Estudo aprofundado sobre o Kamma parte 2 - Sobre o bom e o mau
O problema do bom e do mau
Como kamma está diretamente relacionado com o bom e o mau, qualquer discussão sobre kamma tem que incluir também uma discussão sobre o bom e o mau. Os padrões para definir o bom e o mau, no entanto, não estão isentos de dificuldades. O que é “bom” e porque é assim? O que é que chamamos de “mau” e porque é assim? Essas dificuldades na verdade são um problema de linguagem. Nos ensinamentos do Buda, que estão fundamentados em Pali, o significado é muito mais claro, como será demonstrado a seguir.
As palavras “bom” e “mau” possuem significados bastante amplos e em particular a palavra “bom,” usada com mais frequência do que “mau.” Diz-se que uma pessoa virtuosa e moral é boa; uma comida deliciosa é chamada de “boa” comida; um pedaço de madeira que tem alguma utilidade pode ser chamado de um “bom” pedaço de madeira. Além disso, algo que seja bom para uma pessoa pode não sê-lo para muitas outras. Visto por um ângulo, uma certa coisa pode ser boa, mas, se vista por outro ângulo pode não ser.
Um comportamento considerado bom em uma área, região ou sociedade, pode ser considerado ruim em outra. Parece, por esses exemplos, que existe uma certa divergência. Pode ser necessário considerar a palavra “bom” sob diferentes pontos de vista, tal como bom com um sentido hedonista, bom com um sentido artístico, bom com um sentido econômico e assim por diante. A razão para essa divergência é uma questão de valores. As palavras “bom” e “mau” podem ser usadas em diferentes sistemas de valores o que faz com que o seu significado seja bastante amplo.
No nosso estudo sobre o bom e o mau, os seguintes pontos devem ser observados:
(a) Nosso estudo será feito sob a perspectiva da lei de kamma, assim estaremos usando os termos especializados kusala e akusala ou hábil e inábil, benéfico e prejudicial, que possuem um significado bastante preciso.
(b) Kusala e akusala, na ética Budista, são qualidades da lei de kamma, portanto nosso estudo está ajustado a esse contexto e não a um conjunto de valores sociais que com frequência são referidos com as palavras “bom” e “mau.”
(c) Como mencionado no Primeiro Capítulo, a operação da lei de kamma está relacionada com outras leis. Especialmente, no que diz respeito à vida interior do indivíduo, kammaniyamainterage com as leis psicológicas (cittaniyama), enquanto que externamente ela está relacionada com a Preferência Social.
O significado de kusala e akusala
Embora kusala e akusala sejam algumas vezes traduzidos como “bom” e “mau,” isso pode levar ao erro. As coisas que são kusala nem sempre serão consideradas boas, enquanto que algumas coisas podem ser akusala e ainda assim não serão em geral consideradas como ruins. A melancolia, preguiça e distração, por exemplo, embora sejam akusala, não são sempre consideradas como “ruins.” Da mesma forma, algumas formas de kusala, tal como a calma corporal e mental podem não ser prontamente tomadas como parte do entendimento geral da palavra “bom”.
Kusala resultados na mente e a partir daí para as ações externas e características físicas. Portanto, os significados de kusala e akusala enfatizam o estado, o conteúdo e os eventos mentais como base deles.
Kusala resultando em sofrimento. Em suma, se refere àquelas condições que fazem com que a mente degenere tanto em termos de qualidade como eficiência, ao contrário de kusala que promove a qualidade e eficiência da mente.
Para aclarar um pouco mais esses conceitos, é recomendável revisar a descrição, encontrada nos Comentários, dos atributos de uma mente boa, aquela que é saudável e isenta de problemas e depois considerar se as condições kusala de fato induzem a mente a ser dessa forma e, se assim for, como fazem isso. Poderemos então considerar se as condições akusala privam a mente de tais estados e como fazem isso.
Para facilidade de referência, as várias características de uma mente boa, aquela que é saudável e isenta de problemas, encontradas nos Comentários, podem ser compiladas em grupos da seguinte forma:
1. Firme: decidida, estável, imóvel, sem distrações.
2. Pura e Limpa: sem manchas, imaculada, luminosa.
3. Clara e livre: sem restrições, livre, transcendente, ilimitada.
4. Adequada para o trabalho: flexível, leve, maleável, paciente.
5. Calma e satisfeita: relaxada, tranquila, satisfeita.
Tendo analisado as qualidades de uma mente saudável, poderemos agora considerar as qualidades que são conhecidas como kusala e akusala, verificando como afetam a qualidade da mente.
Alguns exemplos de condições kusala são: sati, atenção plena ou memória, a habilidade de manter a atenção em qualquer objeto ou tarefa na qual a mente esteja engajada; metta, amor bondade ou boa vontade; não cobiça, ausência de desejo e apego (incluindo pensamentos altruístas); sabedoria, clara compreensão de como as coisas na verdade são; calma, tranquilidade e paz; kusalachanda, zelo ou contentamento com o bem; o desejo de compreender e agir de acordo com a verdade; e contentamento pela boa fortuna dos outros.
Quando existe boa vontade, a mente está feliz, alegre e límpida naturalmente. Essa é uma condição benéfica para a psique, suportando a qualidade e eficiência da mente. A boa vontade portanto é kusala. Sati possibilita que a atenção permaneça com o que quer que seja que a mente esteja envolvida ou engajada, lembrando a ação adequada que deve ser tomada e ajudando a prevenir que condições akusala surjam, permitindo assim que a mente trabalhe de forma mais efetiva. Sati portanto é kusala.
Exemplos de condições akusala são: desejo sensual; má vontade; preguiça e torpor; inquietação e ansiedade; dúvida [7], raiva, inveja e avareza.
A inveja faz com que a mente se torne malévola e opressiva, claramente prejudicando a qualidade e a saúde da mente. Portanto ela é akusala. A raiva incita a mente de tal modo que rapidamente afeta até mesmo a saúde do corpo e portanto é claramente akusala. O desejo sensual confunde e obceca a mente. Isso também é akusala.
Tendo estabelecida a compreensão das palavras kusala e akusala, estamos agora prontos para compreender o kamma bom e ruim, ou kusala kamma e akusala kamma. Como já foi mencionado, a intenção é o cerne de kamma. Portanto uma intenção que contenha condições kusala é hábil e uma intenção que contenha condições akusala é inábil. Quando essas intenções hábeis ou inábeis são convertidas em ações através do corpo, linguagem ou mente, elas são conhecidas como kamma hábil ou inábil através do corpo, linguagem e mente respectivamente, ou como alternativa, kamma corporal, kamma verbal e kamma mental que são hábeis ou inábeis conforme for o caso.
Kusala e akusala como catalisadores mútuos
Um ato de fé ou generosidade, a pureza moral ou mesmo uma experiência de insight durante a meditação, todas condições kusala, podem precipitar o surgimento da presunção, orgulho e arrogância. A presunção e o orgulho são condições akusala. Esta situação é conhecida como “kusala agindo como agente para akusala.” A prática da meditação pode levar a estados de intensa concentração mental (kusala), que por seu lado podem conduzir ao apego (akusala). O desenvolvimento de pensamentos de amor bondade e benevolência com relação aos outros (kusala) pode, com a presença de um objeto desejável, precipitar o surgimento da cobiça (akusala). Esses são exemplos de kusala agindo como um agente para akusala.
Algumas vezes a prática da virtude ou da meditação (kusala) podem estar baseadas no desejo de renascer no paraíso (akusala). O bom comportamento de uma criança (kusala) pode estar baseado no desejo de se mostrar para os mais velhos (akusala); o zelo de um estudante em aprender (kusala) pode ser derivado da ambição (akusala); a raiva (akusala), vista sob a perspectiva dos seus efeitos danosos, pode conduzir à atenção com sabedoria e ao perdão (kusala); o medo da morte (akusala) pode encorajar a introspecção (kusala): esses são exemplos de akusala como um agente para kusala.
Um exemplo: os pais de um adolescente o advertem que as companhias dele exercem uma má influência, mas ele não lhes dá atenção e é seduzido pelo vício das drogas. Ao compreender a sua situação ele primeiro fica com raiva e deprimido e depois, lembrando do alerta dos pais, ele se sente comovido pela compaixão deles (akusala como agente para kusala), mas isso, por sua vez, apenas agrava a raiva que sente por si mesmo (kusala como agente para akusala).
Essas mudanças de kusala para akusala ou akusala para kusala ocorrem com tanta rapidez que a mente destreinada raramente é capaz de notá-las.
Avaliando kamma bom e ruim
Foi mencionado que a lei de kamma possui uma relação bastante íntima com ambas, as leis psicológicas e a preferência social. Essa afinidade pode criar mal entendidos com facilidade. A lei de kamma está relacionada com as leis psicológicas de forma tão próxima que parecem ser a mesma coisa, mas existe uma clara linha divisória entre as duas, que é a intenção. Essa é a essência e força motivadora da lei de kamma e é o que proporciona à lei de kamma o seu nicho distinto entre os outros niyama ou leis. Cittaniyama, por outro lado, governa todas as atividades mentais, incluindo as não intencionais.
A intenção humana, através da lei de kamma, possui o seu próprio papel distinto dos demais niyama, dando origem à ilusão de que os seres humanos são independentes do mundo natural. A intenção precisa contar com a mecânica de cittaniyama para poder funcionar e o processo de criar kamma precisa operar dentro dos parâmetros de cittaniyama.
Usando a analogia de um homem pilotando um barco a motor, o “piloto” é a intenção, que é a esfera de atividade da lei de kamma, enquanto que o motor do barco pode ser comparado aos fatores mentais que são função de cittaniyama. O piloto depende do motor do barco. No entanto, para que o “motor do barco” possa conduzir o “barco,” isto é, para que a mente dirija a vida e o corpo para qualquer direção, ela depende inteiramente do arbítrio do “piloto,” a intenção. O piloto depende do barco e o utiliza, mas também toma a responsabilidade pelo bem estar de ambos, barco e motor. Da mesma forma, a lei de kamma depende de cittaniyama e a utiliza e também toma a responsabilidade pelo bem estar da vida, incluindo ambos, o corpo e a mente.
Não existe tanta confusão sobre a relação entre a lei de kamma e cittaniyama, principalmente porque essas são coisas pelas quais a pessoa comum não tem um grande interesse. O tema que cria mais confusão é a relação entre a lei de kamma e a Preferência Social e essa confusão gera ambiguidade com relação à natureza do bom e do mau.
Com frequência ouvimos as pessoas dizerem que o bom e o mau são invenções humanas ou sociais. Uma ação numa sociedade, época ou lugar, pode ser considerada boa, mas em outra época e lugar será considerada má. Algumas ações são aceitáveis numa sociedade, mas não em outra. Por exemplo, algumas religiões ensinam que matar animais para alimento não é mau, enquanto que outras ensinam que causar dano aos seres de qualquer tipo nunca é bom. Algumas sociedades creem que uma criança deve mostrar respeito aos mais velhos e que discutir com eles são maus modos, enquanto que outras creem que o respeito não depende de idade e que as pessoas devem ter o direito de expressar as suas opiniões.
Dizer que o bom e o mau são questões da preferência humana e decreto social é verdade até certo ponto. Mesmo assim, o bom e o mau da Preferência Social não afetam ou desordenam a mecânica da lei de kamma sob nenhum aspecto e não devem ser confundidos com ela. “Bom” e “mau” como convenção social devem ser reconhecidos como Preferência Social. Quanto a “bom” e “mau” ou de forma mais correta, kusala e akusala, as qualidades da lei de kamma, estas devem ser reconhecidas como atributos da lei de kamma. Muito embora ambas estejam relacionadas, elas são de fato separadas e possuem distinções bastante claras.
Aquilo que é ao mesmo tempo a relação e o ponto de diferença entre essa lei da natureza e a Preferência Social é a intenção ou volição. Quanto à forma como isso ocorre, consideremos o seguinte.
Em relação à lei de kamma, as convenções da sociedade podem ser divididas em dois tipos:
1. Aquelas que não possuem relação direta com kusala e akusala.
2. Aquelas que estão relacionadas com kusala e akusala.
Aquelas convenções que não possuem relação direta com kusala e akusala são os valores aceitos ou pactos que são estabelecidos pela sociedade para uma função social específica, tal como permitir que as pessoas vivam juntas em harmonia. Elas podem de fato ser instrumentos para criar a harmonia social ou não. Elas podem de fato ser úteis para a sociedade ou podem na verdade causar dano. Tudo depende se essas convenções foram ou não estabelecidas com suficiente compreensão e sabedoria e se a autoridade que as estabeleceu está agindo ou não com a intenção pura.
Esses tipos de convenções podem assumir várias formas, tais como tradições, costumes ou leis. “Bom” e “mau” nesse contexto são estritamente assuntos de Preferência Social. Elas podem mudar de vários modos, mas as suas mudanças não são função da lei de kamma e não devem ser confundidas com ela. Se uma pessoa desobedecer essas convenções e for punida pela sociedade, isso também é um assunto da Preferência Social, não da lei de kamma.[8]
Consideremos agora uma área em que essas preferências sociais podem coincidir com a lei de kamma, tal como quando um membro de uma sociedade se recusa a obedecer uma das suas convenções ou a transgride.[9] Ao agir assim, aquela pessoa estará agindo de acordo com certa intenção. Essa intenção é o primeiro passo e portanto diz respeito à lei de kamma. Em muitas sociedades haverá o esforço de identificar essa intenção para averiguar a qualidade da ação. Isso novamente é um tema da Preferência Social, indicando que aquela sociedade em particular sabe como empregar a lei de kamma. Essa consideração da intenção pela sociedade não é no entanto, em si mesma, função da lei de kamma. (Isto é, não é uma conclusão conhecida de antemão pois nem sempre o comportamento ilegal é punido. No entanto, quer as ações sejam punidas ou não elas são kamma no sentido de que são ações volitivas e irão produzir resultados).
Quanto ao papel particular da lei de kamma, não obstante a sociedade investigar a intenção ou não, ou mesmo se a sociedade estiver ciente da transgressão ou não, a lei de kamma funciona imediatamente após a ocorrência da ação e o processo de fruição já terá sido colocado em movimento.
Colocando de forma simples, o fator decisivo na lei de kamma é se a intenção é kusala ou akusala. Na maioria dos casos, desobedecer alguma Preferência Social pode ser dito que não constitui uma transgressão intencional somente quando a sociedade concorda em abandonar ou modificar aquela convenção. Só então, não haverá transgressão do pacto público.
Isso pode ser ilustrado com um exemplo simples. Suponha que duas pessoas decidam viver juntas. Para que a vida delas, juntas, seja a mais tranquila e conveniente possível, elas concordam em estabelecer um conjunto de regras: embora trabalhem em lugares diferentes e regressem do trabalho em horários diferentes, elas decidem jantar juntas. Como seria impraticável que uma esperasse pela outra indefinidamente, elas concordam que cada uma não deveria comer antes das sete horas da noite. Dessas duas pessoas, uma gosta de gatos e não gosta de cães, enquanto que a outra gosta de cães e não gosta de gatos. Para o bem estar comum, elas concordam em não ter animais de estimação na casa.
Tendo concordado com essas regras, se alguma dessas duas pessoas agir em desacordo com elas, haverá o caso de uma transgressão intencional e o kamma surgirá, bom ou mal, de acordo com a intenção que a tenha instigado, muito embora jantar antes das sete horas da noite ou ter animais de estimação na casa não seja em si mesmo bom ou mal. Um outro casal poderá até estabelecer regras que sejam diretamente opostas a essas. E na eventualidade de alguma dessas pessoas considerar que as regras em vigor não mais tragam benefício, elas devem discutir o assunto juntas e chegar a um novo acordo. Só então, uma não conformidade intencional por parte de uma delas estaria livre de resultado kammico. Essa é a distinção entre “bom” e “mau” e “certo” e “errado” como parte das convenções sociais em transformação, ao contrário das propriedades imutáveis da lei de kamma - kusala e akusala.
As convenções sociais que estão relacionadas com kusala e akusala nos valores condenados e encorajados pela sociedade.
A Preferência Social e a lei de kamma são separadas e distintas. Os frutos de kamma surgem de acordo com a sua própria lei, independente de qualquer convenção social com as quais tenha diferenças, tal como mencionado acima. No entanto, como as convenções e a lei de kamma estão relacionadas, praticar ações corretas sob a perspectiva da lei de kamma, isto é, ações que são kusala, podem mesmo assim criar problemas no plano social. Por exemplo, um abstêmio que viva numa sociedade que favoreça as substâncias embriagantes irá receber os frutos de kamma ditados pela lei de kamma – ele não experimenta a perda da saúde e da claridade mental devido às substâncias embriagantes – mas no contexto da Preferência Social, em contraste com a lei de kamma, ele poderá ser ridicularizado e desprezado. E mesmo como parte da lei de kamma poderão surgir problemas do seu antagonismo intencional a essa Preferência Social, sob a forma de estresse mental, que poderá ser maior ou menor dependendo da sua sabedoria e habilidade em se desapegar das reações sociais.
Uma sociedade progressista com administradores sábios utiliza a experiência acumulada de prévias gerações ao estabelecer as convenções e leis da sociedade. Essas se tornam o bom e o mau da Preferência Social e de forma ideal elas deveriam estar correlacionadas com kusala e akusala de kammaniyama. A habilidade em estabelecer as convenções sociais em conformidade com a lei de kamma parece ser uma medida segura para determinar a verdadeira extensão do progresso ou civilização de uma sociedade.
Nesse contexto, se for necessário avaliar qualquer convenção como boa ou má, é melhor considerá-la sob dois aspectos. Primeiro, em termos da Preferência Social, ao determinar se ela traz ou não um resultado benéfico para a sociedade. Segundo, em termos da lei de kamma, determinando se é kusala, benéfica para o bem estar mental.
Algumas convenções, embora sejam mantidas pelas sociedades por longos períodos de tempo, na verdade não são úteis, mesmo sob o ponto de vista da Preferência Social, sem falar sob o ponto de vista da lei de kamma. Tais convenções devem ser abandonadas, o que pode exigir um ser excepcional, com o coração puro, para apontar o seu defeito.
No caso de uma convenção que é vista como benéfica para a sociedade e para o progresso humano, mas que não está em conformidade com kusala da lei de kamma, tal como aquela que acentua o progresso material ao custo da qualidade de vida, vale a pena considerar se as pessoas daquela sociedade não estão desencaminhadas e equivocadas pensando que aquilo que é danoso seja benéfico. Um costume verdadeiramente benéfico deve estar de acordo com ambos, a Preferência Social e a lei de kamma. Em outras palavras, tem que ser benéfico para ambos, o indivíduo e a sociedade como um todo e benéfico em ambos os níveis, material e psíquico.
Com relação a isso podemos aprender com a situação da sociedade no presente. Os seres humanos, acreditando que a abundância de posses materiais seja o caminho para a verdadeira felicidade, aplicam a sua energia no desenvolvimento material. Os efeitos danosos de muitos dos nossos esforços em obter o progresso material apenas agora estão se tornando evidentes. Apesar da aparente prosperidade da sociedade, nós temos criado muitos perigos físicos novos e os problemas sociais e ambientais nos ameaçam numa escala global. Da mesma forma como o progresso material não deve destruir o corpo físico, o progresso social não deve destruir a clareza mental.
O Buda ofereceu um conjunto de reflexões sobre kusala e akusala para avaliarmos no âmbito prático a natureza do bom e do mau, encorajando a reflexão sobre ambos o bom e o mau interior (consciência) e os ensinamentos dos sábios (sendo que ambos são o fundamento da vergonha e temor das transgressões). [10] Em terceiro lugar, ele recomendava a reflexão sobre os frutos das ações, tanto sob a perspectiva individual como social. Como a natureza de kusala e akusala pode nem sempre ser evidente, o Buda nos aconselha a tomar como base os ensinamentos religiosos e éticos, e, se tais ensinamentos não forem claros o suficiente, a analisar o resultado das ações, mesmo que seja apenas sob a perspectiva social.
Para a maioria das pessoas, essas três bases para a reflexão (isto é, sob o ponto de vista do indivíduo, da sociedade e dos ensinamentos dos sábios) podem ser usadas para avaliar o comportamento em inúmeras situações distintas, assegurando que as suas ações sejam tão circunspectas quanto possível.
Portanto, os critérios para avaliar o bom e o mau são: no contexto de se uma ação é kamma ou não, tomar a intenção como fator decisivo; e no contexto de se aquele kamma é bom ou ruim, considerar o assunto de acordo com os seguintes princípios:
Fatores Primários
1. Investigar a origem das ações: se as intenções das quais elas surgiram provêm de uma das raízes hábeis de não-cobiça, não-aversão ou não-delusão ou de uma das raízes inábeis da cobiça, aversão ou delusão.
2. Investigar os efeitos na psique ou bem-estar mental das ações: se elas fazem com que a mente fique límpida, calma e saudável; se elas promovem ou inibem a qualidade mental; se elas encorajam o surgimento de condições hábeis e a redução de condições inábeis ou vice-versa.
Fatores Secundários
1. Considerar se as ações são passíveis de censura pela própria pessoa ou não.
2. Considerar a qualidade das ações sob a perspectiva dos ensinamentos dos sábios.
3. Considerar os resultados das ações:
Em relação a si mesmo
Em relação aos outros
É possível classificar esses padrões de forma diferente, mas antes devemos esclarecer dois pontos. Primeiro, analisar as ações como hábeis ou inábeis em relação às suas raízes ou em si mesmas é em essência a mesma coisa. Segundo, com relação à aprovação ou censura pelos sábios, podemos dizer que tais opiniões sábias estão em geral preservadas nas religiões, convenções e leis. Embora essas convenções nem sempre sejam sábias, e sendo assim, uma prática que conflite com elas não será necessariamente inábil, no entanto, pode ser dito que tais casos são na verdade a exceção e não a regra.
Estamos agora prontos para resumir os nossos padrões de bom e mau, ou kamma bom e ruim, ambos estritamente de acordo com a lei de kamma e também em relação à Preferência Social, respectivamente sob um ponto de vista moral intrínseco e de acordo com a prescrição social.
1. Em relação ao benefício direto ou dano: essas ações são em si mesmas benéficas? Elas contribuem para a qualidade de vida? Elas fazem com que as condições kusala e akusala aumentem ou diminuam?
2. Em relação às consequências benéficas ou prejudiciais: os efeitos dessas ações são prejudiciais ou benéficos para si mesmo?
3. Em relação ao benefício ou prejuízo para a sociedade: essas ações prejudicam ou beneficiam os outros?
4. Em relação à consciência, a capacidade humana reflexiva natural: essas ações serão passíveis de censura pela própria pessoa ou não?
5. Em relação aos padrões sociais: qual é a posição dessas ações em relação àquelas convenções religiosas, tradições, instituições sociais e leis que estão baseadas na reflexão com sabedoria (ao contrário daquelas que são meras crenças supersticiosas ou equivocadas)?
Antes de tratar da questão dos resultados de kamma no próximo capítulo, seria pertinente considerar alguns dos pontos descritos acima à luz do Cânone em Pali.
“O que são condições hábeis (kusala)? Elas são as três raízes da habilidade – não-cobiça, não-aversão e não-delusão; sensações, percepções, formações mentais e consciência, que contêm essas raízes da habilidade; kamma corporal, kamma verbal e kamma mental, que possuem essas raízes como base: essas são as condições hábeis.
O que são condições inábeis (akusala) Elas são as três raízes da inabilidade – cobiça, aversão e delusão – e todas as contaminações que delas surgem; sensações, percepções, formações mentais e consciência, que contêm essas raízes da inabilidade; kamma corporal, kamma verbal e kamma mental, que possuem essas raízes como base: essas são as condições inábeis.”[Dhp 181]
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“Existem dois tipos de perigo, o perigo visível e o perigo velado.
“Quais são os ‘perigos visíveis’? Essas são coisas tais como leões, tigres, panteras, ursos, leopardos, lobos … bandidos … enfermidades do olho, enfermidades do ouvido, enfermidades do nariz ... frio, calor, fome, sede, defecar, urinar, contato com moscas, mosquitos, vento, sol e animais rastejantes: esses são chamados os ‘perigos visíveis.’
Quais são os ‘perigos velados’? Eles são as ações prejudiciais corporais, ações prejudiciais verbais, ações prejudiciais mentais; os obstáculos do desejo sensual, má vontade, preguiça e torpor, inquietação e ansiedade, dúvida; cobiça, aversão e delusão; raiva, vingança, malícia, arrogância, inveja, avareza, fraude, ostentação, teimosia, disputas, orgulho, desprezo, ilusão, negligência; as contaminações, os maus hábitos; confusão; luxúria; agitação; todos os pensamentos que sejam inábeis: esses são os ‘perigos velados.’
Eles são chamados de ‘perigos’ por qual razão? Eles são chamados de perigos porque eles subjugam, causam o declínio, nesse aspecto eles são um refúgio.
Porque eles são chamados de perigos que subjugam? Porque esses perigos suprimem, constrangem, sujeitam, oprimem, molestam e esmagam...
Porque eles são chamados de perigos que causam o declínio? Porque esses perigos produzem o declínio das condições hábeis...
Porque eles são chamados de perigos que são um refúgio? Porque as condições baixas, inábeis nascem dessas coisas e tomam refúgio nelas, tal como um animal que vive num buraco toma refúgio no buraco, um animal aquático toma refúgio na água ou um animal que vive nas árvores toma refúgio nas árvores...”[Nd 112, 360, 467; Nd 2199]
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“Cobiça, raiva, e delusão, surgem do próprio interior, machucam quem tem a mente má tal como a própria flor destrói o bambu.” [SN.I.70,98] (SN III.2)
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“Grande rei, há três coisas que quando surgem numa pessoa surgem para o seu dano, sofrimento e desconforto. Quais três? A cobiça, a raiva, e a delusão. Essas são as três coisas que quando surgem numa pessoa surgem para o seu dano, sofrimento e desconforto.” [SN.I.98] (SN III.2)
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“Bhikkhus, há essas três causas para a origem de kamma. Quais três? A cobiça é uma causa para a origem de kamma, a raiva é uma causa para a origem de kamma, e a delusão é uma causa para a origem de kamma.
(1) "Qualquer kamma criado através da cobiça, nascido da cobiça, causado pela cobiça, originado da cobiça, esse kamma é prejudicial e repreensível e resulta no sofrimento. Esse kamma conduz ao surgimento de kamma, não à cessação de kamma.
(2) "Qualquer kamma criado através da raiva ... (3) Qualquer kamma criado criado através da delusão, nascido da delusão, causado pela delusão, originado da delusão, esse kamma é prejudicial e repreensível e resulta no sofrimento. Esse kamma conduz ao surgimento de kamma, não à cessação de kamma.
“Bhikkhus, há essas outras três causas para a origem de kamma. Quais três? A não-cobiça é uma causa para a origem de kamma, a não-raiva é uma causa para a origem de kamma, e a não-delusão é uma causa para a origem de kamma.
(1) "Qualquer kamma criado criado através da não-cobiça, nascido da não-cobiça, causado pela não-cobiça, originado da não-cobiça, esse kamma é benéfico e irrepreensível e resulta na felicidade. Esse kamma conduz à cessação de kamma, não ao surgimento de kamma.
(2) "Qualquer kamma criado através da não-raiva ... (3) Qualquer kamma criado através da não-delusão, nascido da não-delusão, causado pela não-delusão, originado da não-delusão, esse kamma é benéfico e irrepreensível e resulta na felicidade. Esse kamma conduz à cessação de kamma, não ao surgimento de kamma. [AN.I.263] (AN III.111)
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“Claro que vocês estão confusos Kalamas. Claro que vocês têm dúvidas. Porque a dúvida surge com relação a qualquer assunto que cause a perplexidade. Dessa forma, Kalamas, nesse caso não se deixem levar pelos relatos, pelas tradições, pelos rumores, por aquilo que está nas escrituras, pela razão, pela inferência, pela analogia, pela competência (ou confiabilidade) de alguém, por respeito por alguém, ou pelo pensamento, ‘Este contemplativo é o nosso mestre.’ Quando vocês souberem por vocês mesmos que, ‘Essas qualidades são inábeis; essas qualidades são culpáveis; essas qualidades são passíveis de crítica pelos sábios; essas qualidades quando postas em prática conduzem ao mal e ao sofrimento’ - então vocês devem abandoná-las.
“O que vocês pensam Kalamas? Quando a cobiça surge em uma pessoa, ela surge para o bem ou para o mal?”
“Para o mal, senhor.”
“E essa pessoa que está tomada pela cobiça, sua mente obcecada com a cobiça, mata seres vivos, toma o que não lhe é dado, busca a mulher do próximo, mente e induz outros a fazerem o mesmo, tudo o que resulta é dano e sofrimento por um longo tempo.”
“Sim, senhor”
“E o que vocês pensam, Kalamas? Quando a aversão surge em uma pessoa, ela surge para o bem ou para o mal?”
“Para o mal, senhor.”
“E essa pessoa tomada pela aversão, sua mente obcecada pela aversão, mata seres vivos, toma o que não lhe é dado, busca a mulher do próximo, mente, e induz outros a fazerem o mesmo, tudo o que resulta é dano e sofrimento por um longo tempo.”
“Sim, senhor.”
“E o que vocês pensam, Kalamas? Quando a delusão surge em uma pessoa, ela surge para o bem ou para o mal?”
“Para o mal, senhor.”
“E essa pessoa tomada pela delusão, sua mente obcecada pela delusão, mata seres vivos, toma o que não lhe é dado, busca a mulher do próximo, mente, e induz outros a fazerem o mesmo, tudo o que resulta é dano e sofrimento por um longo tempo.”
“Sim, senhor.”
“Então Kalamas o que vocês pensam. Essa qualidades são hábeis ou inábeis?”
“Inábeis, senhor.”
“Culpáveis ou isentas de culpa?”
“Culpáveis, senhor.”
“Criticadas pelos sábios ou elogiadas pelos sábios?”
“Criticadas pelos sábios, senhor.”
“Quando postas em prática elas conduzem ao mal e ao sofrimento ou não?”
“Quando postas em prática elas conduzem ao mal e ao sofrimento. Assim é como as vemos.”
“Então como eu disse, Kalamas: ‘Não se deixem levar pelos relatos, pelas tradições, pelos rumores, por aquilo que está nas escrituras, pela razão, pela inferência, pela analogia, pela competência (ou confiabilidade) de alguém, por respeito por alguém, ou pelo pensamento, “Este contemplativo é o nosso mestre.” Quando vocês souberem por vocês mesmos que, “Essas qualidades são inábeis; essas qualidades são culpáveis; essas qualidades são criticáveis pelos sábios; essas qualidades quando postas em prática conduzem ao mal e ao sofrimento” - então vocês devem abandoná-las.’ Assim foi dito.”[AN.I.189] (AN.III.65)
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O trecho a seguir foi extraído de uma conversa entre o Rei Pasenadi de Kosala e o Venerável Ananda. Trata-se de uma série de perguntas e respostas relacionadas com a natureza do bom e do mau, onde pode ser observado que o Venerável Ananda emprega todos os padrões mencionados acima.
Rei: Venerável Senhor, Quando pessoas tolas, não inteligentes, falam elogiando ou criticando os outros sem fazer uma consideração cuidadosa, eu não tomo as palavras delas com seriedade. Quanto aos expertos, os sábios e sagazes, que fazem considerações cuidadosas antes de elogiar ou criticar, eu dou importância às palavras deles. Agora, venerável Ananda, que tipo de ação corporal é censurada por contemplativos e brâmanes sábios?
Ananda: Qualquer ação corporal ... verbal ... mental que seja prejudicial, Majestade.
Rei: Que tipo de ação corporal ... verbal ... mental é prejudicial?
Ananda: Qualquer ação corporal ... verbal ... mental que seja culpável.
Rei: Que tipo de ação corporal ... verbal ... mental é culpável?
Ananda: Qualquer ação corporal ... verbal ... mental que traga aflição.
Rei: Que tipo de ação corporal ... verbal ... mental traz aflição?
Ananda: Qualquer ação corporal ... verbal ... mental que tenha resultados dolorosos.
Rei: Que tipo de ação corporal ... verbal ... mental tem resultados dolorosos?
Ananda: Qualquer ação corporal ... verbal ... mental que conduza à própria aflição, ou à aflição dos outros, ou à aflição de ambos, e por conta do qual os estados prejudiciais aumentam e os estados benéficos diminuem; esse tipo de ação corporal ... verbal ... mental é censurada por contemplativos e brâmanes sábios, grande rei.
Em seguida o Venerável Ananda respondeu as perguntas do Rei sobre as condições hábeis da mesma forma, resumindo da seguinte forma:
“Qualquer ação corporal ... verbal ... mental que que não conduza à própria aflição, ou à aflição dos outros, ou à aflição de ambos, e por conta do qual os estados prejudiciais diminuem e os estados benéficos aumentam. Esse tipo de ação corporal ... verbal ... mental não é censurada por contemplativos e brâmanes sábios, grande rei.” [M.II.114] (MN88)
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“Uma pessoa apaixonada, a sua mente atada, subjugada pela paixão ... pela raiva ... pela delusão, não compreende, como na verdade é, aquilo que lhe traz benefício, aquilo que traz benefício para os outros, aquilo que traz benefício para ambos. Mas tendo abandonado a paixão ... a raiva ... a delusão, ela compreende, como na verdade é, aquilo que lhe traz benefício, aquilo que traz benefício para os outros, aquilo que traz benefício para ambos.” [AN.I.216] (AN III.71)
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“Igual ao leite, é a ação prejudicial, que tão lentamente azeda. Mas latente permanece no tolo, como as brasas cobertas por cinzas.” [Dh 71]
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“Quem substitui as ações ruins com ações benéficas ilumina o mundo como a lua liberta das nuvens.” [Dh 173]
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“As ações meritórias praticadas – esse é o amigo na vida futura.” [SN.I.37] (SN I.53)
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"Ananda, eu tenho declarado definitivamente que os atos de conduta corporal imprópria, conduta verbal imprópria, e conduta mental imprópria não devem ser praticados porque agindo assim é de se esperar este perigo: a pessoa culpa a si mesma; o sábio, tendo investigado, a censura; ela ganha má reputação; a pessoa morre confusa; e com a dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no plano da miséria, em um destino ruim, nos mundos inferiores, no inferno …
"Ananda, eu tenho declarado definitivamente que os atos de conduta corporal apropriada, conduta verbal apropriada, e conduta mental apropriada devem ser praticados porque agindo assim é de se esperar este benefício: a pessoa não culpa a si mesma; o sábio, tendo investigado, a elogia; ela ganha boa reputação; a pessoa morre sem estar confusa; e com a dissolução do corpo, após a morte, ela renasce num destino feliz, no paraíso … (AN II.18)
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"Abandonem o que não é hábil, bhikkhus. É possível abandonar o que não é hábil. Se não fosse possível abandonar o que não é hábil, eu não lhes diria ' Abandonem o que não é hábil.' Porém porque é possível abandonar o que não é hábil, eu lhes digo, 'Abandonem o que não é hábil.' Se o abandono do que não é hábil conduzisse ao que é prejudicial e doloroso, eu não diria para vocês, 'Abandonem o que não é hábil.' Mas porque o abandono do que não é hábil conduz ao que é benéfico e prazeroso, eu lhes digo, 'Abandonem o que não é hábil.'
"Desenvolvam o que é hábil, bhikkhus. É possível desenvolver o que é hábil. Se não fosse possível desenvolver o que é hábil, eu não lhes diria 'Desenvolvam o que é hábil.' Porém porque é possível desenvolver o que é hábil, eu lhes digo, 'Desenvolvam o que é hábil.' Se o desenvolvimento do que é hábil conduzisse ao que é prejudicial e doloroso, eu não diria para vocês, 'Desenvolvam o que é hábil.' Mas porque o desenvolvimento do que é hábil conduz ao que é benéfico e prazeroso, eu lhes digo, 'Desenvolvam o que é hábil.'" [AN.I.58] (AN II.19)
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“Bhikkhus, há coisas para serem abandonadas através do corpo, não através da linguagem. Há coisas para serem abandonadas através da linguagem, não através do corpo. Há coisas para serem abandonadas nem através do corpo, nem através da linguagem mas repetidamente vendo através da sabedoria.
“Quais, bhikkhus, são as coisas para serem abandonadas através do corpo, não através da linguagem? Aqui, um bhikkhu praticou algum ato prejudicial com o corpo. Os seus sábios companheiros na vida santa o investigam e dizem: 'Você cometeu um ato prejudicial com o corpo. Seria realmente muito bom se você abandonasse a conduta corporal imprópria e desenvolvesse a conduta corporal apropriada,' Tendo os seus sábios companheiros monges investigado e conversado com ele, ele abandona a conduta corporal imprópria e desenvolve a conduta corporal apropriada. Essas são chamadas as coisas para serem abandonadas através do corpo, não através da linguagem.
“Quais são as coisas para serem abandonadas através da linguagem, não através do corpo? Aqui, um bhikkhu praticou algum ato prejudicial com a linguagem. Os seus sábios companheiros na vida santa o investigam e dizem: 'Você cometeu um ato prejudicial com a linguagem. Seria realmente muito bom se você abandonasse a conduta verbal imprópria e desenvolvesse a conduta verbal apropriada,' Tendo os seus sábios companheiros monges investigado e conversado com ele, ele abandona a conduta verbal imprópria e desenvolve a conduta verbal apropriada. Essas são chamadas as coisas para serem abandonadas através da linguagem, não através do corpo.
“Quais são as coisas para serem abandonadas nem através do corpo, nem através da linguagem mas repetidamente vendo através da sabedoria? A cobiça não é abandonada nem através do corpo, nem através da linguagem, mas repetidamente vendo através da sabedoria. A raiva ... a delusão ... o ódio ... a hostilidade ... a difamação ... a insolência ... a avareza não é abandonada nem através do corpo, nem através da linguagem, mas repetidamente vendo através da sabedoria.”[AN.V.39] ((AN X.23)
Notas:
[7] Essas cinco primeiras qualidades são chamadas de Cinco Obstáculos (nivarana), assim chamados porque são obstáculos ao desenvolvimento da meditação ou da mente luminosa
[8] Exemplos de tais convenções são os códigos sociais de vestuário: antes de entrar num templo Budista na Tailândia, por exemplo, é apropriado remover os sapatos e o chapéu, enquanto que para entrar numa igreja Cristã com freqüência é necessário usar ambos.
[9] Tal como recusar-se a tirar os sapatos num templo Budista ou de usar um chapéu numa igreja Cristã.
[10] Hiri-ottappa: Hiri equivale à vergonha de cometer transgressões ou o auto-respeito, aquilo que nos refreia de cometer atos que colocariam em risco o respeito que temos por nós mesmos;ottappa equivale ao temor de cometer transgressões ou o respeito pela opinião dos outros, o temor saudável de cometer atos inábeis que possam resultar em opiniões desfavoráveis dos outros com relação a nós mesmos.
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