Dez dias de silêncio

O relato de um turista brasileiro que pela primeira vez participou de um retiro de meditação em um Templo Theravada na Tailândia.


Quando eu embarquei no carro 12 do trem que me levaria de Bangkok para o sul da Tailândia, eu postei no facebook: “Numa jornada para fora desse mundo. Estarei de volta em 13 dias”, eu me referia somente ao mundo cibernético. Seria a primeira vez em muitos anos que eu ficaria tantos dias sem internet, sem os e-mails, facebook e as notícias do “mundo”. Na verdade a jornada foi para dentro de um mundo que nem eu mesmo tinha consciência de sua existência.

Ainda no trem, deitado na minha beliche, antes que eu deixasse que o movimento e o som constante do atrito do trilho me fizesse dormir eu me questionei sobre o que eu estava prestes a fazer. Com pouquíssimo conhecimento sobre o budismo, eu não tinha muitas expectativas do que eu ganharia ficando 10 noites sem falar em um monastério budista. Tudo o que eu esperava do budismo antes de chegar na Tailândia era que ele pregasse antes de qualquer coisa, a simplicidade de viver. O luxo que eu vi nos templos de Bangkok, com estátuas gigantescas de Buda adornadas com pedras preciosas e folheados a ouro contradizia tudo o que eu imaginava dessa “religião” que eu na verdade gostava de pensar que era apenas uma “filosofia”.

Gigantesco buda deitado no templo de Wat Pho em Bangkok

No templo de Wat Pho por exemplo, ainda em Bangkok, onde um Buda dourado com mais de 40 metros de comprimento impressiona pelo tamanho e pela posição austera e imponente, vários fiéis e turistas, como em um ritual depositavam moedas uma a uma em cada uma das latas que se enfileiravam ao longo da parede do templo que guardava a gigantesca estátua. Aquela melodia das moedas ficou na minha cabeça por um tempo como que simbolizando que ali também era o dinheiro que garantiria a entrada dos fiéis ao paraíso. Isso se juntou ao o que eu questionava sobre os monges budistas: Como poderia uma pessoa praticar o “amor ao próximo” se isolando de tudo e de todos? Com esses pensamentos cai no sono com o tchac-tchac-tchac do trem e quando acordei já estava em Chaya, o vilarejo mais próximo do monastério budista de Wat Suan Mokkh.

Antes do retiro de meditação começar, me hospedei no alojamento gratuito do monastério principal e caminhando nas trilhas da mata exuberante daquele lugar, me curvei cumprimentando, como se faz na Ásia, para um dos monges enrolados num lençol alaranjado que passava e fui surpreendido com um “bom dia” em inglês. Sem cerimônias começamos a conversar e a caminharmos juntos. No caminho apontei para a estátua de um Buda e perguntei porque tantas pessoas pareciam venerar uma estátua como se ela fosse um Deus, ele me respondeu simples assim: “Isso é estúpido!” Logo eu fui percebendo que o budismo, assim como todas as religiões tem suas várias facetas e a partir desse encontro eu me permiti ser como uma esponja, apesar do meu receio de passar por uma “lavagem cerebral” nos próximos dias.


As Regras do retiro:


A cama durante o retiro, com travesseiro de madeira

No dia seguinte, o dia do registro, a gente aprenderia que nosso compromisso seria bem maior do que apenas ficar sem falar. Por 10 dias viveríamos como os monges vivem assinando um documento nos comprometendo a seguir os seguintes preceitos:
Não matar os seres vivos (isso inclui as formigas e os mosquitos, danados mosquitos!).
Não tomar o que não me foi dado.
Manter a mente(!) e o corpo livre de qualquer atividade sexual.
Não machucar ninguém com as palavras.
Não usar substâncias que embriagam e levam a negligência (Álcool, drogas, cigarro).
Não comer entre o meio-dia e a madrugada.
Não dançar, cantar, escutar música, assistir a shows, usar ornamentos e se embelezar com perfumes e cosméticos.
Não dormir ou sentar em camas ou assentos luxuosos. (Ainda bem que luxo é algo relativo)

A eletricidade era cortada entre 9:15 da noite e 4 da manhã para evitar que nos distraíssemos, mesmo não havendo muito com o que distrair. Tudo de valor e de distração era pra ser deixado na recepção: Celular, laptop, câmera fotográfica, livros, passaporte, dinheiro, relógio, etc. Para nos facilitar a seguir essas regras cada um de nós teria um quarto privado em um dormitório que mais parecia uma prisão. Para banharmos não tínhamos chuveiros, usávamos baldes para tirar água das redomas de água em “estilo japonês”. A cama era um elevado de concreto ou madeira com um travesseiro de madeira e uma mosqueteira para cada pessoa. É um segredo, mas eu acabei contrabandeando meu colchonete inflável para dentro do quarto.
Quartos individuais durante o retiro. Repare a redoma de água, na direita, para nos banharmos.

Durante o tour do monastério, o supervisor Werner, um alemão bem expressivo que sabia bem usar todos os músculos da cara, explicou o que deveríamos fazer se/quando deparássemos com cobras, aranhas e escorpiões e eu indaguei sobre uma salamandra colorida que estava no pé da minha cama. Ele fechou os olhos e os arregalou dizendo que a salamandra estava no ambiente antes de mim. Basicamente se nós não pudéssemos dividir o mesmo ambiente eu poderia comunicá-lo para trocar o meu quarto, concluiu em um tom mais amigável. Tentar tirá-la de lá não era uma opção.

Já de noite, no nosso hall de meditação com piso de areia e iluminado por luz de vela, recebemos as orientações gerais e as boas vindas e fomos indagados: “Alguma dúvida antes de inciar o período de silêncio?” Com um silêncio absoluto como resposta e várias dúvidas rodopiando na minha cabeça ouvimos três batidas no sino simbolizando o início do nosso período em que não poderíamos mais falar. Éramos mais de cem pessoas e as 9 horas da noite seguimos para nossos quartos em silêncio absoluto como que em uma procissão, em luto por não podermos falar e conhecer toda essa gente de quase 30 países com quem dividiríamos espaço e tanto tempo juntos.
Sofrendo com o tédio:
Os três primeiros dias para mim foram talvez os mais difíceis. A maior parte do tempo tínhamos que passar meditando e como eu sou aprendiz, eu apenas tentava meditar. Eu não estava acostumado a ficar sentado na mesma posição por tanto tempo e era muito difícil não prestar atenção na dor dos músculos do pescoço e das costas.
A orientação passada e a técnica ensinada é muito simples. Foi ensinada pelo próprio Buddha a meio milênio antes de Cristo: Anapanasati. Basicamente temos que prestar atenção (toda atenção) no gesto que mantém todos nós vivos: A respiração. Como para mim não existia nada mais entediante do que prestar atenção no ar que entra e sai do pulmão, minha mente buscava as mais diferentes alternativas de entretenimento: O som dos pássaros, os bichinhos da areia do hall de meditação, a dor nas costas. De vez em quando surgia do nada na minha cabeça uma imagem de uma coca cola bem gelada com as gotinhas de condensação no vidro da garrafa ou um pratão de macarrão a bolonhesa com muito queijo derretido por cima e os pensamentos mais aleatórios: Para onde que eu vou depois do monastério? Como eu vou contar sobre essa experiência tão chata? Será que esta todo mundo bem lá em casa? E se alguém morrer? Quem veio primeiro, a galinha ou o ovo?
As vezes na minha tentativa “inconsciente” de me entreter eu conseguia de tal forma que era difícil segurar a risada. Na primeira vez por exemplo que fomos instruídos a meditar caminhando, parecíamos zumbis do apocalipse com os passos extremamente lentos e feições sérias. A cena era no mínimo cômica, para não dizer trágica. Logo, porém, a vontade de rir passava e os minutos se arrastavam com os meus passos. Outro dia, durante uma refeição (todas eram vegetarianas) o Rafael viu minha cara tentando decifrar uma sobremesa que parecia com ovos de algum inseto e a gente não conseguia mais olhar para a cara um do outro sem rir. Assim descobri que é extremamente difícil segurar uma risada em um ambiente com mais de 100 pessoas juntas, caladas e sérias.
No decorrer dos primeiros dias alguns monges revezavam na tarefa de nos passar algumas mensagens. Para mim era quase um alívio poder escutar alguém e não ter que lutar com meus pensamentos. O mais engraçado era um jovem monge russo que tinha a “árdua” tarefa de nos ensinar os cânticos em Pali. Boa parte do tempo porém ele dividiu de forma muito humilde e sincera, mas com muito humor as dificuldades em se tornar um monge. Por exemplo, se ele precisasse de uma vasilha com água parada ele tinha que ter todo o trabalho de passar a água com as lavas de mosquito para um outro lugar para não ser assassino de seres vivos. Imagina! Mas sua maior dificuldade era não pensar em sorvete, seu maior algoz em se tornar um monge!


Hall de meditação onde passamos a maior parte do tempo tentando meditar
Intimidade com a natureza

No quarto que era para ser privado, eu não dormi sozinho. Na mesma “cama” dormiríamos juntos eu e a salamandra quase todas as noites. Ela respeitando o meu espaço e eu o dela. Com o tempo parecia que a gente estava até simpatizando um pelo outro. Quando a salamandra não estava, uma aranha de uns 8 centímetros com uma rodela branca na barriga aparecia no quarto. Como eu tinha a mosqueteira me “protegendo” nem me preocupei, mas no fundo eu preferia dividir o espaço com a salamandra e não com a aranha. Isolado em meio a tantas árvores, florestas, montanhas, plantações, lagos e rios era de se esperar que outros bichos também estariam presentes.
Quando eu me preparava para uma sessão de meditação caminhando eu vi um enorme lagarto, com mais de um metro de comprimento andando vagarosamente nos jardins do monastério. Sem poder falar eu apontei pra quem estava perto de mim e ali ficamos observando aquele bicho que mais parecia um dragão. Outra vez durante a aula de yoga, alguém apontou para um bicho no chão. De novo, como não podíamos falar só fui ficar sabendo de que se tratava de um escorpião no fim do retiro. Os pássaros eram uma atração a parte, aliás eu nunca tinha prestado tanta atenção nos mais diversos sons que a natureza produz.

O sino que nos despertava todos os dias as 4 horas da manhã.

As 4 horas da manhã um monge ou um voluntário subia na torre do sino e o balançava nos despertando e chamando para a primeira meditação do dia. Enquanto caminhávamos como fantasmas e com caras de sono para o hall de meditação, os grilos comandavam a orquestra no breu da noite. Durante aula diária de yoga, os pássaros começavam a acordar e durante todo o dia eles nos surpreendiam com os mais diferentes tipos de sons. No início da noite tínhamos um tempo livre para relaxar os músculos (endurecidos por passar tanto tempo na mesma posição) no rio de águas termais. Dava para escutar dezenas, se não centenas, de sapos cantando ao mesmo tempo. Tinha de tudo: sapo-tenor, sapo-soprano, sapo-boi. Tinha também o tek-tek-tek das lagartixas em cortejamento e talvez o mais curioso, o grito das salamandras. A minha amiga porém me respeitou todas as noites e o máximo que ela fez sem pedir permissão foi trazer um coleguinha para passarem a noite juntos(!).
Esse contato íntimo e prolongado com a natureza me ajudou não somente a respeitá-la e a me entreter com ela, mas também me fez sentir mais parte dela. Durante uma sessão de cânticos em Pali, a língua do Buda, já nos últimos dias do retiro, o vento começou a ganhar força, as nuvens negras se aproximaram e as pancadas de chuvas e raios começaram a cair do céu. O monge russo decidiu que ouvir a tempestade talvez fosse melhor que entoar cânticos e eu me entreguei a ela! Durante todo aquele tempo, com os olhos fechados, apenas escutando a chuva eu me permiti me deleitar com cada pingo de água, cada sopro de vento, com o barulho dos galhos da gigantesca figueira balançando com o vento. Me senti escutando a música mais linda da Terra, e se você alguma vez já chorou com uma música, vai entender do que eu estou falando. Não chorar por aquela música te remeter a alguma memória ou pensamento, mas simplesmente pelo arranjo único de cada instrumento e som te entreter de tal forma que seus pelos arrepiam com uma onda de bem-estar, e você se sente inexplicavelmente como parte daquela sinfonia, desse sistema, da natureza. Eu me indaguei se isso estava relacionado ao fato de ficar tanto tempo sem falar mas logo eu lembrei que não era a primeira vez que isso acontecia comigo. Uma vez na Flórida tive uma experiência muito parecida e acabei repostando o texto que escrevi sobre a experiência.

Uma cena de filme

Um outro monge tailandês, Ajan Poh, nos seus mais de 80 anos de idade chegava caminhando serenamente as 7 horas da manhã no hall de meditação, se segurava nos cipós de uma árvore pra tirar os chinelos, sentava na mesa de pernas cruzadas de frente para a gente, batia com um martelinho o sino três vezes. O monge fechava então os olhos e imóvel, com um sotaque bem carregado mas bem mansamente falava dos males da sociedade capitalista, do consumismo e da nossa busca incansável pelo prazer nas coisas que o dinheiro compra. Falava da arte que é viver em consciência plena de cada gesto, ato e palavra. A mensagem que ele tentava deixar clara era que a maior satisfação do ser humano, é disponível a todos e ela não se compra, esta disponível dentro da gente. Sua mensagem era linda e mais ainda quando ornamentadas pelos primeiros raios de sol filtrados pelas árvores e pela névoa matinal que encobria o ambiente. A cena era surreal, quase mística, e por isso mesmo, difícil de “engolir”, com uma mensagem um tanto utópica para nós, seres “normais” (que não tínhamos a capacidade de dividir nosso sangue de bom grado com os mosquitos).

A experiência de meditar

“Sente-se como uma língua na boca de uma serpente”

O que me deu forças porém para persistir na concentração e nas tentativas de meditação foi a explicação do monge britânico, Tan Dhammavidu. Meditação não era simplesmente ficar sentado tentando focar atenção numa coisa só. Isso é apenas tentativa de meditação. Ela realmente acontece quando fazemos a “mágica” de nos entreter com uma coisa tão simples quanto a respiração. Você começa acompanhar o ar que entra e o ar que sai como se estivesse acompanhando um filme, um livro ou um esporte empolgante. Isso finalmente aconteceu comigo na noite do terceiro dia. Não foi necessariamente como se espera a ruptura para os estágios iniciais da meditação, mas nunca vou esquecer a sensação incrível que eu experimentei. A onda de felicidade foi tão grande que caminhando de volta para o meu quarto, na escuridão da noite eu comecei a chorar de emoção. Sei que isso soa brega e eu não quero que você acredite em mim. Se você tem curiosidade de experimentar meditação, por favor, não confie no que eu escrevo. Mas tente, aprenda a meditar e experimente por você mesmo e tire suas próprias conclusões. Palavras, sejam elas escritas, faladas, em livros sagrados ou blogs, nunca farão o menor sentido até que você, e somente você, experimente seus significados.
Isso é parte da filosofia budista, mas apenas filosofia, porque não passa por experimentos físicos e nem se prova. O budismo tem várias facetas, como ensinou o moderno monge, Buddhadasa Bhikkhu, que fundou o Wat Suan Mokkh. O que eu vislumbrei com a meditação, é apenas a ponta de um iceberg que ele intitula de Budismo-Verdade:
Uma verdade profunda e escondida embaixo da superfície, invisível ao homem normal. Enxergar essa verdade é saber intelectualmente o vazio de todas as coisas, a transigência, insatisfação e descentralização egocêntrica de todas as coisas; saber intelectualmente a natureza do sofrimento, a completa eliminação dele e o caminho de se conseguir sua completa eliminação; perceber isso nos termos da verdade absoluta, do tipo que nunca muda e que todo mundo deve saber”Ou seja, palavra nenhuma vai te ensinar essa “verdade absoluta” mas somente você, com seus próprios meios, poderá chegar a ela. Isso é diferente do budismo-religião, que é baseado em sistemas e práticas que como toda religião tem como fim te libertar do sofrimento.

Um pouco de diversão

Já o budismo como psicologia nos foi apresentado de forma quase comercial. Em um dos horários dedicados à mensagem dos monges, uma senhora palestrante, Supawan Green, que passava pela região conseguiu autorização para nos passar sua mensagem. Já era o quarto ou quinto dia do retiro quando ela com sua apresentação “sofisticada” quebrou o silêncio e monotonia do lugar. Alguns a receberam com muita satisfação, outros a consideraram como um distúrbio para concentração. Eu fiquei em cima do muro, mas me divertindo com sua apresentação que envolvia personagens como Tom e Jerry e Power Rangers. Ela precisou de voluntários para explicar sua teoria(na verdade o que Buddha ensinou sobre a natureza da mente), fez a gente rir, ficar de pé, aplaudir e no fim ela inocentemente acrescentou: “Quem quiser saber mais sobre esse fundamento (que era tudo que a gente tinha que saber, segundo ela) meus livros estarão disponíveis…” Na mesma hora, Alexandre, um português levantou e quebrando o código do silêncio perguntou enfurecido confrontando a senhora: “Você esta usando esse espaço para vender seus livros?”
Eu entendo que ela tinha a melhor das intenções, mas eu tive que dar razão para o português. Wat Suan Mokkh é um lugar incrível especificamente por fazer um trabalho tão elaborado, com uma estrutura física e organização de tirar o chapéu, tudo sem qualquer fim lucrativo. As doze noites “all inclusive” no monastério custam 2000 baht, pouco mais de 100 reais, e eu tenho certeza, se você não puder pagar eles não vão te recusar de participar do retiro. Ainda assim, no fim do retiro, vários livros estavam disponíveis completamente gratuitos para todos os participantes. (Incluso da senhora palestrante!) Passar alguns dias num lugar assim e de repente ver alguém tentando vender alguma coisa lá dentro, foi com certeza um choque pra muita gente e principalmente para o português que estava fazendo o retiro pela terceira vez e sabia bem que aquela palestra não estava nos scripts do programa do Wat Suan Mokkh.

Tom e Jerry
“Com uma mente quieta você pode ouvir a grama”

O que a senhora explicou usando Tom’s e Jerry’s é basicamente o seguinte: Nossa existência é baseada em cinco agregados: O eu-físico, eu-sentimentos, eu-memórias, eu-pensamentos e eu-mente, sendo uma parte massa e quatro energias. Entender o relacionamento dessas cinco naturezas de nossa existência e suas inter-relações, sendo o corpo: o servente, e a mente: o chefe, a gente chegaria no núcleo de todos os problemas na Terra e nos levaria a uma cura efetiva na redução de sofrimentos e paz interior. Parece pretensioso? Foi ideia do próprio Buda! Tudo parece depender de como deixamos nossos pensamentos, sentimentos e memórias agir na nossa cabeça.
A parte prática disso tudo vem exatamente com o sucesso na experiência da meditação. Sabe aquela sensação boa que eu experimentei quando meditei pela primeira vez no terceiro dia? Não tem sido fácil repeti-la. E parece que está ligado justamente ao fato de eu ter criado uma expectativa de algo que é bom, e a minha busca por aquele prazer acaba impedindo que eu atinja o nível de concentração que consegui naquele dia. Mas independente de onde eu cheguei com a meditação (e onde vou chegar), a experiência de ter o silêncio como uma potente ferramenta para enxergar e ter a consciência de um mundo que eu nunca tinha enxergado antes valeu bem todo o esforço de viver como um monge budista, mesmo que por poucos dias. E ainda que eu entorte os olhos para o budismo-religião, sei que estou apenas começando a colher os frutos do que eu aprendi do budismo como psicologia, cultura, arte e até mesmo como código moral. A conclusão de tudo isso talvez seja até bem simples: Na nossa vida nenhum momento é insignificante o suficiente para ser taxado de ordinário ou comum. (Ainda mais quando um monge aceita nosso convite para tomar um sorvete! Mas isso é outro segredo…)

A prova de um segredo… ao meu lado. Estou de boné.

Como participar:

O retiro do silêncio/meditação começa no primeiro dia de cada mês durante todo o ano e dura 11 dias. O registro tem que ser feito pessoalmente no último dia do mês anterior. Para mais informações acesse o site do monastério nesse link.
Onde: Perto de Chaya, no sul da Tailândia.
Como chegar: De Bangkok da para chegar de ônibus ou trem. Escolhemos ir no trem noturno que leva umas 10 horas. O trem é simples, mas da para ir deitado dormindo em uma beliche se você escolher essa opção.
Preço: 2000 Bahts (Aproximadamente R$140 – Jan 2014). Inclui 11 dias/10 noites de “acomodação” em quarto privado, e todas refeições inclusas. (TODAS! Uma café da manhã as 8:00 e almoço ao meio dia e um chá no fim da tarde)
Não se esqueça: De levar papel higiênico! Aliás é bom levar um com você em todos os lugares na Ásia se não quiser se limpar no estilo asiático. (Papel higiênico nessas bandas geralmente é usado só como guardanapo). Repelente de mosquito é indispensável se quiser sair vivo, mas isso você encontra em todas as esquinas. Levar calças/shorts que cubram o joelho. Por cerca de 5 reais é possível encontrar o que os locais usam em Chaya ou na entrada do monastério.
Melhor época: Entre Maio e Novembro. De Dezembro a Abril o número de participantes supera a capacidade do monastério. Novembro é o mês que mais chove e foi o mês da minha visita, mas a chuva não chegou a incomodar.
Quem pode ir: Todo mundo que possa compreender comandos básicos em inglês e estão propostos a respeitar as regras do monastério.

Algumas fotos mais:
Trem no vilarejo de Chaya


Assim que chegamos no monastério principal, fomos explorar a área. No meio de uma natureza exuberante, não muito diferente de muitas matas no Brasil, algumas placas com escritas totalmente inelegíveis e outras com imagens esculpidas em pedras com aparência bem antiga nos dava a sensação de estarmos caminhando em alguma civilização esquecida e consumida pela mata.

Um menininho curioso com a minha câmera e a ilustração da roda da vida do budismo ao fundo.

Com todas as placas nos caracteres exóticos da escrita tailandesa e sem nenhuma pessoa falando inglês levamos um certo tempo para achar, a um quarteirão da estação de trem, essa camionete que nos levaria até o monastério.

Alojamento coletivo gratuito do monastério, praticamente no meio da floresta . Você pode se hospedar aqui enquanto aguarda o dia da inscrição ou pode vir para cá depois do retiro. Sobre uma plataforma estendida de madeira cada um estende sua rede mosqueteira demarcando seu espaço.

O banheiro, na parte de fora, seguia o padrão asiático, com um buraco no chão e amplas janelas no monastério principal.

No 11º dia, após o período de silêncio, você pode fazer uma visita guiada por um monge no monastério principal e conhecer o que eles chamam de “Teatro Espiritual”, onde várias pinturas te fazem questionar a vida e fazem críticas às religiões e até mesmo ao budismo, como nessa foto abaixo:
As religiões de todo o mundo parecem ter uma taxa a ser paga para entrar no paraíso. Até o budismo? Pintura de autocrítica numa das paredes do monastério.


Muitos monastérios budistas mantém caveiras para lembrarmos diariamente da natureza impermanente de todas as coisas, inclusive nós seres humanos.


“Jesus pregando a não-violência e seus seguidores matando uns aos outros com suas guerras e culto à riqueza”

“Buda condenava a tirania sacerdotal”


Roda da vida







Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O que fazer quando se quebra um preceito?

Angulimala, a história de um assassino até a Iluminação

O estágio de Sotapanna - Como alguém pode saber se foi alcançado?