Livro The life of the Buddha

 Gostaria de citar um raro livro tailandês sem publicação no Brasil chamado Life of the Buddha, cujo autores são autoridades do Budismo Therava na Tailândia: Sua Alteza Real e Antigo Supremo Patriarca do BudismoPríncipe Vajirañánavarorassa e Sua Santidade o Antigo Supremo Patriarca do Budismo Tailandês, Venerável Pussadeva. Trata-se de uma obra de grande confiabilidade quanto à autenticidade das opiniões formuladas; é um livro que vem sendo utilizado como material didático na Faculdade de Budismo da Universidade Mahámakut, em Bangkok, a principal e maior Faculdade de Budismo na Tailândia e não é encontrado à venda, nem mesmo em lojas especializadas em livros Budistas. Tive o prazer de tomar conhecimento deste livro através do blog Theravadaforall, que compartilhou o seu primeiro capítulo, mas infelizmente o autor do blog perdeu o livro. 
Transcrevo o capítulo um. 

JAMBUDÍPA E O POVO
Desde tempos que se perdem num passado distante, Jambudípa (se pronuncia “djambudípa”) ou Jambudvipa, atualmente a região da Índia, Nepal, Bangladesh etc. era o domínio da tribo do povo Áriyaka. Entretanto eles não eram os habitantes originais da região. Vieram do Norte, atravessando as geleiras do Himalaia e atacaram os Mílakkha, esses sim, povo original de Jambudípa que, cultural e socialmente menos desenvolvidos, foram forçados a fugir para o Sul da região e viram suas terras serem apoderadas pelos invasores.
Com grande poder militar e alto senso de administração, uma vez conquistada a terra, os Áriyakas puderam se estabelecer e prosperar em todos os aspectos, inclusive na construção e administração de grandes cidades.
Jambudípa ficou assim dividida, aproximadamente, em duas grandes regiões, uma se chamou Majjhima Janapada (“madjíma djanapáda”) ou País do Meio e Paccanta Janapada (“patchtchánte djanapáda”) ou País Remoto, a região onde os Mílakkha, derrotados, conseguiram se acomodar.
As fronteiras dessas regiões eram, entretanto, muito instáveis, uma vez que eram determinadas pela expansão militar dos novos reinos que se formaram e seus nomes não estão totalmente confirmados nas Escrituras Budistas, sendo conhecidos apenas os principais dentre eles. No tempo do nascimento do futuro Buda, no entanto, eram conhecidos formalmente os seguintes reinos: Ánga, Magádha, Kássi, Kôssala, Vájí, Málla, Ceti (“tchêti”) Varíssa, Kurú, Pañcála (“pantchála”), Máccha (“mátchtcha”), Surassêna, Ássaka, Ávanti, Gandhára e Kamboja. Mas, em algumas Escrituras Buddhistas, são mencionados outros cinco reinos: Sákka e Kolya (ambos formadores do Clã do Buddha, como veremos depois), Bhágga, Vidêha e Anguttarápa.
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Todos esses reinos, quando pequenos, eram governados por um Rajá e os maiores, formados através da anexação por guerra, tinham como líder um Mahá Rajá (grande rei, de onde vem a palavra “marajá” em nosso idioma). Assim, às vezes eram independentes, outras vezes dominados por outro reino maior e se tornavam estados sob domínio de um conquistador.
Já nessa época a sociedade local era dividida em quatro principais castas: Os Reis e militares formavam a mais alta, os Brahmins (sacerdotes) e os sábios intelectualizados, encarregados da educação e de ensinar as Escrituras Védicas, pertenciam à segunda. Comerciantes e trabalhadores do ramo de mercadorias e também os fazendeiros e proprietários de terras formavam a terceira casta, enquanto que os trabalhadores braçais, escravos e todo tipo de atividade considerada inferior, formava a casta dos “Intocáveis”, como até hoje existe na Índia.
É fundamental para o entendimento do leitor, entender que o povo daquela região, mesmo na época, já possuía um elevado senso de religiosidade, filosofia, estrutura social, valores éticos etc. Grandes Mestres e pensadores já propagavam vários tipos de doutrina e tinham milhares de seguidores por toda a região. Isso implicava em brigas, debates e tentativas constantes de roubar seguidores uns dos outros, aumentando seu número de devotos.
Conceitos como Kamma (Karma), Renascimento e Samsara já existiam como totalmente aceitos por vários sábios, mesmo que pertencentes a diversas seitas.
Não importa que tipo de prática adotassem, as seitas e cultos da época se voltavam para dois objetivos principais: O Conquistador Universal ou O Buda. A prática do Conquistador Universal consistia de vários rituais e práticas que, dentro da crença da época, transformaria o praticante num rei forte e experiente, capaz de conquistar todos os reinos conhecidos de Jambudípa, um líder político poderoso e rico.
Outros, porém, não tinham esse tipo de ambição e suas seitas e religiões praticavam rituais que fizessem do seguidor um ser totalmente iluminado, ou seja, um buda. Eram esses os dois principais objetivos de toda prática existente na região de Jambudipa.
Numa das tentativas de transformar alguém em um Conquistador Universal, havia o ritual de sair cavalgando um cavalo branco, no meio da noite e ir até a beira de um rio onde o praticante, após executar algum tipo de magia, se transformaria no Conquistador Universal.
Todos os tipos de monge, seguindo as práticas mais absurdas, perambulavam por todos os reinos, uns andando totalmente nus, outros mendigando alimento, ou andando constantemente com os braços erguidos, vivendo como animais, em cavernas ou ao ar livre nas florestas… O objetivo comum era alcançar a Iluminação e não faltavam seres que se diziam grandes mestres e capazes de conduzir seus seguidores ao Nibbána, outro conceito já estabelecido muito antes do Buda nascer.
Para a grande parte da população, entretanto, o Hinduismo em várias formas de seita predominava, sob a liderança dos Brahmins, líderes religiosos que faziam todo tipo de rituais necessários para a vida da sociedade e eram os senhores absolutos da verdade, profundos conhecedores das Escrituras Védicas e responsáveis por toda atividade religiosa.
Foi nesse ambiente tão complexo quanto diversificado que se formou o Clã de onde nasceu o futuro Buda.



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