Dicas para iniciantes no Budismo


Se você está iniciando sua busca pelo Budismo agora ou há pouco tempo, aí vão alguns conselhos para não cair em armadilhas.

1- Busque ler os sutras. Inicie sua leitura pelos Nikayas (coleção mais antiga de sutras em língua Páli). Esses textos podem ser achados em português (Acesso ao Insight) . Eles são divididos em “Digha Nikaya” (coleção de discursos longos), “Majjhima Nikaya” (coleção de discursos médios), “Samyutta Nikaya” (coleção de discursos conectados) e “Khuddaka Nikaya” (coleção de discursos menores). Lá você encontrará os ensinamentos fundamentais do Budismo como as Quatro Nobres Verdades, os Doze Elos da Co-Originação Interdependente e a moralidade budista básica. Também poderá aprender as técnicas mais elementares de meditação.

2- Não confunda o Budismo Antigo com a Escola “Theravada” (que foi fundada no século IV da Era Cristã). São duas coisas completamente diferentes.

3- Leia também o “Dhammapada” (também encontrado no site Acesso ao Insight), que são lições fundamentais para a compreensão do Budismo.

4- Quando já estiver com uma boa base do conteúdo dessas obras recomendadas, procure estudar um pouco sobre simbolismo e mitologia em geral. Autores como René Girard, Ernst Cassirer, Mircea Eliade e Julius Evola são bastante recomendáveis.

5- Se quiser aprender sobre a história do Budismo, você deve procurar a obra em dois volumes chamada “ A Espiritualidade Budista”. Nesta obra existem diversos textos de diversos autores explorando a história e os conceitos do Budismo. Há também uma obra menor chamada “Breve História do Budismo” e um livrinho bem conhecido chamado “ A Doutrina de Buda”. Esses textos podem ajudá-lo a ter uma boa perspectiva de como o Budismo se desenvolveu.

6- Fuja de fanáticos que vem lhe chamar para uma “reunião budista especial” ou para uma “palestra de budismo”. Fuja de qualquer um que lhe diga que o Budismo acredita em “reencarnação”, que o Budismo vai resolver seus problemas pessoais ou financeiros, que o Budismo é parecido com o espiritismo, que a “energia do universo” faz isso, aquilo ou aquilo outro.

7- Fuja de misturebas. Se perceber que alguém que se diz budista mistura idéias cristãs, misticismo “New Age”, cromoterapia, reiki, terapias “holísticas” ou outras coisas do gênero com Budismo, dê no pé.

8- Fuja de devoção. Qualquer lugar onde veneram demais alguma coisa ou alguma pessoa (a quem chamam de “Mestre”) é altamente suspeito. Fuja de adorações a espíritos de mortos (chamados dentro da colônia japonesa de “missa”) e dos templos que fomentam esses espetáculos.

9- Não se submeta a maus tratos nos templos. Se for visitar um templo e um asiático ou qualquer um te tratar mau, não volte mais. O Budismo não é propriedade dos asiáticos, mas sim parte do pensamento Indo-Ariano. O português é uma língua mais próxima do sânscrito e do páli que o japonês ou o chinês. A etnia do Buda histórico é mais próxima dos ocidentais do que dos orientais, sendo assim, não se sinta “estrangeiro” e nem se submeta a amarelos arrogantes.

10- Não confie em “mestres” ou “professores” que vivem cheios de discípulos com cara de bicho-grilo. Não engula a conversa do “pacifismo” ou da “inter-religiosidade”. Isso não é Budismo!

11- Fuja das idéias da “Sociedade Teosófica” ou de tudo aquilo que eles chamam de “budismo”. Não acredite também em “Lamas” que conferem iniciações de “baciada” ou onde ficam recitando mantras ininteligíveis ou discursinhos repetitivos sobre “compaixão”.

12- Não se submeta a cultos onde você não entende o que estão recitando ou falando. Não acredite no papo de que “o Budismo é irracional” ou que você deve ficar olhando uma parede, com as costas doendo e as pernas formigando pois isso não é “meditação”. Isso é conversa fiada.

13- Fuja dos estereótipos ligados ao Budismo ou ao pensamento oriental.

14- Desconfie sempre que falarem em “doação”. Em geral, vão falar em “doação para a meditação”, “doação para a palestra”, “doação para o monge” ou coisa semelhante. Isso é um golpe velho. Com o tempo vão fazer você se sentir obrigado a pagar.

15- Fuja de “Budismo para empresários”, “Meditação para o trabalho”, “aumento de produtividade baseada no Budismo”, “Budismo e saúde” ou outras muambas do gênero. Não compre gato por lebre! Budismo não é auto-ajuda.

16- Use seu senso crítico ao máximo. Desconfie sempre. Não interessa se o sujeito na sua frente está cheio de títulos ou é autorizado pelo fulano ou sicrano. Desconfie, compare com os sutras, pense, nunca acredite de cara em ninguém. Não se deixe impressionar por carecas, roupas cerimoniais e templos grandes e majestosos. Use sua cabeça!

17- Se quiser praticar com seriedade em comunidade, busque um lugar onde você não precisa rejeitar sua racionalidade, sua própria cultura e nem esvaziar seus bolsos.

18- Não creia cegamente em nada nem em ninguém. Buda não está fora de você. Sua mente é Buda. Sendo assim, você não precisa de ninguém para servir como um "intermediário". Um mestre pode ser muito útil, mas não é indispensável. O Buda Shakyamuni se iluminou sozinho. Um verdadeiro mestre é um bom amigo que está um pouco mais "calejado" no Caminho e que pode dar dicas importantes que vão facilitar sua vida. No entanto, por melhor que seja o mestre, ele não poderá fazer nada por você. Ele não vai te carregar nas costas e nem te conferir "poderes mágicos" ou "bençãos". Se você não caminhar com as próprias pernas, ficará parado, ainda que o mestre fique gritando na sua orelha para que você ande. Se você não seguir os conselhos do mestre, o papel do mestre é inútil. O mestre não é um enfeite para você colocar num quadro e adorar. É só um bom amigo que aceitou ajudá-lo. Se você não quiser se curar, as prescrições de um médico ou os remédios fechados dentro da embalagem não poderão fazer nada por você. Da mesma forma, não adianta ler livros sobre o Dharma, sutras etc., e não aplicar os ensinamentos em sua vida. Não adianta nada se dizer "budista" no templo e virar um zombador dos ensinamentos de Buda com seus atos quando está fora do templo. Não adianta falar em "compaixão" devorando o cadáver de um animal na churrascada. Não adianta falar em "respeito à vida" no meio da pescaria. Não adianta falar em "moralidade" olhando a bunda de uma mulher (que não a sua) ou se insinuando para um homem (que não é seu marido). Não adianta admirar a ascese do Buda se você é um bunda-mole que não consegue renunciar a nada, nem a um copo de cerveja. Em resumo, Budismo não é fantasia, delírio místico ou coisa parecida. Não é uma religião para fracos, indefesos ou coitados cheios de auto-piedade.

Você deve levar em consideração: O embasamento nos sutras, a fidelidade em relação ao que os sutras e os shastras (tratados) ensinam, a manutenção dos pontos básicos do Budismo (Três Refúgios, Quatro Nobres Verdades, Cinco Preceitos, Quatro Selos do Dharma) em todos os ensinamentos, a não instrumentalização do Budismo para a consecução de objetivos mundanos como graças, favores celestes etc., a não propagação de superstições e crendices em desacordo com os ensinamentos do Buda, a manutenção dos três pilares de sustentação da prática budista (Preceitos, Meditação e Sabedoria), o acesso às fontes escriturísticas sagradas do Dharma e o respeito à sua pessoa e à sua nacionalidade.

Texto de autoria de André Otávio Assiz Muniz. Retirado do blog: 



Comentários

  1. Agradeço por suas palavras. Você não pode imaginar o quanto elas me ajudaram.

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  2. Maravilhoso. Sinto isso. Fui num retiro uma vez e não procurei mais por causa dos mantras em sânscrito. Mas to gostando do Theravada.

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