaram rapidamente encantados e impressionados com o seu ensinamento. Ele foi claro e direto, além de gentil e bem-humorado quando ele zombava dos medos e apegos das pessoas. Foi emocionante receber a visita deste mestre habilidoso e famoso. As novas histórias, monges vestidos de dourado, e novas expressões de Dhamma foram maravilhosos. "Por favor, não vá como você planejou, tente ficar por mais tempo," os alunos pediam. "Estamos muito felizes em ter você."
Ajahn Chah sorriu. "Claro, as coisas são boas quando são novas. Mas se eu ficar e ensinar a lhe fazer trabalhar, você vai se cansar de mim, não vai? Como é a sua prática quando a excitação desaparece? Você ficaria entediado comigo em pouco tempo. Como esta inquieta e desejosa mente consegue parar? Quem pode ensinar-lhe isso? Só você aprendendo o verdadeiro Dhamma."

(continua)

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